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Natura em: o curioso caso da empresa que 'engoliu a mãe' — estreia hoje, na Bolsa

Companhia recalcula rota de expansão com foco total na própria marca, mas conta com Avon para crescer em mercados ainda pouco penetrados

Natura &Co: IPO da Aesop pode destravar valor para holding (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

Natura &Co: IPO da Aesop pode destravar valor para holding (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

Mitchel Diniz
Mitchel Diniz

Editor de Invest

Publicado em 1 de julho de 2025 às 08h26.

Última atualização em 2 de julho de 2025 às 06h29.

Tem ticker novo no seu home broker a partir desta quarta-feira, 2 de julho. Mas não se trata de uma nova listagem, afinal, a seca de IPOs persiste. É a Natura, que volta a ser negociada com o mesmo código de quando estreou na Bolsa, em 2004. NATU3 retorna e NTCO3 sai de cena em um curioso caso de incorporação reversa: a empresa mãe, a holding Natura & Co, foi "engolida" pela filha, a Natura Cosméticos. Uma solução, digamos, "edipiana" para um problema de expansão global que perdeu a mão, e cuja rota foi recalculada para um movimento de retorno às origens - mas sem voltar ao ponto de partida, como fez questão de ressaltar o CEO.

"Deixamos de olhar para as estrelas e voltamos às nossas raízes, para construir um futuro com o pé no chão", disse João Paulo Ferreira em sua apresentação do Investor Day da Natura. Fazia três anos desde o último encontro com os investidores e o evento começou com um tom de mea culpa da empresa. "Nós entendemos que deixamos de dar visibilidade à vocês", afirmou o executivo.

A partir dali, o que se seguiu foi uma série de apresentações que tomou uma manhã inteira e parte da tarde na sede da companhia em Cajamar, na Grande São Paulo. A narrativa era clara: mostrar que a marca Natura é a força motriz da empresa e é nela que o crescimento, dentro e fora do Brasil, vai se amparar daqui em diante.

Até porque hoje não restam muitas alternativas. A empresa já se desfez da Aesop e The Body Shop, grandes aquisições feitas no passado dentro do que a Natura acreditava ser a melhor forma de expandir globalmente. A ambição de crescer fora do Brasil continua, mas agora com foco em América Latina, região onde o setor de beleza e cuidados pessoais deve movimentar US$ 107,3 bilhões até 2029.

E há um target em especial: o México. O país responde por 33% da receita da divisão "Hispana" da Natura, mas lá a companhia tem market share de apenas 5,5%. E enquanto a marca é a número 1 em países como Argentina e Peru, fica em quinto  lugar na preferência dos mexicanos. A penetração nos lares é de 9%, distante dos 54% do Brasil.

Avon despriorizada, pero no mucho...

A integração com a Avon, processo conhecido como Onda 2, será uma alavanca importante nessa estratégia. Além de ser mais conhecida no México, a marca tem uma rede de 250 mil consultores e uma fábrica, ativos considerados importantes para o crescimento do nome Natura nesse território. Também é um país desbancarizado, o que também gera oportunidade para o braço de serviços financeiros da companhia, o Emana Pay, que trabalha com subadquiriência e concessão de microcrédito.

"São ativos que vamos usar a favor de Natura também. Passaremos a produzir localmente, as consultoras também passam a comercializar a marca Natura", explicou o CEO, em conversa com os jornalistas que participaram do Investor Day. Esse é justamente um dos pontos chaves da Onda 2: passar a fabricar Natura onde antes só se produzia Avon, um produto de margem historicamente menor.

A companhia trabalha na elaboração de um modelo comercial para a Avon que seja complementar à Natura. A ideia é que o crescimento da marca seja retomado, mas com rentabilidade. Seu portfólio deve ser revisado e o nome vai passar por um reposicionamento até o ano que vem.

Sobre a Avon Internacional, que abrange operações fora da América Latina e saiu de um processo de chapter 11 no final do ano passado, a Natura não trouxe novidades. A companhia disse apenas que espera um consumo menor de caixa da operação este ano, enquanto tenta se desfazer do ativo. Analistas de mercado esperavam que a questão fosse resolvida antes da reestruturação da companhia.

De Silvia Vilas Boas, CFO que substituiu Guilherme Castellan em março passado, veio o "compromisso máximo com a rentabilidade" e a promessa de uma dívida 100% atrelada a indicadores "verdes". "Não faremos mais nenhuma emissão que não seja atrelada a algum indicador social ou ambiental", disse ela.

A Natura também promete um maior nível de disclosure nas demonstrações financeiras a partir dos resultados do terceiro trimestre deste ano. A empresa vai apresentar o desempenho por região - Brasil e Hispana, com números de suas operações em países como Argentina, Chile, Peru e México. Também vai "quebrar" a receita, distinguindo o que vem de Natura, Avon e Home & Style.

Apesar do maior nível de detalhamento, as principais linhas do balanço vão poder ser comparadas a trimestres anteriores. Da mesma forma, nada mudar para quem hoje tem a ação NTCO3 - a relação de troca com NATU3 é de 1 para 1 e o "preço de tela" também não muda.

Um analista do sell side que acompanhou o Investor Day avaliou que o evento não trouxe nenhuma grande novidade para quem acompanha a empresa. Elogiou, porém, a profundidade com a qual as informações foram apresentadas. "Bastante útil, inclusive para quem está começando a investir agora", disse ele. Resta saber se o nível de detalhamento dessa nova onda será o bastante para virar a maré da empresa perante o mercado.

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