Papai Noel: hábito de dar presentes ajudou a reduzir vandalismo nas ruas (Digital Vision/Thinkstock)
Graziella Valenti
Publicado em 26 de dezembro de 2020 às 19h53.
Última atualização em 26 de dezembro de 2020 às 20h14.
A coluna de Jason Zweig, jornalista e colunista do Wall Street Journal (WSJ) desde 2008, trouxe na edição de Natal da publicação uma retrospectiva do sentido dessa festa para além de seus ares cristãos. Nada no texto diz expressamente que o objetivo é esse, mas título e informações deixam claro que ela pode ajudar a reduzir o ranço daqueles que praguejam contra o consumismo da data.
O colunista veio explicar como surgiu o hábito de dar e receber presentes e como isso pouco ou nada guarda relação com o incenso, a mirra e o ouro que o menino Jesus recebeu de presente na visita dos três reis magos — que, aliás, é comemorada apenas no dia 6 de janeiro.
A coluna, chamada “Como o Capitalismo Salvou o Natal”, explica que o costume foi uma criação cultural para se sobrepor à grande balbúrdia que ocorria na noite do dia 25. As cidades costumavam virar uma bagunça, com jovens bêbados que invadiam as casas. Eles saíam pelas cidades vandalizando os domicílios, em busca de dinheiro e álcool. E não iam embora sem antes espalhar desordem, o que podia incluir limpar mãos engorduradas e sujas nas cortinas.
Aliás, Zweig explica que “merry” (atualmente traduzido como “alegre”) foi sinônimo para bêbado, do século XVI ao XIX, no Oxford English Dictionary. Demorou para o Merry Christmas se transformar no equivalente a Happy Christmas. Foi apenas com o avançar dos anos 1.800 que os presentes e as festas familiares foram ganhando vez sobre a farra das gangues.
O povo nas ruas e as lojas de departamento acabaram trazendo uma segurança e fiscalização contra os vândalos e, aos poucos, a calmaria deu lugar à irracionalidade.
Mas a festança de fim de ano é, bom que se lembre também, existia bem antes de se tornar hábito a comemoração do nascimento de Cristo, algo que a Igreja Católica passou a adotar a partir do século IV. O Natal já é produto da doutrina católica, com a cristianização das festas pagãs. O aniversário de Jesus entra no lugar das festas e bacanais da Roma Antiga com o solstício de inverno.
Zweig veio apenas contar como o florescimento do comércio em torno da data serviu para consolidar o hábito de unir famílias e deixou as ruas mais agitadas, iluminadas e sem algazarras destruidoras.
Mas, como a insatisfação é dos sentimentos mais comuns da humanidade, não demorou para que surgissem os queixosos do consumismo. Entre os ilustres que no início de 1.900 já repudiavam os excessos estava ninguém menos que a filha caçula de John Pierpont Morgan — ele mesmo, JP Morgan —, chamada Anne Tracy Morgan, segundo a coluna do WSJ. Seu pai foi ninguém menos do que o grande banqueiro das corporações e da consolidação industrial durante o século XX. Anne pregava, no lugar do consumo, o “pensamento altruísta e independente, boa vontade e compreensão solidária”, de acordo com a coluna.
Não precisa mais muita coisa para mostrar que o Natal é, antes de mais nada, uma grande confusão cultural, vestida das melhores intenções. Ainda que seja apenas se manter “alegre”. E tudo indica que as intenções — já boas — estão melhorando com o tempo.