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Não é rumor: Natura &Co informa queda de 13% na receita do trimestre

Tempestade perfeita atinge grupo, 4º maior de produtos de beleza do mundo, e afeta vendas e margens

Natura &Co: Ebitda do primeiro trimestre deve mostrar queda entre 25% e 30% na comparação anual (Germano Lüders/Exame)

Natura &Co: Ebitda do primeiro trimestre deve mostrar queda entre 25% e 30% na comparação anual (Germano Lüders/Exame)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 23 de abril de 2022 às 01h13.

Última atualização em 23 de abril de 2022 às 01h43.

Agora já não são mais contas de analistas ou gestores que conversaram com a empresa. A Natura &Co, diante da reação do mercado às conversas que teve na quarta-feira com investidores e analistas, resolveu tornar público o que causou a avalanche de ordens de venda de suas ações na bolsa nos últimos dois pregões. A receita líquida do primeiro trimestre deste ano recuou cerca de 13%, para um total entre R$ 8,20 bilhões e R$ 8,25 bilhões.

A indicação da empresa é que o Ebitda deve ter um recuo entre 25% e 30%, passando para um intervalo de R$ 575 milhões a R$ 615 milhões. A companhia não forneceu valores para o Ebitda, mas indicou que a margem deve variar entre 7% e 7,5% — na comparação com os 10,3% do primeiro trimestre de 2020.  Comparado ao quarto trimestre de 2021 (período tipicamente beneficiado pelas compras de Natal), a queda é ainda mais expressiva, considerando que a margem quase bateu 13,5%. Os números prévios não foram auditados.

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A conversa com analistas e depois a divulgação prévia dessas informações de forma oficial tiraram mais de R$ 6,5 bilhões do valor de mercado da empresa. Os papéis tiveram um tombo de 15,5% na quarta-feira e de mais 3,9% ontem, dia 22. A Natura &Co vale agora R$ 28,2 bilhões na B3. Na prática, significa uma perda superior a 65% na sua avaliação, em relação à máxima de fechamento das últimas 52 semanas — R$ 60,29 por ação, registrados na mesma época em que o Índice Bovespa estava próximo dos 130 mil pontos.

O desempenho é fruto de uma tempestade perfeita que combina desafios no cenário de renda do brasileiro, inflação global, aumento de custos, mais os ajustes na operação comercial da Avon e da The Body Shop e, para coroar, a guerra na Ucrânia. No caso do grupo, o conflito com a Rússia não trouxe apenas consequências laterais: a Avon tem operação relevante no país.

Apesar do enorme ruído com o ajuste nas expectativas dos analistas para a divulgação do resultado do primeiro trimestre — agendada para 5 de maio, após o fechamento do mercado —, o valor da ação está no mesmo patamar alcançado perto da divulgação do balanço fechado de 2021.

A companhia teve lucro líquido de R$ 1 bilhão no ano passado e decidiu pagar R$ 180 milhões em dividendos aos acionistas. Após o início da guerra na Ucrânia, oficialmente em 24 de fevereiro, a ação da companhia saiu da casa dos R$ 23 para R$ 20 devido à expectativa dos investidores com as perdas potenciais na Rússia.

Quando divulgou os números do ano passado, a Natura &Co sinalizou que o começo de 2022 seria especialmente difícil — afinal, mais de 2/3 do primeiro trimestre já havia se passado. Na época, a companhia não colocou a sinalização em números e nem ofereceu ordem de grandeza. Mas a leitura de que a situação era realmente desafiadora estava explícita nas falas do presidente global, Roberto Marques, ao falar que a Natura &Co havia decidido revisar os gastos e investimentos para 2022. “Estamos revendo nosso orçamento para priorizarmos investimentos realmente necessários e para reduzirmos despesas discricionárias”, foi a fala de Marques em entrevista ao EXAME IN na ocasião. Era esse o motivo, inclusive, de a empresa decidir que o crédito aos acionistas dos dividendos iria ocorrer ao longo do ano e não naquele momento.

Em seu comunicado com a prévia, a companhia confirmou o que os analistas começaram a relatar ainda na quarta-feira. As notícias boas se limitam à melhoria nas vendas de Natura no Brasil e ao desempenho da marca Aesoap na Ásia e na América do Norte. As vendas da The Body Shop também sofreram no primeiro trimestre. Apesar dos números, a Natura &Co afirma que continua vendo evoluções importantes nos indicadores-chaves da Avon, como reação ao ajuste no modelo comercial adotado com as revendedoras — para que fique no mesmo padrão e estrutura adotados pela Natura.

A despeito de número para cá e número para lá, a forma como a empresa tem se comunicado com o mercado está causando incômodo a alguns investidores. A leitura é que talvez a companhia precise rever a forma como faz a gestão de expectativas. "Além do efeito negativo agudo sobre o preço das ações, até o comunicado da companhia sair, ficou um gosto ruim de que um grupo de investidores teve acesso a informações que não foram para todo o mercado ao mesmo tempo", comentou um acionista.

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