WEG: próximo ciclo será focado em crescimento por meio de transição energética (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter Exame IN
Publicado em 8 de dezembro de 2023 às 18h57.
Última atualização em 11 de dezembro de 2023 às 15h43.
A sexta-feira marcou o fim de uma semana agitada para a WEG. Depois de anunciar um investimento de R$ 1,2 bilhão em transformadores no início da semana, a fabricante de motores e equipamentos para o setor elétrico comunicou ao mercado nesta sexta-feira a troca de comando.
Harry Schmelzer Jr. vai deixar o cargo após 16 anos e, no lugar dele, entra Alberto Kuba, atual superintendente da divisão de motores elétricos industriais, que tem 22 anos de casa e assume a cadeira em abril.
Com a presença de três dos quatro CEOs que passaram pela companhia nos últimos 40 anos, o Investor Day realizado hoje tentou passar uma mensagem de continuidade. Os executivos reforçaram a meta da empresa de entregar um crescimento do lucro de dois dígitos, como aconteceu nos últimos 16 anos, com uma avenida ampla de crescimento com as aquisições recentes e principalmente nos mercados de mobilidade elétrica e transição energética.
"Nesse momento do anúncio da minha sucessão, me vem uma lembrança. Quando assumi a presidência, o Décio [atual presidente do conselho] me deu um quadro com uma corrida de revezamento. Foi muito simbólica essa forma de 'passar o bastão'. Hoje, chegou o meu momento de entregar o bastão para o próximo presidente e fico muito contente que a WEG teve vários 'atletas' considerados par essa corrida. Desejo muito sucesso ao Kuba. A empresa tem uma equipe maravilhosa, um time extraordinário", disse Schmelzer Jr.
A mudança de CEO vem num ano mais desafiador do setor. Uma das ‘queridinhas’ do mercado e acostumada a renovar máxima depois de máxima na bolsa, a companhia teve um ano mais difícil com um esfriamento da demanda nos principais mercados. No terceiro trimestre, o faturamento no mercado internacional marcou uma queda rara 4%, para R$ 4,2 bilhões. O lucro, ainda assim, subiu dois dígitos no período.
Essa normalização de demanda — depois de um pico no pós-pandemia — deve continuar em 2024. “Haverá uma acomodação nos produtos de ciclo curto, com pressão de preços puxada pela redução no preço dos insumos. Para 2025, entretanto, o cenário é mais positivo, com bons padrões de PIB globais, que devem impulsionar a demanda”, afirmou Schmelzer Jr. no evento a investidores.
Ao assumir o cargo, Kuba também terá a missão de incorporar a Regal Rexnord, a maior aquisição feita na história da companhia. Ainda falta passar por sete órgãos antitruste no mundo e, quando isso for feito, ainda vai levar tempo para que a empresa adquirida chegue ao patamar da WEG em cada um dos países.
“É natural ter alguma redução de margem consolidada, mas ainda é cedo para traçar esses planos”, disse André Salgueiro, diretor de finanças e relações com investidores da companhia.
A aquisição fortaleceu a posição da WEG em motores industriais na América do Norte – segmento no qual era forte principalmente na Europa – e acesso a setores em que tinha pouca exposição, como óleo e gás e alimentos e bebidas. Com isso, os executivos sinalizaram que a rentabilidade ao acionista também deve ficar próxima do patamar atual, com ROIC de 35,4%.
Daqui para a frente, a empresa deve continuar mesclando a agenda de crescimento inorgânico com orgânico. E destacou duas frentes de investimento: mobilidade elétrica e transmissão e distribuição de energia, ambas com oportunidades tanto no Brasil quanto no exterior.
Em mobilidade, uma das oportunidades está em baterias para pesados, focando principalmente em ônibus. A linha de produção de baterias vai ganhar um reforço de R$ 100 milhões para expansão. Hoje, a empresa tem mais de 10 mil estações de recarga implantadas no país, com um crescimento anual da receita de 150% de 2021 a 2023.
Hoje, a WEG fornece baterias para a frota de ônibus da Transcol e também para os ônibus elétricos de São Paulo. O Brasil hoje é o segundo maior mercado de ônibus urbanos do mundo — o que, na visão da empresa, traz espaço de sobra para eletrificação.
Mais do que fornecer baterias para esses veículos, a WEG também quer se tornar cada vez mais representativa em soluções de recarga — um ponto que abrange tanto os veículos pesados como os leves. A companhia já tem feito avanços nesse sentido, estando homologada em 24 marcas no Brasil e sendo contratada pela Volvo em um projeto que vai desenvolver a infraestrutura de recargas no país.
“Hoje a grande dificuldade de estações de recarga rápida é a disponibilidade. As estações são complexas. Tem de se atualizar o software direto, acompanhando as atualizações dos veículos. Além dos produtos em si, temos essa visão de manutenção, de disponibilidade, o que acreditamos ser um diferencial”, diz Carlos Grillo, superintendente da divisão de sistemas e digital da WEG.
Nos lançamentos para 2024, estão o Green+, versão de recarregador produzida com 50% de resina reciclada, além de uma estação de recarga portátil, mais potente e segura para o tipo de tomada brasileiro. Por fim, uma estação capaz de carregar quatro veículos ao mesmo tempo também deve ir ao mercado.
De olho no reforço dos sistemas de transmissão de energia necessários para expandir a oferta de energia renovável no Brasil, a WEG anunciou esta semana um investimento de R$ 1,2 bilhão para aumentar em 50% a capacidade de produção de transformadores nos próximos anos. Hoje, a divisão conta com 13 parques fabris e mais de 5 mil colaboradores, somando 220 mil metros quadrados de área construída.
Nos Estados Unidos, além do IRA (programa de investimentos em energia e infraestrutura), existe uma lacuna de 400 GVA de transformadores para os próximos cinco anos – como referência Itaipu produz 15 GVA, o que também abre espaço para a companhia — independentemente de ciclos políticos. Além disso, há um movimento de substituição de subestações e de carvão por energia limpa.
A companhia também vê uma demanda crescente no México, onde está construindo uma nova fábrica para atender ao pool local de indústrias, e na Colômbia, país em que a matriz energética renovável deve passar de 5% para 15%.
“O mercado global de transformadores deve crescer nos próximos anos na faixa de 5% a 7% ao ano até 2031. Estamos prontos para essa demanda, temos a tecnologia e o acesso às principais empresas de energia”, diz Carlos Prinz, superintendente da WEG Transmissão e Distribuição.
Ainda dentro desse portfólio de produtos, a companhia conta hoje com uma tradicional presença em Oil&Gas, uma demanda que acredita que continuará aquecida ao longo dos próximos anos, também na esteira de um mundo mais sustentável.
“Todos precisam de motores, inversores e transformadores. Além disso, se o Brasil for um país com produção de hidrogênio verde, o parceiro dos construtores de todas as usinas não vai ser só a WEG, mas tenho certeza de que a WEG estará lá e com oferta muito importante”, diz Schmelzer Jr.