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Na Vulcabras, ritmo segue acelerado e tarifaço dos EUA pode abrir novos caminhos

Nos primeiros três meses de 2025, companhia registrou 19º trimestre de crescimento de vendas e lucro aumentou 20%; em meio à guerra comercial, marcas internacionais têm buscado a fabricante, conta CFO

Olympikus: linha Corre reposicionou marca como tênis de performance e caiu no gosto dos corredores (Vulcabras/Divulgação)

Olympikus: linha Corre reposicionou marca como tênis de performance e caiu no gosto dos corredores (Vulcabras/Divulgação)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 7 de maio de 2025 às 05h00.

A Vulcabras começou 2025 com o pé direito. Pelo 19° trimestre consecutivo, a receita da dona da Olympikus cresceu, num aumento de 17,4%, para R$ 701,2 milhões, que ajudou o lucro líquido da companhia a avançar 19,5%, para R$ 106,1 milhões. 

A linha Corre, da marca Olympikus, continuou a ser o principal motor de crescimento, especialmente no e-commerce, que apresentou um aumento de 53,8%, alcançando R$ 118,4 milhões, o que representou 16,9% da receita líquida total da empresa. 

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O reposicionamento da marca Olympikus no mercado interno, como um tênis de performance é o que dá confiança à Vulcabras de que mesmo com uma “invasão” de calçados asiáticos, as vendas da companhia não devem ser tão ameaçadas.  

Esse é um risco maior, admite o CFO Wagner Dantas, dada a imposição de tarifas do governo americano às importações que afetaram sobretudo os produtos asiáticos. Com o mercado americano perdendo espaço nas vendas dos fabricantes dos países do sudeste asiático, o Brasil tende a ampliar a relevância como destino dos tênis feitos por lá.    

“É uma novela que a gente ainda não sabe exatamente o desfecho dela. Mas convivemos com esse risco, já que o Brasil é um dos mercados capazes de absorver parte desse excedente. Mas a Europa e a própria Ásia podem ser os principais destinos [dos calçados asiáticos”, diz o CFO.  

A companhia tem lidado há anos com um ambiente mais competitivo de preços por liquidações de marcas líderes como Nike e Adidas, cujas produções estão concentradas nos países asiáticos. “No primeiro trimestre, nenhuma marca aumentou preços, só as nossas. Temos conseguido mitigar os efeitos e ter produtos assertivos.”  

Para o executivo, essa condição de excesso de estoques asiáticos também não se manteria, dado que os fabricantes de países como China, Vietnã e Camboja adaptariam suas produções para uma demanda menor. “O produtor asiático também não vai ficar produzindo para vender produtos em liquidação.” 

Além da Olympikus, a companhia tem a licença para produzir a marca americana Under Armour e a japonesa Mizuno. E é justamente daí que as tarifas podem se mostrar como oportunidades para a fabricante, que tem conseguido oferecer tecnologias de maior valor agregado para os calçados que produz e ainda ganhar eficiência de custos em sua produção. Apesar da reoneração da mão de obra na folha de pagamento, a margem bruta da empresa se manteve estável em 40,2%, repetindo o patamar do primeiro trimestre de 2024.  

Logo após o anúncio do tarifaço, em 2 de maio, a companhia recebeu contato do time da Under Armour para entender o quanto de sua produção na Ásia poderia ser redirecionado para as operações da Vulcabras – hoje, a produção da marca na fábrica no Ceará é majoritariamente para atender ao mercado local. Outras marcas internacionais também buscaram a fabricante para conversas iniciais. 

“Nosso canal de comunicação com as marcas está super ativo. A Under Armour entrou em contato conosco para entender se poderíamos ser uma nova fonte de fornecimento, um plano B para eles”, diz.  

O desafio, explica Dantas, é o compromisso de volumes. “Se tivermos que fazer investimentos relevantes, precisamos ter algum compromisso de volume. Mas são conversas que estão abertas.” No primeiro trimestre, o CAPEX chegou a R$ 48 milhões, voltado especialmente para o desenvolvimento de moldes, mas também para investimentos em equipamentos e maquinário e algum aumento de capacidade. 

Enquanto isso, a companhia também considera a chance ampliar as exportações de sua própria marca, a Olympikus, hoje muito concentradas na América Latina. Essa característica pesou para as vendas externas, cuja retração foi de 13,1%, especialmente devido à queda do consumo na Argentina.  

“Vejo oportunidades, não só pelo horizonte tributário e de sourcing. Em termos de custeios, a indústria brasileira ainda continua com desafios relevantes para competir com a indústria asiática. Mas em termos de força de marca, a Olympikus nunca esteve tão forte e preparada para poder alçar voos maiores”, diz. A companhia iniciou vendas piloto na Espanha. “Ainda estamos estudando a evolução, mas a coisa vem ganhando corpo.” 

Na alocação de capital, além da aplicação de capacidade e modernização da fábrica, a Vulcabras anunciou nova distribuição de dividendos mensais, no valor de R$ 0,125 por ação até outubro de 2025. Também comprou 762,2 mil ações ao longo do trimestre, parte de seu programa de recompra iniciado em 2022, visando otimizar o uso dos recursos e gerar valor para os acionistas. 

Desde seu re-IPO, em 2017, a ação da Vulcabras se valorizou 86%. O valor de mercado da companhia hoje é de R$ 4,86 bilhões.  

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