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Na saída do CEO da Eletrobras, nem tudo é o que parece

Com renúncia inesperada de Wilson Ferreira Jr, mercado perde executivo de referência, mas narrativa não é de ingerência política

Ferreira Junior: Renúncia no inesperada no seu segundo mandato à frente da Eletrobras (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Ferreira Junior: Renúncia no inesperada no seu segundo mandato à frente da Eletrobras (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Publicado em 15 de agosto de 2023 às 09h43.

Última atualização em 15 de agosto de 2023 às 10h39.

Em meio à tensão com um governo insatisfeito com a privatização, a saída inesperada de Wilson Ferreira Jr. da presidência da Eletrobras, anunciada na noite de ontem, logo trouxe o temor de algum tipo de  ingerência estatal sobre a companhia.

Mas, ainda que tenha agradado o governo, a renúncia do executivo – um dos mais respeitados do setor elétrico – aconteceu após meses de desgaste com o conselho de administração da empresa.

“Não teve um grande episódio, foram uma série de pequenos episódios que se somaram”, afirma um conselheiro ouvido pelo Exame IN. No alvo, estavam questões comezinhas como a demora na troca de executivos em controladas e em planos como o de desmobilização de imóveis da companhia.

Com capital pulverizado, a Eletrobras tem hoje um conselho atuante, que reflete o conjunto de forças dos acionistas privados, com competências específicas, e que não raro se reúne mais de uma vez na semana.

É um cenário contrastante com sua atuação anterior à frente da companhia, de 2016 a 2021, na gestão de Michel Temer e Bolsonaro, quando chegou com o papel de homem forte para conduzir o processo de enxugamento da companhia para prepará-la para a privatização.

Ainda que não tenha diretamente as digitais do governo, a saída de Ferreira vem num momento conveniente. Ferreira era visto como o ‘símbolo’ da desestatização e, mais recentemente, enfrentou desgaste com o Plano de Demissão Voluntária (PDV) que estressou ainda mais as relações no Planalto.

“O conselho entregou a cabeça dele, foi quase como unir o útil ao agradável”, aponta um outro interlocutor.

Ivan Monteiro, que era presidente do conselho e assume agora como CEO – cargo que exercerá de forma permanente --, foi CFO da Petrobras e do BB e tem trânsito no governo Lula.

Mais do que isso, é ele quem vem conduzindo um acordo com o governo para abafar as tentativas de reestatização. A alternativa mais provável é que a Eletrobras antecipe o pagamento à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), usada para aliviar as tarifas na conta de luz.

A ideia é que os pagamentos previstos para o médio prazo se concentrem nos próximos três a quatro anos, dando um alívio mais imediato aos preços – e um trunfo político ao governo.

Em troca, o governo poderia abrir mão da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que quer reverter a privatização. Na mesa, no entanto, ainda está a influência que o governo quer exercer no conselho.

“No curto prazo, a notícia é péssima porque o Wilson era uma espécie de esteio para o mercado e um executivo muito respeitado”, aponta um gestor. “Mas a tendência é que haja um destensionamento na relação com o governo, que é uma das coisas que mais pesam sobre o papel.”

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