India: Muitos frutos ao alcance da mão: não faz parte da cadeia de valor global centrada na China e tem mercado doméstico forte, diz economista do Citi
Repórter Exame IN
Publicado em 3 de julho de 2024 às 19h01.
Última atualização em 3 de julho de 2024 às 19h18.
O cenário de ‘higher for longer’, com taxas de juros estruturalmente mais altas nos Estados Unidos, complicou o jogo para mercados emergentes. Mas depois de uma fuga de capital na categoria, há espaço para alguma reacomodação – dessa vez voltada para destinos específicos.
“Não é mais um modelo único para todos [os emergentes], e acho que haverá algumas oportunidades pontuais. A forma como se investe agora nos mercados emergentes têm de ser a mesma em que investimos em ações. Deve ser muito direcionado agora, e não vir de cima para baixo”, afirma Johanna Chua, economista-chefe do Citi para mercados emergentes, que esteve no Brasil para conferência do banco.
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“Talvez o fluxo esteja sendo excessivamente impulsionado pela alta taxa de juros americana. Então, deveria haver alguma oportunidade para recalibrar o capital [ao longo dos próximos meses], mas estaremos em um cenário desafiador por um tempo.”
Nos últimos anos, a aversão a risco e os patamares de juros mais elevados fizeram com que os Estados Unidos drenassem boa parte do fluxo de capital. Ao menos um terço dos fluxos globais foram para o mercado americano ao longo de 2023 e a primeira metade de 2024, bem acima dos 18% que se via no período pré-pandemia.
Uma das principais apostas olhando em termos de crescimento ainda é na Índia.
“O país tem muitos frutos ao alcance da mão: não faz parte da cadeia de valor global centrada na China e é uma alternativa com mercado doméstico forte. E é um país geopoliticamente neutro”, afirma.
O primeiro-ministro Narendra Modi venceu as eleições deste ano para um terceiro mandato, mas com menos apoio. Ainda assim, Chua vê um ambiente de baixo risco político e econômico. “Nada realmente mudou e não há sinais de políticas populistas. Eles ainda são muito orientados [economica e politicamente] para negócios.”
Nessa lista de potenciais vencedores, Chua ainda vê boas oportunidades na Coreia do Sul, Taiwan e Malásia, criadas por um "ciclo tecnológico" — o Brasil não entrou nesse jogo (nem nas menções da economista), apesar dos acertos do Banco Central e no gerenciamento das políticas macroeconômicas, segundo ela.
Segundo ela, o cenário que se tinha até a covid-19 ficou mesmo no passado. Com juros básicos mais elevados e maior nível de risco, os países emergentes atraíam mais capital estrangeiro para seus títulos de dívida do que as economias desenvolvidas, mas esse já não é o retrato perfeito dos mercados, especialmente com uma recuperação mais lenta da economia chinesa.
“Não tem mais um superciclo de commodities na China puxando todos a reboque.”
Na perspectiva de crescimento de 5% para a economia chinesa neste ano, a participação de negócios com países emergentes tende a ser menor, com os estímulos do governo chinês para aumentar a exportação tornando a relação com essas economias menos amigável do que costumava ser.
A China, que até então crescia em ritmo meteórico, enfrenta muitos desafios estruturais, vê o mercado imobiliário com problemas e não crescerá como antes, segundo Chua. Além disso, o modelo chinês com mais intervenção estatal está afetando a confiança.
Ainda assim, a capacidade de reação chinesa não deve ser subestimada: "A China obviamente segue se mostrando extremamente competitiva em diferentes níveis de intensidade", diz.
A expectativa de Chua e do time do banco ainda é de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) comece a cortar juros neste ano, a partir de setembro. O Citi chegou a prever cortes antes, mas mudou as perspectivas.
Na ata da última reunião, de 11 e 12 de junho e divulgada nesta quarta-feira, 03, mais um banho de água fria nas projeções mais otimistas: os membros do Fed avaliaram que a inflação americana está se movendo na direção certa, mas não com a rapidez suficiente para justificar uma queda nas taxas de juros.
Se, no entanto, os cortes virem ainda este ano, mais oportunidades se desdobrarão nos mercados emergentes e os fluxos de capital gradualmente mudarão, avalia Chua.
A corrida eleitoral americana entre Joe Biden e Donald Trump coloca, no entanto, uma camada extra de incerteza. "Não sabemos quais vão ser as políticas fiscais, de imigração e tarifas por exemplo. Tudo isso dificulta a vida do Fed e torna o dólar mais forte por mais tempo", diz.
Há considerável incerteza em torno da política comercial do ex-presidente Trump, mas se ele ganhar outro mandato, há um segundo desafio: a possibilidade de uma abordagem muito mais ampla para tarifas e controles de exportação.
A China provavelmente será o alvo das medidas comerciais mais punitivas, dobrando a aposta na debandada da produção global para países próximos e nações politicamente mais "amigas", nearshoring e friendshoring, respectivamente – novamente uma oportunidade para países mais neutros, como a Índia e o México.