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Na plataforma de marcas da Coty, sustentabilidade é para todas as classes sociais

Com reorganização de negócios e ESG para todos, ação sobe mais de 75% em 4 meses

Risqué Bio: certificação de produto vegano, com tampa feita totalmente de material reciclado (Risqué/Reprodução)

Risqué Bio: certificação de produto vegano, com tampa feita totalmente de material reciclado (Risqué/Reprodução)

Graziella Valenti
Graziella Valenti

Editora Exame IN

Publicado em 22 de fevereiro de 2023 às 18h30.

Última atualização em 23 de fevereiro de 2023 às 09h05.

“Sustentablidade é para todas as classes sociais.” A afirmação é de Shimei Fan, chief scientific officer (CSO) da Coty. No fim de 2022, a executiva visitou o centro de pesquisa da companhia que fica na Grande São Paulo e concedeu ao EXAME IN a primeira entrevista para mídia brasileira desde que assumiu a posição, em janeiro do ano passado. Foi a primeira vez que ela esteve no Brasil desde que ocupou o cargo. A fala de Fan, que antes esteve em posições de liderança na Shiseido, na Beiersdorf, a fabricante de origem alemã dona de diversas marcas como Nivea e Eucerin, e ainda na Johnson &Johnson’s, contraria a crença de muitos na indústria de que produtos sustentáveis são mais caros e devem penetrar na sociedade pelas classes de renda mais elevadas para, então, conquistar escala e só então alcançar os produtos mais populares.

No Brasil, a Coty é dona de nomes como Bozzano, Monange, Paixão, Risqué e Cenoura & Bronze e, com esse conjunto, estima estar presente em 70% dos lares do país. Avaliada em US$ 9,5 bilhões na bolsa de Nova York, a companhia teve uma receita de US$ 2,9 bilhões de julho a dezembro, com expansão de 6% em bases comparáveis. O negócio vive um importante momento de reorganização das atividades, em busca de maior eficiência. O lucro operacional ajustado no período somou US$ 511 milhões, com margem de 17,5%, comparado a 14,8% em igual período de 2021. Nos comentários sobre o desempenho no ano fiscal de 2023 A ação saiu da casa dos US$ 6,30, mínima em 12 meses, para mais de US$ 11,00 entre o fim de outubro e o fechamento desta quarta-feira, dia 22.

Fan destacou que o Brasil é muito importante para a companhia, mas não só: “toda a América Latina”. As operações em solo brasileiro passaram a atender toda a região a partir de meados do ano passado. “É um mercado com mais de 500 milhões de pessoas”, enfatizou ela.

A Coty foi fundada em Paris, em 1904, e atualmente está presente em mais de 130 países. Além de marcas de consumo, também é detentora da licença para produção e comercialização de diversas marcas de perfume de luxo, como Chloé, Burberry, Calvin Klein, Tiffany & Co, Gucci, Hugo Boss, Lacoste, entre tantas outras. A região das Américas teve vendas de US$ 1,2 bilhão de julho a dezembro, com participação superior a 41% no total. A expansão de outubro a dezembro foi de 8% em bases comparáveis. Na região, as marcas de consumo foram parte relevante da expansão.

Coty - Shimei Fan

Shimei Fan, chief scientific officer da Coty: consumo consciente da Geração Z impulsiona preocupação das marcas com sustentabilidade (Coty/Divulgação)

 

O grande propulsor das orientações da Coty aos fatores ESG, as letrinhas que representam as questões ambientais, sociais e de governança, é o comportamento da Geração Z, os que nasceram entre 1990 e 2010. “Eles se preocupam muito mais com o futuro do planeta e querem saber a procedência do que estão usando, em especial em produtos de beleza”, destacou a executiva, durante a entrevista. “E esse é um movimento global. Vemos isso na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa.”

A companhia adotou métricas de sustentabilidade e metas internas a partir de 2020, durante a pandemia. E agora, essa preocupação foi refletida já em 88% dos lançamentos da marca do ano fiscal de 2022 (julho de 2021 a junho de 2022), ou seja, com critérios relacionados às embalagens e à própria formulação do produto. “Temos um programa enorme de sustentabilidade para realmente desenvolver inovações para as necessidades dos consumidores, não apenas as físicas, de bem-estar, como as emocionais”, ressalta Fan, apontando a questão ambiental como uma real preocupação, dessa geração Z, que começa a entrar no mercado de consumo mais fortemente a partir de agora.

O relatório de sustentabilidade mostra também que, comparado ao ponto de partida, o ano de 2019, a companhia reduziu em mais de 70% das emissões relacionadas aos escopos 1 e 2 (provenientes da operação da empresa e das fontes de energia usada, respectivamente). Com isso, a Coty agora centra seus esforços no Escopo 3, que envolve toda cadeia de fornecedores e de prestadores de serviços.

A visita de Fan ao Brasil não é sem motivo. Ao longo de 2022, o centro de pesquisa do país registrou importantes conquistas, como o primeiro desodorante livre de silicone na fórmula e ainda a linha de esmaltes Risqué Bio certificada com o selo “vegano”. Além de garantir que não há nada de origem animal, seja na composição ou nos testes do produto, a linha tem a parte plástica toda feita de material reciclável.

Essas inovações, de acordo com a executiva, não são estanques. Os avanços obtidos em um país – cada um é central em uma área de atuação – têm a tecnologia compartilhada com os demais países, o que faz uma grande diferença na gestão de negócios da Coty. É um caso no setor em que o modelo de plataforma de marcas, ao que tudo indica, funciona, mesmo com a grande diversidade de produtos, operações e públicos-alvo.

O olhar atento ao público consumidor e como as novas gerações se comportam não está apenas no produto, mas na própria abordagem e até no entendimento do que é beleza — em outras palavras, inclusão. "Beleza, para mim, é liberdade", destaca a executiva, apontando que a proposta da Coty é fazer com que as pessoas se sintam bem e possam valorizar suas qualidades da forma que melhor desejarem.

 

 

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