Exame IN

Na MP do governo, uma surpresa amarga para XP, Stone e PagSeguro

Aumento da taxação de estruturas offshore não era esperado no texto e pode reduzir lucro das empresas em até 10%

MP: se proposta passar, PagSeguro é uma das empresas que pode ser fortemente afetada (Leandro Fonseca/Exame)

MP: se proposta passar, PagSeguro é uma das empresas que pode ser fortemente afetada (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 12 de junho de 2025 às 18h39.

Última atualização em 12 de junho de 2025 às 19h39.


Investir – assim como empreender – no Brasil exige muito mais que conhecimento de estratégia corporativa ou valuation, exige também um profundo conhecimento tributário. 

Depois de uma sentença do STJ a respeito da taxação de créditos presumidos de ICMS no imposto de renda esta semana ter feito os investidores coçarem a cabeça a respeito do impacto nas varejistas, hoje foi a vez de botar na ponta do lápis os impactos da revolução tributária prevista pela medida provisória editada ontem à noite pelo governo para tentar cobrir o buraco fiscal.  

O mercado já estava esperando um aumento na Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) para alguns tipos de instituições financeiras no texto.  

Mas a elevação no imposto sobre fundos offshore pegou os investidores de surpresa, pesando sobre os papéis da XP e de empresas adquirência, como PagSeguro e Stone, que geram boa parte do seu lucro por meio de suas estruturas.

SAIBA ANTES: Receba as notícias do INSIGHT no WhatsApp

Pela MP – que ainda deve enfrentar uma batalha importante no Congresso – veículos de investimento localizados em jurisdições fiscais favorecidas no exterior agora estarão sujeitos a uma tributação de 25%, ante os 15% atuais.  

Isso significa que empresas que operam por meio de fundos em lugares como as Ilhas Cayman verão um aumento nos impostos sobre a renda.  

A medida afeta diretamente a XP, que gera cerca de dois terços do seu resultado antes de impostos por meio do FIP Coliseu, onde ficam os resultados das operações pelas quais a empresa atua como contraparte nas operações financeiras.  

“É claro que isso é subjetivo e as interpretações podem mudar, mas isso pode trazer um impacto de até 10% no lucro líquido da XP”, afirmou a equipe de Pedro Leduc, no Itaú BBA.

(O banco soltou uma primeira versão do relatório comentando apenas aumento da CSLL, com o qual a corretora seria pouco afetada, mas ao ler as letras miúdas enviou uma segunda versão, medindo o tamanho da mordida.)  

O Bradesco BBI é um pouco menos pessimista e estima “no pior cenário” um impacto de até R$ 400 milhões na XP, o que equivale a 8% do lucro estimado para o ano.  

As ações da XP perderam 4,94% no pregão de hoje na Nasdaq.  

Adquirentes como PagSeguro e Stone também utilizam fundos baseados em paraísos fiscais para antecipar recebíveis. Nesses casos, segundo o banco, o impacto aqui é muito mais difícil de prever, “mas não seria irrelevante”. 

Nas contas do Itaú, PagSeguro e Stone também teriam um impacto de 10% nos seus lucros, considerando aqui as mudanças de CSLL e a taxação sobre offshores – ainda que esse último fator seja mais difícil de prever, dadas as estruturas usadas pelas empresas.  As ações das adquirentes caíram 6,37% e 2,86%, respectivamente. No caso da Stone, a volatilidade foi bastante elevada e o papel chegou a perder 5,7%.  

“É difícil colocar no preço. Quantitivamente, dá para dizer que Stone perderia uns 10% do lucro com essa taxação lá de fora e que a MP tem 50% de chance de passar, o que daria uma perda de cerca de 5%”, pondera um gestor comprado no papel, dizendo no entanto que não é possível saber quanto elas conseguem contornar o efeito.  

O Bradesco vai na mesma linha: “Imaginamos que as empresas que podem ser impactadas por aumento da taxa de imposto offshore possam usar entidades e estruturas alternativas para compensar o efeito”, afirma o banco.  

No que tange ao CSLL, a parte que já se esperava na MP, grosso modo o governo está eliminando a alíquota de 9% que se aplicava a algumas fintechs e instituições de pagamento e a equiparando aos 15% a 20% que se aplicavam os bancos de maior porte.  

Ainda nas contas do Itaú, a B3 teria um impacto maior com a medida, de 7% nos lucros previstos para o ano. No Nubank, o impacto seria de 6%. (As ações do roxinho caíram praticamente esse tanto hoje em Nova York.) 

Com a MP enfrentando resistência no Congresso, como já manifestado pelo presidente da Câmara Hugo Motta, pode ser que essas medidas sequer sejam levadas a cabo.  

Mas nesses casos, o gosto amargo não costuma ir totalmente embora.  

“Pode ser que o texto não passe, mas uma vez que aventaram a ideia, ela acabando ficando no radar, sempre com o risco de voltar”, diz o gestor.  

Acompanhe tudo sobre:Reforma tributáriaStoneGoverno LulaPagSeguro

Mais de Exame IN

Fim do 'shutdown' não resolve apagão de dados, diz Meera Pandit, do JP Morgan

Avon podia ter salvado Natura do tombo, mas ainda não estava pronta

BTG Pactual bate novos recordes no 3º trimestre e lucra R$ 4,5 bilhões

Nem Cook, nem Musk: como Huang, da Nvidia, virou o maior aliado de Trump