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Na Mitre, conselheiro dissidente vai a público

Burkhard Otto Cordes expõe razões para votar contra compra de terreno de controlador em Trancoso

 (Arctic-Images/Getty Images)

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Publicado em 9 de outubro de 2023 às 15h57.

Última atualização em 9 de outubro de 2023 às 15h57.

No apagar das luzes da última semana, a Mitre divulgou ao mercado a manifestação de voto do conselheiro que foi contrário à compra pela companhia de terrenos na praia de Trancoso, na Bahia, que pertenciam ao CEO Fabricio Mitre, membro da família controladora.

A transação entre partes relacionadas, anunciada na última quarta-feira (4) gerou um grande ruído no mercado, levando os papéis a uma queda de quase 17% no pregão seguinte. Desde então, as ações operam em estabilidade.

O voto veio de Burkhard Otto Cordes, que é conselheiro independente da companhia, e vice-presidente da Aguassanta Participações, veículo de investimentos de Rubens Ometto, da família controladora da Cosan.

Na quinta-feira à noite, ele enviou carta à companhia, pedindo que as motivações de seu voto fossem tornadas públicas.

“Nenhum material de suporte foi previamente encaminhado ao conselho”, afirma Cordes, dizendo que diz não ter recebido antes da reunião laudo de avaliação, pré-projetos ou estudos de viabilidade.

Segundo a Mitre, os imóveis adquiridos de Fabricio, por R$ 13,5 milhões, serão utilizados para desenvolver um empreendimento ‘flagship’ para lançar a marca Daslu Empreendimentos.

Até então, a Mitre atuava apenas na cidade de São Paulo, com foco em empreendimentos “de preferência num raio de 40 minutos do escritório”, pondera o conselheiro.

A Mitre afirma que apresentou na reunião um laudo de avaliação, elaborado pela S&P, e que a empresa pagou 10% a menos do que o valor apresentado pelo documento.

“A simples apresentação de um laudo de avaliação dos referidos imóveis não justificaria, por si só, a sua aquisição, especialmente para pagamento à vista e com retenção, pela companhia, de todos os riscos afetos à futura aprovação do possível empreendimento”, diz Cordes na carta.

E continua: “O mínimo que se poderia exigir seria um processo concorrencial, no qual a Mitre poderia participar em conjunto com terceiros interessados; e quando muito, com eventual direito de preferência em igualdade de condições com a melhor oferta apresentada por incorporadores independentes.”

A proposta de aquisição foi aprovada em votação apertada, com apenas dois votos, de um total de seis conselheiros. Fabricio, o CFO Rodrigo Cagali e a VP de Negócios Gabriela Roggero se abstiveram.

Numa nova versão da ata da reunião que aprovou o negócio divulgada na sexta-feira à noite, a companhia disponibilizou os nomes dos conselheiros que deram voto favorável:  o chairman Pedro Barros Mercadante Oliva e Guilherme Affonso Ferreira, membro independente.

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