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Na Localiza, ponto de inflexão ainda não chegou. Mas há sinais positivos

Estabilização na depreciação no 1º tri foi ponto fora da curva; mas dinâmica em seminovos está mais favorável, afirma CFO

Localiza: depreciação por veículo na divisão de aluguel de carros ficou em R$ 6 mil,

Foto: Leandro Fonseca  (Leandro Fonseca /Exame)

Localiza: depreciação por veículo na divisão de aluguel de carros ficou em R$ 6 mil, Foto: Leandro Fonseca (Leandro Fonseca /Exame)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 10 de maio de 2024 às 14h05.

Última atualização em 10 de maio de 2024 às 15h27.

Numa tese de investimento que virou uma espécie de samba de uma nota só, a Localiza amanheceu em alta com os resultados do primeiro trimestre no que parecia ser um ponto de inflexão para o seu principal problema nos últimos anos: o aumento da depreciação dos veículos seminovos.

Após vários trimestres consecutivos de alta, a depreciação por veículo na divisão de aluguel de carros ficou em R$ 6 mil, contra R$ 6,1 mil nos três meses anteriores. Na vertical de gestão de frotas, uma dinâmica semelhante: R$ 6,6 mil, contra R$ 6,7 mil no quarto trimestre.

O call de resultados que começou por volta do meio-dia, no entanto, deu um banho de água fria.

“Estamos vendo novas quedas nos preços dos veículos em abril e maio, o que deve se traduzir numa depreciação maior no segundo trimestre”, afirmou o CFO Rodrigo Tavares logo na abertura.
Foi o suficiente para levar os papéis para o terreno negativo, com queda na próxima aos 3%.

Segundo ele, por um lado, a melhora no ciclo de crédito está se traduzindo em uma oferta melhor de financiamento, “já retornando os níveis pré-pandemia” – um incentivo importante principalmente para a venda de carros populares.

Além disso, com um foco forte em rejuvenescer sua frota – que acabou ficando mais velha durante a pandemia, quando as restrições na cadeia de abastecimento secaram a oferta de carros novos --, a companhia tem conseguido vender carros mais novos e de pouca quilometragem, que perdem menos valor.

Toda essa dinâmica positiva deve se manter. Mas não deve ser suficiente para conter a pressão de vem da postura mais agressiva das montadoras nos carros novos – que naturalmente se refletem em pressão sobre usados e impactam no valor residual dos veículos.

“Nossa eficiência [em seminovos] melhorou, com melhora nos nossos preços de venda em relação aos preços de mercado. Mas o fato é que os preços de mercado vêm caindo”, afirmou Tavares – sem dar uma sinalização de quando vê a tendência de fato se invertendo.

“O que posso dizer é que, nesse cenário de maior incerteza, somos muito mais cuidadosos na nossa alocação de capital”, disse o CFO.

O foco da Localiza nos últimos meses tem sido intensificar a venda na divisão de seminovos, com o objetivo de reduzir a idade da frota – que roda com menos custos de manutenção – e dos carros vendidos, que mantém mais seu valor.

Antes da pandemia, a companhia trabalhava com uma idade média dos carros vendidos de 14 a 15 meses. No primeiro trimestre, esse patamar está em 24,5 meses – ainda elevado, mas muito abaixo dos quase 30 meses do começo de 2023.

A dinâmica da depreciação também está diferente. Se por muito tempo, o desconto dos usados em relação aos novos estava muito elevado, hoje o gap vem se fechando e o principal vetor tem sido a queda no preço dos veículos 0km.

Isso é importante porque dá uma vantagem para a Localiza também do lado da compra. “Mais investimentos e mais oferta obviamente são um fator positivo para a Localiza, que é o maior comprador de carros do Brasil”, afirmou Tavares quanto questionado sobre o efeito da entrada mais agressiva montadoras chinesas no Brasil.

“Existem as distorções de curto prazo nos preços dos veículos, mas olhando no longo prazo, definitivamente é um fator positivo.”

Enquanto o mercado foca na depreciação num momento em que a companhia -- uma das favoritas históricas dos value investors -- negocia próxima a suas mínimas históricas, o balanço trouxe outras notícias positivas, com aumento sequencial no volume de vendas e no tíquete médio mostrando resiliência tanto no aluguel de carros quanto na gestão de frotas.

No primeiro trimestre, a receita líquida da Localiza cresceu 27% na comparação anual, para R$ 8,7 bilhões. O lucro subiu 40,6%, para R$ 743 milhões, ficando 8% acima do consenso de mercado.

“A demanda segue resiliente e conseguimos implementar aumentos de preços por dois trimestres consecutivos, o que não é trivial”, disse Tavares no call.

Mesmo com um cenário ainda complicado para seminovos, a última linha do balanço forte e a redução do spread entre a venda e a compra de veículos são boas notícias, afirmou o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) em relatório, reforçando sua recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 90, praticamente o dobro do atual valor de tela.

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