Hypera: oferta da EMS foi feita ao conselho de administração da companhia (Kinga Krzeminska/Getty Images)
Repórter Exame IN
Publicado em 14 de março de 2024 às 18h09.
Com um inverno mais quente que o esperado, a farmacêutica Hypera já tinha tido um terceiro trimestre difícil, que a obrigou a rever para baixo o guidance para todo ano, levando a uma rodada de redução de estimativas por parte dos investidores.
Os resultados do quarto trimestre, apresentados na noite de ontem, voltaram a frustrar. Receita, lucro e EBITDA vieram abaixo tanto das metas estipuladas pela companhia quanto do consenso de mercado – num balanço que o Safra classificou como “para esquecer”.
Como resultado, a ação caiu hoje mais de 4%, entre as maiores baixas do Ibovespa.
A receita líquida caiu 13%, para R$ 1,85 bilhão nos últimos três meses do ano, refletindo principalmente o recuo nas vendas de antigripais, para febre e analgésicos que representam um terço das vendas da companhia (contra 10% no mercado farmacêutico como um todo).
Os distribuidores também deram menos crédito para os pequenos e médios varejistas, o que atrapalhou a formação de estoques.
O CEO Breno Oliveira sinalizou em call que o mercado acelerou em janeiro e fevereiro, com crescimento mais próximo de um dígito duplo baixo.
Mas, em março, contudo, o crescimento deve voltar para um dígito, por conta de fatores sazonais, como reajuste de preços abaixo do de 2023, associado a uma menor quantidade de dias úteis – que impacta principalmente o varejo independente, que fecha nos domingos e feriados.
Segundo ele, as projeções para medicamentos antigripais e analgésicos estão abaixo da média histórica, de novo por causa da incerteza em relação ao inverno deste ano.
No seu guidance para 2024, a Hypera prevê crescimento de 9% em receita, pra R$ 8,6 bilhões, alta de 13% na EBITDA, para R$ 3 bilhões, e avanço de 8,4% no lucro líquido para R$ 1,85 bilhão.
Em linha com as expectativas, o número não foi suficiente para trazer ânimo – e diante das decepções recentes, agora é alvo de ceticismo.
“Ressaltamos que a companhia não entregou o prometido em 2023”, afirmou a equipe de Samuel Alves, do BTG (do mesmo grupo de controle da Exame).
A dor de cabeça na primeira linha do balanço se traduziu uma menor alavancagem operacional e pressão de margens do quarto tri.
O Ebitda caiu 21%, para R$ 581 milhões. Segundo analistas, o ponto positivo foi a conversão de Ebitda em caixa, passou de 68% no fim de 2022 para 131% nos últimos três meses de 2023.
O dado reflete uma dinâmica melhor de recebíveis e um capex menor, sem falar no impacto da desaceleração do faturamento da empresa — e a consequente redução na necessidade de capital de giro.
“Notamos, entretanto, que uma vez que a companhia volte a crescer, podemos ver um efeito rebote”, escrevem os analistas Rafael Barros e Raphael Elage, da XP.
Mesmo com a melhora, a alavancagem permanece alta. A Hypera fechou o ano com uma relação de 2,7 vezes dívida líquida/Ebitda, sem grandes mudanças em relação ao ano anterior. No quarto trimestre, a financeira foi de R$ 219 milhões, consumindo um terço do Ebitda. O lucro caiu 29%, para R$ 308 milhões.
No mercado, há preocupação com o aumento da capacidade da concorrência, principalmente em genéricos. Mas, no call, Oliveira minimizou a questão.
“A competição mais apertada vem principalmente por conta do nível de estoque dentro de casa, nosso e dos nossos concorrentes. Com isso, há alguma pressão em determinadas moléculas para fazer vendas e evitar descartes. Acreditamos que é um movimento de curto prazo. Com o estoque regularizado, a pressão diminui”, diz o CEO.
Do lado financeiro, o principal temor vem dos incentivos fiscais garantidos pela empresa e que podem mudar a partir da reforma tributária. O ponto também foi endereçado nesta manhã, com a resposta do CEO de que a companhia não deve ter mudanças significativas.
Analistas seguem acompanhando o tema com lupa. Para a equipe do Bradesco BBI, que definiu um preço-alvo de R$ 39 para a ação, a Hypera tem um potencial limitado de upside de 15%, principalmente influenciado por riscos em relação ao benefício tributário de ICMS depois da lei 14.789.
“O impacto potencial de impostos é de 23% em relação ao lucro líquido em 2024, o que levaria nossa relação de P/E de 11,7 vezes para 15 vezes, ante a média histórica de 13 vezes”, afirmam, em relatório.