Gerdau: mais de 60% do Ebitda da companhia vem da unidade América do Norte, que deve se favorecer de políticas protecionistas (Germano Lüders/Exame)
Repórter Exame IN
Publicado em 6 de novembro de 2024 às 12h39.
Última atualização em 6 de novembro de 2024 às 12h45.
A eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos entrou no radar da direção executiva da Gerdau, tanto pela expectativa de ver a operação na América do Norte beneficiada, mas, também, deixando as preocupações com o mercado brasileiro de aço ainda mais latentes.
Com forte operação na América do Norte, a metalúrgica deve se beneficiar das medidas protecionistas prometidas pelo republicano. Em seus dicursos de campanha, Trump defendeu a escalada de políticas protecionistas, bem como estímulos à produção doméstica e às companhias norte-americanas.
"No primeiro mandato de Trump teve medidas muito importantes de políticas afirmativas de defesa comercial contra importações predatórias, o que foi importante opara melhorar rentabilidade e trazer novos investimentos. Entendemos que isso deve continuar e puxar a demanda", disse Rafael Japur, CFO da Gerdau, em coletiva com jornalistas.
Agora, a companhia já enxerga melhoras, especialmente a partir do primeiro trimestre de 2025, passadas as incertezas eleitorais que afetaram a demanda. Mas também deve ter forte crescimento em 2026, quando haverá revisão do acordo comercial entre México, Estados Unidos e Canadá.
"Acreditamos que isso vai favorecer os produtores de aço na América do Norte como um todo e como temos operações lá, vai ser benéfico pra nós", diz o CEO, Gustavo Werneck. A empresa tem 14 unidades de produção de aços longos e especiais nos Estados Unidos, Canadá e México, sem grandes volumes de exportação para os locais.
O temor do CEO da Gerdau, no entanto, é de que a "invasão" do aço chinês se acelere no mercado brasileiro. "A China é grande causadora da perturbação no mercado global de aço."
Sem grandes estímulos para construção no país asiático, há uma produção excedente do aço chinês, que procura outros mercados globais para exportação, diz o executivo. O terceiro trimestre foi o de maior penetração de aço importado no ano, chegando a 19,2% de todo o mercado brasileiro, segundo a Aço Brasil.
"À medida que outros países vão colocando políticas mais robusta de defesa comercial,esse aço da China vai buscando novos mercados e um deles tem sido o Brasil. É fundamental que o governo seja célere na revisão das cotas-tarifas e coloque medidas mais fortes de defesa ao aço brasileiro. Esse mecanismo atual não tem sido efetivo", defende Werneck.
Por outro lado, a vitória de Trump fortaleceu a moeda norte-americana, o que também deve favorecer as operações da Gerdau. O dólar mais forte é estruturalmente positivo, pela operação nos Estados Unidos e Canadá, mas também deve ser um reforço contra as importações, que ficam mais caras.
No terceiro trimestre, o lucro líquido da companhia caiu 14%, para R$ 1,36 bilhão. A metalúrgica reportou números melhores na operação brasileira e conseguiu superar as expectativas do mercado para a operação na América do Norte, apesar dos efeitos da preocupação em torno das eleições, segundo os analistas do Safra e do Citi.
Por lá, as margens caíram para 17%, contra 21% no trimestre anterior, com a compressão do spread de metais e pior mix, impactado pela demanda mais fraca e maiores importações.
No Brasil, a margem saltou de 13,1% para 16,9%, com forte trabalho de redução de custos da companhia. Na operação de aços especiais, que inclui as plantas brasileiras e da América do Norte nesse segmento, a margem passou de 17,2% para 18,4%.
O desempenho no período e a vitória de Trump animaram os investidores e deram gás à ação da Gerdau, que lidera as altas no Ibovespa, subindo mais de 6%, para R$ 19,31.