Dinheiro: objetivo é que fundo ofereça retorno sem correlação com ativos específicos ou regiões (Getty Images/Getty Images)
Graziella Valenti
Publicado em 31 de maio de 2021 às 13h06.
Última atualização em 31 de maio de 2021 às 15h21.
Essa coisa de escolher nome para novos negócios e produtos tem ciência. Pelo menos, assim é na Galápagos, a gestora de recursos que tem um time de sócios estrelados que vão de Carlos Fonseca, ex-BTG Pactual, passam por José Ermírio de Moraes e inclui Marco Bologna, o ex-presidente da TAM.
Para quem colocou a cara na rua bem na pandemia, sobreviver seria um feito. Dar resultado é coisa só para quem busca mesmo liderar o processo de seleção natural. O fundo Evolution, o multimercado que é a essência da casa, completou um ano neste mês de maio com um retorno acumulado de 13%. O foco agora é acelerar captação. A Galápagos tem um total de R$ 1 bilhão em ativos sob gestão.
As brincadeiras e trocadilhos com o principal fundo da gestora são inevitáveis, uma vez que os sócios escolherem para nomear a empreitada a ilha que foi o berço da Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin. A casa tem ainda uma área de wealth management, ou gestão de fortunas, na qual cuida de mais de R$ 2,3 bilhões, de aproximadamente 3.300 clientes.
Desde o começo, o objetivo dos sócios foi conduzir os investimentos de uma maneira diferente da que o mercado está majoritariamente acostumado. O foco da gestão é buscar para o cliente o retorno absoluto da carteira investida de uma maneira descorrelacionada.
Trocando em miúdos: significa que o Evolution não tem um parâmetro de mercado específico — como CDI, IPCA, Ibovespa, etc — e nem uma estratégia única. O mesmo fundo investe em ativos de crédito, em moedas, em bolsa e por aí vai. Nem mesmo há uma concentração regional. “Excluindo a parte de crédito, que hoje representa 40% de tudo, a exposição ao Brasil está hoje em 15%”, explica Carlos Fonseca, em entrevista ao EXAME IN.
É, de fato, uma evolução em termos de produto, uma vez que os investidores estão acostumados com fundos super dedicados e cada vez mais especializados. O objetivo essencial aqui é rentabilizar o patrimônio e cuidar também da alocação, pois a carteira não tem paredes ou caixinhas que engessem as aplicações.
“São dez estratégias diferentes, com mercados diferentes, conduzidas por times especializados e todo mundo atrás de alfa. Todos remunerados e alinhados com performance do fundo”, completa Sérgio Zanini, sócio-gestor dos fundos. Alfa é aquele retorno que supera o desempenho do ativo original, como a bolsa, o juro, o dólar e assim vai.
“Absolutamente todas as nossas estratégias têm meta de retorno absoluto. Não estamos fazendo composição de long only [fundo que investe em bolsa com visão de longo prazo e fica todo tempo “comprado” no mercado]. O gestor de bolsa, se a bolsa for cair, precisa ganhar dinheiro com isso e acertar”, detalha o maestro do time. Por isso, tentar comparar o retorno do Evolution é um desafio. Não há pares iguais na indústria no Brasil.
Nessa busca por retorno, um dos pilares da Galápagos é a capacidade de gerar dentro de casa os ativos de crédito, com a análise feita internamente e ainda a estruturação da melhor alternativa possível na hora de unir quem precisa pegar recursos e quem quer investir. Não por acaso a gestora ficou cerca de um ano funcionando sem por o nariz fora da porta justamente para, primeiramente, formar esses ativos.
“Sempre tivemos convicção que, para crescer, são necessários três pilares: originação proprietária de ativos, inteligência — nosso time tem mais de 100 pessoas — e ainda a capacidade de gerir passivos e distribuir produtos”, completa Fonseca, lembrando que a Galápagos é sócia na EQI, o escritório de agentes autônomos que fez sociedade também com o BTG Pactual (do mesmo bloco de controle da EXAME) para iniciar uma corretora. Além disso, a gestora também é dona da Grafeno, uma fintech que complementa a estrutura de geração de ativos de crédito.
A EQI tem atualmente cerca de R$ 8 bilhões sob seus cuidados e, de acordo com Fonseca, o ritmo de captação de recursos está na casa de R$ 1 bilhão ao mês.
A área de estruturação de crédito já alcançou R$ 400 milhões. De tudo que é produzido internamente, cerca de 80% fica com a Galápagos e 20% é ofertado ao mercado. “A gente não fica dependente dos bancos que, claro, ficam com os melhores ativos que geram para eles próprios. Buscamos as melhores oportunidades sem intermediários. Esse é um ambiente em transformação no mundo todo. Nos Estados Unidos, mais de dois terços do mercado de crédito está no shadow banking”, comenta, referindo-se ao sistema que une tomadores de recursos e investidores fora da estrutura dos grandes bancos, via mercado financeiro.
Bruno Carvalho, sócio que está à frente da estratégia comercial, aponta que o movimento de financial deepening no Brasil está apenas no começo e que o mercado ainda vai se desenvolver muito. Na visão do sócio, que tem experiência internacional nos Estados Unidos e na Inglaterra, os grandes hedge funds globais já atuam com uma visão de multi-classes de ativos que faz as carteiras não ficarem suscetíveis a um único risco ou região.
“É claro que, mesmo dentro do esforço de todas as frentes buscarem retorno, algumas classes de ativos estão melhores do que outras ao longo do tempo, e a gestão sabe se organizar nessa exposição, para entregar o resultado da melhor alocação para o cliente”, enfatiza.
Que o mundo mudou em 12 meses todo mundo sabe. Se adaptar a isso é que são elas. Zanini conta como o fundo foi navegando esse período. Num primeiro momento, no auge do nervosismo, surgiram diversas oportunidades no mercado de crédito, segundo ele. Havia papéis de grandes companhias, como Avon, por exemplo, com descontos muito interessantes.
Com o passar do tempo, o crescente avanço nas pesquisas por vacinas e a eleição americana, o cenário de juros foi se tornando interessante e as commodities começaram também a se destacar. Agora, na casa, há uma aposta de correção na bolsa americana, de depreciação do dólar — "um movimento que está atrasado, inclusive", segundo o gestor — e o gosto por algumas commodities selecionadas.
"Existem histórias diferentes nas commodities agora. Cobre, alumínio e lítio, por exemplo, estão relacionados ao processo de digitalização e eletrificação. Tem ainda as proteícas e agrícolas, que serão influencidas por um processo de redistribuição de renda", conclui Zanini. Agora, é preciso mais do que nunca olhar cada narrativa de perto.
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