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Negociação de Amil e Dasa retoma jogadas de xadrez no mercado de saúde

Momento é de “assentamento do mercado e mais oportunidades", diz Luiza Mattos, sócia do setor na Bain & Company

Amil: aquisição por US$ 2,25 bilhões representou 60% do valor total das transações no setor (Amil/Divulgação)

Amil: aquisição por US$ 2,25 bilhões representou 60% do valor total das transações no setor (Amil/Divulgação)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 13 de junho de 2024 às 12h35.

Última atualização em 13 de junho de 2024 às 20h05.

Na saúde, as jogadas de xadrez estão voltando à mesa. Depois de números expressivos de fusões e aquisições entre 2020 e o começo de 2022, o setor passou por um período de hibernação, com os balanços das operadoras de planos apertados pelo efeito da pandemia e os prazos de pagamento mais longos queimando os caixas dos prestadores de serviço.  

Realizada no apagar das luzes, em dezembro de 2023, a compra da Amil pelo fundador da Qualicorp, José Seripieri Júnior, foi o destaque do ano passado e a primeira indicação de que os negócios iriam começar a se reaquecer.  

Em 2023, o setor de saúde no Brasil movimentou US$ 3,4 bilhões. A aquisição da Amil por US$ 2,25 bilhões representou 60% do valor total das transações no setor. No total, o setor de saúde representou cerca de 6% das fusões e aquisições no país, tanto em valor quanto em volume. Em 2021, o setor foi 9% da quantidade de deals fechados e mais de 17% do valor do total de M&As.  

Agora é o potencial negócio justamente entre Amil e Dasa que deve destravar o pipeline de transações do setor. Na segunda-feira, 10, a Dasa confirmou que negocia com a Amil para unir os hospitais das duas companhias sob o guarda-chuva da Ímpar, que passará a ter o controle dividido. Enquanto isso, outros nomes também entram no radar, como a Kora, que vive momento financeiro complexo e uma disputa entre acionistas, e operações das Unimeds pelo país também buscando formatos saudáveis.  

Até o fim do ano passado, havia menos movimentos óbvios de consolidação, defende Luiza Mattos, sócia da Bain & Company para o setor. “Já tinha acontecido consolidação no setor de pagadores, diagnósticos também já tinha tido uma grande onda”, observa. Além disso, a percepção era de que os ativos estavam mais caros e todo mundo estava focado em gerir as margens e “não se distrair”.   

De acordo com ela, o momento é de “assentamento do mercado e mais oportunidades na mesa”. O setor enfrenta desafios, especialmente no subsetor de pagadores, que lida com margens pressionadas e resultados negativos, em parte devido à alta sinistralidade no período pós-pandemia.

A recuperação está fortemente correlacionada com fatores exógenos - como custo da dívida e inflação controlada- e endógenos - como revisões de regulamentações de coberturas, captura de eficiências dos grandes M&As passados, e sinais de sucesso na gestão do beneficiário e racionalização de custos, para recompor margens no setor. 

Esse contexto cria um ambiente propício para movimentos de consolidação e busca por eficiência, seja por meio de ganhos de escala ou pela adoção de novos modelos operacionais. Estudo exclusivo da Bain obtido pelo INSIGHT mostra que, embora fusões e aquisições buscando ganho de escala ainda sejam bastante frequentes, elas vêm perdendo força em relação ao que já trouxeram historicamente.  

Em 2018, testes de ganho de escala representavam 75% das transações – eram 40% em 2023. “Passados os movimentos mais evidentes e esperados de consolidação no setor, com os líderes de mercado concentrando maior participação do mercado, vemos uma transição para teses de investimento mais disruptivas, buscando a entrada em novos elos da cadeia de valor e o desenvolvimento de novos modelos de acesso e assistência”, destaca Mattos.

Especialmente nessas duas teses também há maior presença de private equity como motor de investimento, atuando em mais 70% das transações, destaca o estudo. 

O objetivo dos compradores neste caso é buscar mercados de maior margem ou mercados que permitem ser mais “dono” da jornada do paciente, o que também traz ganhos de eficiência.  

É o caso, de investidas recentes, por exemplo da Bradesco Saúde. Com sinistralidade em alta, a operadora tem feito movimentos de joint venture com prestadores. Em 2023, anunciou operações com o Mater Dei e o Einstein para construção de hospitais em São Paulo e com o Grupo Santa, líder no Centro-Oeste. Neste ano, surpreendeu o mercado ao anunciar uma JV com a Rede D’Or para três hospitais que já estão em construção e devem ficar prontos ainda este ano.

As próximas jogadas, porém, dependem, ao menos em partes, do sucesso das apostas recentemente feitas, segundo a sócia da Bain: “Para haver uma retomada consistente de deals, as empresas que fizeram transações recentes precisam conseguir estabilizar as operações e capturar sinergias.” É a sinalização de que os investimentos se traduzem em ganhos de eficiência. 

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