Ely Lilly: Tratamento deve custar US$ 32 mil por ano (haydenbird/Getty Images)
Repórter Exame IN
Publicado em 4 de julho de 2024 às 17h39.
Última atualização em 4 de julho de 2024 às 17h50.
A esperança por um tratamento para o Alzheimer deu um passo importante nesta semana. Após meses de expectativa – e muita polêmica –, a Food and Drug Administration (FDA, a Anvisa dos Estados Unidos) aprovou uma nova droga para a doença, desenvolvida pela Eli Lilly.
Sob a marca Kisunla, a substância, chamado donanemab, deve chegar às prateleiras nos próximos meses. O medicamento funciona atuando na placa amiloide, uma proteína que se acumula no cérebro dos pacientes com Alzheimer e leva à morte de neurônios.
Não se trata de uma cura, mas de uma substância capaz de desacelerar o ritmo de declínio cognitivo em pacientes diagnosticados nos estágios iniciais da doença.
O efeito é modesto, mas poderoso em relação às alternativas disponíveis até o momento. Na fase 3 dos ensaios feitos pela Lilly, o Kisunla teve efeito em 35% dos pacientes. O declínio cognitivo desacelerou cerca de 4 meses e meia a até 7 meses e meio ao longo de 18 meses naqueles que receberam donanemab em comparação com aqueles que receberam placebo.
Quase metade dos que receberam donanemab permaneceu no mesmo nível cognitivo um ano após o início do estudo, em comparação com 29% dos que receberam placebo.
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O Kisunla é semelhante a outro medicamento, Leqembi, fabricado pela Esai e Biogen, aprovado no ano passado. Ambos são infusões intravenosas que atacam uma proteína envolvida no Alzheimer, e ambos podem retardar o avanço da demência por vários meses.
A grande vantagem do Kisunla é o tempo de aplicação. O Leqembi é administrado a cada duas semanas, enquanto o Kisunla é administrado mensalmente.
O Kisunla será vendido a um preço de lista de U$$32 mil por ano de tratamento, 20% mais alto do que o custo anual de US$26,5 mil do tratamento concorrente.
Mas, de acordo com a Lilly, a sua droga permite que os pacientes interrompam o tratamento após eliminar o amiloide, permitindo-lhes “parar e não continuar pagando pelos custos do medicamento”, afirmou Anne White, presidente da divisão de neurociências da Eli Lilly, em entrevista a veículos internacionais.
Nos testes clínicos, quase metade dos pacientes no ensaio eliminou o amiloide após um ano, permitindo-lhes interromper o tratamento (o dano cognitivo ligado ao amiloide ainda permanece, no entanto).
A eficácia dos medicamentos agora aprovados é vista com ceticismo por parte da comunidade médica.
Os efeitos colaterais podem ser severos e incluem inchaço e hemorragia cerebral – até 30% dos participantes de testes clínicos tiveram registros desse tipo. Ainda assim, os benefícios superaram os riscos e efeitos colaterais, na avaliação do FDA.
Parte dos especialistas em Alzheimer discordam e são mais céticos em relação ao risco-retorno. Alguns deles, ouvidos pelo The New York Times, ponderam ainda que a ênfase nos medicamentos antiamiloide possa desencorajar os pacientes de participar em ensaios para tratamentos que poderiam ser mais eficazes.
A expectativa de aprovação do medicamento foi um dos fatores a impulsionar o papel da Lilly neste ano, acumulando uma valorização de 54%. As vendas do Mounjaro, um medicamento para diabetes e obesidade similar ao Ozempic, também estão por trás do desempemho. No entanto, a ação perdeu fôlego mais recentemente, avançando pouco mais de 7% no último mês.
Estima-se que 7 milhões de pacientes sofram de Alzheimer nos Estados Unidos. Mais de 1 milhão de pacientes em estágio inicial serão elegíveis para o medicamento da Eli Lilly, de acordo com o Financial Times.