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Na BRF, o semestre que valeu por um ano

No segundo trimestre, Ebitda somou R$ 2,6 bilhões e lucro foi de R$ 1,1 bilhão, batendo consenso de mercado, com aumento de países habilitados e ciclo positivo do frango

BRF: receita ficou 22% maior puxada por ganho de volume (Germano Lüders/Exame)

BRF: receita ficou 22% maior puxada por ganho de volume (Germano Lüders/Exame)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 14 de agosto de 2024 às 19h36.

Última atualização em 15 de agosto de 2024 às 11h12.

A BRF aproveitou os ventos favoráveis para as proteínas de frango e suína e acelerou o ritmo de melhoria do negócio.

Em 2024, registrou seu melhor segundo trimestre da história, com lucro líquido de R$ 1,1 bilhão e geração de caixa livre de R$ 1,7 bilhão -- a maior da companhia em um trimestre. Um ano antes, tinha reportado prejuízo quase da mesma ordem, de R$ 1,34 bilhão.

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O Ebitda somou R$ 2,6 bilhões, 160% maior do que em 2023 e acima das expectativas do mercado. Com isso, chegou ao menor patamar de alavancagem dos últimos nove anos, a 1,14 vez.

"Nos primeiros seis meses do ano, tivemos resultados equivalentes a todo o ano de 2023", diz o CFO, Fabio Mariano.

A receita somou R$ 14,9 bilhões, ficando 22% maior do que um ano antes. No mercado interno, a receita operacional líquida foi de R$ 6,9 bilhões, 11,5% comparado ao primeiro trimestre de 2024. Esse avanço é atribuído, segundo a empresa, aos processados, que respondem por 70% do mercado nacional e cujo volume cresceu 15%.

No Brasil, a margem Ebitda foi de 15,7%, 6 pontos percentuais a mais, com ganho de 300 mil clientes movimentados a mais e 10 mil pontos de venda adicionais em relação ao primeiro trimestre.

No mercado internacional, mais uma surpresa positiva. A receita chegou a R$ 7 bilhões, com crescimento muito próximo de 10% ante primeiro trimestre ou 17% contra o mesmo período de 2023. A margem Ebitda foi forte, chegando a 21%, como resultado da recuperação de preços e do bom desempenho na Turquia e no Golfo.

No segundo trimestre, a companhia foi ainda mais ativa na habilitação de novos mercados, o que ajuda a diversificar os bolsos a que tem acesso. Foram 32 novos mercados no segundo trimestre, totalizando 57 no semestre.

"Quando você tem mais habilitações, tem mais poder de escolha de onde vai vender e daí não precisa fazer renúncia de preço", argumenta Miguel Gularte, CEO da BRF.

Os preços mais baixos para os grãos continuaram a favorecer a companhia, reduzindo os custos e impulsionando a margem operacional. Parte do mercado previa que uma mudança desse cenário viesse já no segundo semestre deste ano, mas as projeções já começaram a mudar e sinalizar uma prorrogação do ambiente favorável.

De acordo com Leonardo Dall’Orto, vice-presidente de Mercado Internacional e Planejamento, o cenário de grãos é o mais estável dos últimos anos e o risco da La Niña tem se enfraquecido, indicando haver mais tempo de preços mais baixos. "O cenário está muito mais estável, mais do que altista."

A demanda e a queda de preços dos grãos ajudam a explicar o resultado da companhia, mas não são os fatores únicos. A margem Ebitda de 17,6%, mais de 9 pontos percentuais maior do que a do ano passado, também tem a ver com a evolução do programa BRF+ e a execução da operação comercial, destaca o CFO.

O BRF+ trouxe mais R$ 374 milhões em captura de eficiência. "O BRF+ é um programa de melhora contínua. Temos focado em todas as áreas da companhia. À medida que o tempo passa, novas oportunidades aparecem e isso gera um ciclo virtuoso", acrescenta Gularte. Agora, a empresa já elabora as métricas da versão 3.0 do BRF+, que irão ditar seu orçamento em 2025.

Na frente comercial, a dona da Sadia e da Perdigão tem sido mais ativa na captura de novos clientes, bem como na inovação em produtos e na redução de portfólio, tirando produtos que não eram rentáveis. No segundo semestre a companhia deve intensificar investimentos na marca Perdigão que está completando 90 anos e cuja sazonalidade é forte no fim do ano, com as festas de Natal e Ano Novo.

Alocação de capital

A forte geração de caixa deixou a companhia numa posição de caixa confortável e em seu menor patamar de endividamento desde 2016. Hoje, detém R$ 8,9 bilhões de dívida.

Na avaliação de Mariano, o processo de desalavancagem ocorreu como esperado, desde a capitalização de R$ 5,4 bilhões no ano passado, o que levou a BRF a pagar menos despesas financeiras. Por outro lado, a melhora operacional se intensificou bastante, em ritmo mais acelerado do que era esperado.

Agora, com R$ 13 bilhões em posição de caixa, é natural, diz o vice-presidente de finanças, que o endividamento bruto da companhia se reduza no segundo semestre. "Temos bastante liquidez disponível e é fato que devemos começar a endereçar com mais intensidade o caixa em prol de redução do endividamento bruto e, por consequência, reduz os spreads", diz.

Além disso, parte do endividamento da BRF já está arbitrado. Ou seja, a remuneração do caixa é superior ao custo da dívida, devido a transações de swap em que foi possível transferir dívida em dólar para dívida em real em condições melhores.

O pagamento de dividendos, porém, é assunto para o conselho e o controlador, segundo ele. "A administração entende que precisa estar focada e direcionada em melhorar o perfil de negócio da companhia, criando as condições que ela seja rentável."

Na esteira dos bons números da JBS, dona da concorrente Seara, as ações da BRF saltaram mais de 4% no pregão anterior à divulgação do balanço.

Hoje, a BRF tem valor de mercado de R$ 39,55 bilhões, com alta acumulada de 77,43% no ano.

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