Fábio Zanfelice, CEO: Aquisição da AES segue sem surpresas, com previsão de conclusão até o fim de outubro
Editora do EXAME IN
Publicado em 1 de agosto de 2024 às 18h44.
Última atualização em 2 de agosto de 2024 às 10h34.
Depois de um começo de ano mais fraco, os ventos voltaram a soprar e aumentaram a geração eólica da Auren em 16% no segundo trimestre – compensando em parte a queda na receita com as hidrelétricas devido à redução do despacho das usinas de Porto Primavera .
A empresa, controlada pelo Votorantim e pelo CPP, teve um lucro de R$ 91,1 milhões no período, queda de 50,2% frente ao segundo trimestre de 2023, impactado principalmente pela redução das receitas financeiras.
O recuo, contudo, é mais efeito de base de comparação. No período equivalente do ano passado, a Auren tinha contabilizado receitas financeiras e atualizações monetárias que acabaram por afetar positivamente a última linha do balanço.
Do ponto de vista operacional, a receita líquida ficou praticamente estável, em R$ 1,45 bilhão, leve alta de 0,9%. Diante de preços menores, o faturamento das eólicas subiu 3,6%, enquanto das hidrelétricas caiu 7% e houve a entrada em operação de mais uma fase do projeto Sol do Jaíba, que trouxe mais R$ 20 milhões para o balanço.
O braço de comercialização também contribuiu para o faturamento, com alta de 7,6%, impulsionado principalmente pela venda de energia compradas a preços mais baixos e vendida num momento de repique do mercado.
“Há uns dois trimestres falamos que os preços no mercado estavam abaixo do fundamento. e vamos seguir aproveitando esses movimentos oportunísticos para fazer dinheiro com os trades”, aponta o CEO Fabio Zanfelice. A comercializadora segue praticamente integralmente contratada, com uma média de 95% de contratação entre 2024 e 2026.
As despesas seguiram controladas, com o PMSO, que responde pela fatia com pessoal, manutenção e serviços com alta de 4%, praticamente em linha com a inflação, a despeito da entrada em operação de Jaíba e dos custos envolvidos no processo de compra da AES Brasil, anunciado em maio.
Com isso, o EBITDA ajustado teve alta de 5%, para R$ 456,6 milhões, em linha com o consenso do mercado.
Com a transação já aprovada pelo Cade e ainda pendente do aval da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a expectativa da companhia é concluir a fusão com a AES Brasil até 31 de outubro.
A assembleia deve ser convocada em ainda neste mês. Por enquanto, as empresas já vêm trabalhando na integração, principalmente de olho no operacional, para mapear as oportunidades de melhora de disponibilidade para geração de energia dos ativos da AES e já de olho na gestão de passivos da nova companhia.
Recém-chegado na Auren para liderar o processo de integração da nova companhia, o CFO Mateus Ferreira – que já fazia parte do conselho de administração da companhia – afirma que a companhia está com balanço confortável para a operação.
A Auren tem R$ 5 bilhões em caixa e uma dívida líquida de R$ 3,3 bilhões, com prazo médio de 7,4 anos e custo médio de 11,25% ao ano.
“É um caixa acima do que a gente julga necessário, com um perfil de dívida de prazo longo, com um custo bastante competitivo”, afirmou.
A empresa tem um empréstimo ponte de R$ 5,4 bilhões contratados com um sindicato de bancos e prazo de quatro anos para financiar a transação, que deve demandar desembolsos de até R$ 6 bilhões, a depender da adesão na forma de troca de ações.
“Vamos ter um trabalho de reperfilamento da dívida da empresa combinada, mas há espaço e tempo para fazer isso de forma que possamos aproveitar as melhores janelas de mercado”, afirmou o executivo.
Como a AES estava bastante endividada, a expectativa é que a empresa combinada tenha uma alavancagem na casa de 4,9 vezes EBITDA contra as 1,8 vezes atuais da Auren.
Um dos principais temas para as geradoras de energia renovável, os cortes de energia (ou curtailments, no jargão do setor) determinados pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) para evitar problemas de carga no sistema principalmente em momento de menor demanda, tem sido um problema menor para a Auren.
No segundo trimestre, a média de cortes de geração para o Brasil como um todo ficou em 4,8% para a fonte eólica e de 7,6% para a fonte solar, enquanto nos ativos da Auren, esses percentuais foram de 1% e 5,6%, respectivamente.
“Os Estados mais afetados tem sido o Rio Grande do Norte e o Ceará, por questões da grande concentração de renováveis e limitações na rede de transmissão”, afirma. “De forma geral, é um problema que nos afeta menos, ainda que no solar tenha um corte um pouco mais relevante que no caso da eólica.”
No caso da Auren, a principal questão veio do despacho das hidrelétricas, que acabaram tendo a vazão preservada por orientação do ONS para evitar problemas maiores na Bacia do Paraná, depois da estiagem verificada em 2021.
Desde o fim de março, a vazão em Porto Primavera foi reduzida de 4600 metros cúbicos por segundo para 3900. A expectativa é que essa redução de vazão siga nos próximos trimestres.
“Isso denota a importância de ter um perfil complementar de geração em termos de fontes para manter uma maior previsibilidade e estabilidade de receita”, diz Zanfelice. “É algo que já vínhamos buscando e vamos ganhar ainda mais com AES.”