Eduardo Prota com o cartão dos embaixadores: clientes terão conta de pagamentos ativada, serviços e cartão transparente (Gabriel Saraiva/N26/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 11 de novembro de 2021 às 10h21.
Última atualização em 11 de novembro de 2021 às 11h35.
A segunda geração de fintechs no Brasil começa agora. O banco digital de origem alemã N26 vai finalmente dar a largada na operação brasileira, uma expectativa que existe há mais de dois anos e foi adiada pela pandemia. “Não sou fintech, sou fincare”, afirma ao EXAME IN Eduardo Prota, presidente da instituição aqui, inaugurando um novo conceito de serviços. Por isso, é a N26, e não o N26. O executivo começa a conversa a partir desse ponto para já pavimentar a ideia de que vair ser diferente.
Para quem acha que cuidar do dinheiro significa dar conselhos de investimento, ledo engano. É tudo que vem antes. O objetivo da N26 para se diferenciar em um mercado já ultra povoado de novidades — e sede do maior banco digital do mundo, o Nubank — é ajudar as pessoas a se relacionar com o dinheiro.
E para estrear no país do jeito que o brasileiro gosta, a N26 vai promover uma ação inédita e convidar 2.000 clientes — a instituição tem uma fila de 200 mil pessoas — para participar da etapa final de desenvolvimento das ferramentas. "Eles serão insiders. Vão co-criar conosco", diz Prota.
“Ser fincare não se trata apenas de educação, conteúdo e organização de despesas em gráficos. A questão é como eu vou trabalhar para que isso vire ações e decisões”, destaca Prota. “Esse é um país em que 7 a cada 10 pessoas estão endividadas.” Esse é o pilar de diferenciação que a N26 vai usar para oferecer junto com os serviços de conta de pagamentos e cartão crédito.
No mundo, a N26 tem 7 milhões de clientes e acaba de ser avaliada em US$ 9,2 bilhões, em uma rodada de captação que levantou US$ 900 milhões — acumula assim US$ 1,8 bilhão em aportes. Na Alemanha, está atrás apenas do Deutsche Bank, a maior instituição do país. Mas o serviço de um dos bancos digitais mais conhecidos da Europa já se espalhou por 25 países – 24 no velho e sábio continente, mais Estados Unidos. O Brasil é, por coincidência, o 26º. A N26 foi criada pela dupla Valentin Staff e Maximilian Tayenthal ainda em 2013 e é considerada o primeiro banco digital do mundo.
“Mesmo nesse mercado já povoado, o brasileiro está acostumado que a responsabilidade do cuidado fique toda com ele, cliente. No máximo, te oferecem um monte de informação e depois dizem ‘agora decide você’. Aqui, não vai ser assim. Vamos realmente dar ferramentas plug and play para as pessoas se organizarem de verdade”, explica Roberta Savattero, responsável pelo marketing da N26. “Nossas soluções serão simples, automatizáveis e colaborativas”, completa Prota.
A instituição vai iniciar agora a fase que executivo chamou de “inteiração orgânica e atuante”, quando na semana passada começava a se apresentar ao público e ainda fazia mistério sobre o que isso queria dizer. Ao EXAME IN, Prota e Roberta abriram os planos, e tudo ficou mais claro com o programa de clientes.
A seleção dessas 2.000 pessoas será relâmpago: começa hoje e dura apenas oito dias (até dia 19). Não como regra, mas parâmetro, vão buscar candidatos entre 20 e 40 anos, que gostem de novidades e tecnologia e estejam prontos para entrar em contato com uma solução ainda não em estado perfeito, uma obra inacabada, sem os retoques finais. Quem ainda não está na fila de usuários, precisa se cadastrar e todos devem encaminhar um vídeo à instituição.
Há quatro dias, começou um trabalho de verificação da base de 200 mil usuários interessados acumulada nos últimos dois anos e, em um curto espaço de tempo, 50 mil já confirmaram a manutenção do interesse. “Nos surpreendemos com o rápido retorno”, comenta Roberta.
Os consumidores selecionados para a criação conjunta atuarão como “embaixadoras” da marca e essa identidade vai sobreviver além do período de desenvolvimento. Como poderão já experimentar o serviço, os eleitos receberão um pacote de benefícios, como consultoria e acompanhamento financeiro e cartão de crédito. Mas não qualquer um. Será uma edição especial e exclusiva para esse time. Um dos valores que são os pilares da filosofia da N26 é a transparência e, por isso, metade do plástico será translúcida. Roberta explica que a gestão e a equipe de desenvolvimento da N26 vão estar muito próximos desse coletivo, que será organizado e terá acesso a ferramentas de trabalho para poder atuar.
Em sua operação internacional, a N26 tem 1.500 funcionários, de 80 nacionalidades, espalhados por 10 escritórios globo afora. Por aqui, por enquanto, são 50 colaboradores, mas esse total deve alcançar 300 no ano que vem, que vai marcar a estreia oficial dos serviços ao público.
Daqui, até o lançamento comercial, que ocorrerá no primeiro semestre de 2022, esse grupo de clientes vai atuar, inclusive com encontros, para debater os ajustes finos da sua solução. “Eu preciso ser muito ágil, muito rápido. Não posso me dar ao luxo de cometer erros básicos na largada. Tudo tem que estar perfeito para as necessidades do brasileiro e as funcionalidades, testada”, afirma o executivo.
“Não queremos chegar como um banco alemão que atua na Europa e sair vendendo sem saber muito bem o que e como o consumidor daqui quer. Lógico, partimos de uma estrutura, mas a sensibilidade final, o ajuste fino, vem dessa fase agora. Somos uma fincare para brasileiros”, enfatiza Prota. A estratégia de convidar os clientes para ajudar no produto final está distante de ser uma praxe da N26. É um desenho e uma campanha exclusiva para o Brasil.
“Nesses anos recentes todos se falou muito de planejamento financeiro. A questão é que ele ficou desconectado do presente. Nós vamos trazer ele para o dia de hoje”, promete o presidente da primeira fincare do país. Agora, é aguardar.
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