Franklin: crescimento da divisão RAC deve ajudar a conter avanço dos juros sobre a dívida da companhia (Antônio Teixeira/Divulgação)
Karina Souza
Publicado em 2 de agosto de 2022 às 08h28.
A Movida mostra, nos resultados do segundo trimestre, que a estratégia de expansão em um ambiente macroeconômico mais hostil 'pesou' na última linha do balanço. O lucro líquido cresceu 7,4% na comparação anual, para R$ 186,4 milhões, um ganho que não reflete nem de longe a expansão da receita no período, de mais de 90%, para R$ 2,3 bilhões. Entre um e outro, estão fatores enumerados de forma clara tanto no documento quanto na fala de Renato Franklin, CEO da companhia: aumento de custos com depreciação – foram 15 mil carros a mais no trimestre – e a disparada da Selic, que fez o serviço da dívida mais do que quadruplicar no período, ante a comparação anual.
O balanço deixa claro o impacto, principalmente do segundo ponto, na operação da companhia. O Ebitda cresceu 133% de um ano para o outro, totalizando R$ 905,3 milhões. A margem Ebitda, considerando a receita líquida total, foi de 39,2%, patamar que reflete ganho de 7,2 pontos percentuais na comparação anual. Chegar a esses resultados é possível principalmente pelo efeito do aumento de preços praticados pela companhia, somado ao aumento da demanda principalmente pelos serviços de Rent-a-car (RAC), além dos efeitos positivos da incorporação da CS Frotas, adquirida em 2021.
Olhando para a divisão de Rent-a-Car (RAC), trata-se da mais representativa em termos de ganhos de Ebitda: 173,5% de um ano para o outro, para R$ 384,8 milhões. A margem Ebitda, de 60,3%, representa avanço de 19,2 pontos percentuais na comparação anual. “Esse crescimento vai ajudar e muito a compensar a despesa financeira e a depreciação que vêm pela frente”, diz Renato Franklin, CEO da Movida, ao Exame IN.
Os resultados vieram mesmo com aumento de 48% nas despesas gerais e administrativas, reflexo da inauguração de novas lojas no período. E foram possíveis principalmente pela estratégia de precificação da companhia, que repassou em grande parte o aumento de custos (inflação) no período: a diária média chegou a um novo patamar recorde, de R$ 126,00, com taxa de ocupação de 79,3%.
De olho em mais aumentos de preços ao longo do ano, o CEO afirma desde já que o crescimento da divisão – e consequentemente, da companhia – deve ser menor ao longo do ano. “Tanto em frota quanto em receita, vamos crescer menos. Poderíamos dobrar de tamanho todo ano, é claro, mas o repasse de preços vai continuar e trazer essa consequência. Reflete nosso compromisso de geração de valor e de ter o melhor retorno da indústria”, diz Franklin.
No período, a companhia também apresentou crescimento significativo na divisão de aluguel para frotas (GTF). A receita líquida subiu 125,1% na comparação anual, seguindo a mesma estratégia de RAC: aumento da frota e do preço médio, seguindo o repasse de juros e preços de veículos para renovação e aumento da frota para novos contratos. O Ebitda também foi impulsionado também em triplo dígito (+146,8%) na comparação anual, totalizando R$ 315,2 milhões. A margem Ebitda ficou em 71,5%, ganho de 6,3 p.p. na comparação anual.
Por último, está a vertical de Seminovos. A receita líquida também cresceu (82,4% na comparação anual) para R$ 1,2 bilhão, número que reflete tanto o aumento no número de carros vendidos (eram 12 mil há um ano ante 18 mil nos três meses encerrados em junho) e o aumento de preço, com tíquete médio de R$ 66,6 mil. A renovação da frota e a maior participação do atacado nos canais de venda permitiram o resultado. O Ebitda cresceu 70,9%, para R$ 205,2 milhões. E a margem Ebitda recuou 1,1 ponto percentual, para 16,7%.
No período, a divisão também registrou uma nova queda de margem bruta, em linha com o observado desde o quarto trimestre do ano passado. De acordo com o CEO, mais quedas estão previstas ao longo dos próximos trimestres nesse indicador, de olho em uma retomada gradual aos patamares do pré-pandemia (de cerca de 10%).
“A notícia boa, aqui, é que a receita deve continuar crescendo, por carro vendido, e a despesa deve ser cada vez mais diluída. Quando abrimos capital, falávamos em ficar abaixo de 10% [em despesa como % da receita] e todo mundo achava que era loucura. Batemos 5,9% e deve diminuir cada vez mais. Isso deve permitir que a margem Ebitda não caia nos mesmos patamares da margem bruta”, diz Franklin.
Passando dos indicadores operacionais para os financeiros, a companhia é mais uma das afetadas de forma significativa pelo aumento da Selic ao longo do último ano. A despesa financeira fechou o trimestre em R$ 399,4 milhões, aumento de 429,3% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Além do aumento do CDI no período, a companhia também contraiu mais dívida de lá para cá. Precisamente, R$ 6,4 bilhões a mais em relação ao segundo trimestre do ano anterior – usados principalmente para a expansão de frota.
Como resultado, a razão entre dívida líquida e Ebitda da companhia fechou o trimestre em três vezes. “Chegamos em uma escala que foi até reconhecida pela Fitch e nos concedeu rating triple A no Brasil e duplo B no global. Isso vai nos ajudar a reduzir custo de capital, na medida em que continuamos a trocar a dívida mais cara por uma mais barata a partir desse novo reconhecimento. Tenho caixa para os próximos três anos de dívida, então não estamos sob pressão para crescer. Nosso foco é manter um balanço saudável, com prazos bastante longos para pagamento. E que dê para fazer a companhia crescer, obviamente em um ritmo menor do que o do ciclo anterior”, diz Franklin.
Questionado a respeito dos planos de futuro para a companhia, o executivo cita que o foco principal do próximo ciclo de crescimento (ao longo dos próximos dois anos) será o de construir novos benchmarkings de eficiência operacional, especialmente com o uso de tecnologia. Mas, por enquanto, as novidades estão previstas para serem detalhadas somente ao longo do próximo trimestre.
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