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Moody's: "grandes bancos não estão parados" e rentabilidade cresce

Retorno melhora com economia mais forte, operações diversificadas, juro em alta e corte de custos

Moody’s alerta para repasse lento de alta da Selic para operações de médio e longo prazo (Michael Nagle/Bloomberg)

Moody’s alerta para repasse lento de alta da Selic para operações de médio e longo prazo (Michael Nagle/Bloomberg)

AB

Angela Bittencourt

Publicado em 28 de junho de 2021 às 10h59.

Quem guarda, tem. Sabem os precavidos, os bancos e a Receita Federal. Não é à toa que em um ano, e no outro também, a sanha arrecadatória do governo mira as instituições para reforçar o próprio caixa ou bancar algum pacote de bondades. No ano que vem, não deve ser diferente porque a rentabilidade dos bancos aumenta.

“Os indicadores das instituições financeiras melhoram. E a ideia é que o retorno avance com as perspectivas de recuperação econômica. Os resultados devem crescer com empréstimos, embora os bancos estejam mais seletivos, e também com a intensificação na redução de custos”, avalia Alexandre Albuquerque, vice-presidente na Moody’s Investors Service, que não vê um drama em concorrência mais acirrada com ferramentas em implementação, como o ‘open banking’.

Em entrevista ao EXAME IN, onde detalha um relatório sobre as perspectivas para os grandes bancos brasileiros de varejo, Albuquerque lembra que o ‘open banking’ foi anunciado há tempos pelo Banco Central (BC) e que os bancos estão se preparando para esse novo cenário de compartilhamento de dados de clientes. “Os bancos veem como uma oportunidade e não estão assumindo uma posição apenas defensiva em relação a isso. Ao contrário, os grandes bancos revelam hoje preocupação maior com os clientes e não só com a rentabilidade.”

A expansão das fintechs, há cerca de três anos, também gerou expectativa com o aumento da competição. Contudo, pondera o vice-presidente da Moody’s, as fintechs se estabeleceram em nichos do mercado, sobretudo, como meios de pagamento. “Houve uma diminuição na margem de ganho dos bancos com tarifas. Mas grandes bancos de varejo vivem com menor receita. Redução de receita não ameaça o setor, inclusive, porque as instituições têm uma ampla diversificação de fontes de receita. Portanto, os grandes bancos têm como se ajustar às mudanças de mercado”, afirma.

Alexandre Albuquerque alerta que os grandes bancos de varejo não estão parados. Ao contrário, estão muito focados em digitalização. “Todos vêm criando algo. O Bradesco criou o Next, o Itaú desenvolveu plataformas internas. E é preciso considerar também que os bancos têm focos diferentes em clientes. O tíquete médio de gastos de clientes de fintechs com cartão de crédito, por exemplo, é muito baixo. Por ora, portanto, os grandes bancos não sofrem ameaça direta até por oferecerem aos clientes produtos complementares, como seguro, investimentos através de assets.”

O relatório da agência de classificação de risco de crédito lembra que o Santander Brasil vai continuar a investir na sua plataforma digital para ampliar a oferta de produtos aos clientes, uma estratégia que o banco tem seguido nos trimestres passados. O banco tem utilizado os seus canais digitais para oferecer empréstimos a famílias e a pequenas e médias empresas. Como um resultado, o banco melhorou a originação de receitas recorrentes nos últimos trimestres, embora, em termos absolutos, ainda permaneça abaixo a dos outros três bancos.

Liquidez expandida

Albuquerque comenta que, há dois ou três anos, os juros mais elevados ajudavam os grandes bancos com receitas alternativas. A queda da taxa Selic a mínimas históricas reduziu essas receitas, mas o juro volta a subir, ainda que distante de dois dígitos. E a liquidez disponível no sistema bancário é aplicada em títulos públicos.

O vice-presidente da Moody’s explica que a liquidez por precaução e segurança aumentou nos últimos meses, mas muito em função de medidas prudenciais adotadas pelo Banco Central no ano passado, quando alguns bancos nem emprestaram tantos recursos. “Houve maior retenção de liquidez, mas devemos voltar a níveis similares a antes da pandemia no ano que vem.”

Apesar da melhora dos indicadores e do cenário econômico – com retomada da economia e produção mais normalizada em 2022 – a Moody’s vê a redução de custos nos grandes bancos como medida inescapável.

“O quadro de funcionários passa a ser um foco particular de atenção até por conta do processo de digitalização. Embora exista redução no número de funcionários e agência, a despesa média por funcionário pode até subir porque há uma mudança no perfil dos profissionais. A digitalização está no contato com os clientes e também em processos internos. A mão de obra tende a ser mais especializada e, às vezes, mais cara”, diz Albuquerque.

A Moody’s sinaliza que não há um desmonte geral de agências. Para os quatro maiores bancos de varejo – Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil – manter agências ainda é primordial em áreas mais remotas e em municípios pouco assistidos. “Com maior inserção de tecnologia podem ocorrer mudanças e com perfil mais adequado a um novo tipo de atendimento [acelerado pela própria pandemia]. Agências podem se transformar em postos de atendimento ou se tornar mais leves.”

Em seu relatório, a Moody’s avalia que para potencializar os ganhos nos próximos 12 a 18 meses, o Bradesco será a instituição que apresentará maior melhoria em controle de custos administrativos, graças a um processo de integração mais maduro que vai além da redução de despesas operacionais. O Banco do Brasil, lembra o estudo, já lançou programas de redução de pessoal no início deste ano.

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