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Mombak, de créditos de carbono, fecha contrato com a McLaren. E tem boas notícias de preço

Startup de reflorestamento fechou contrato a mais de US$ 50/t de CO2 equivalente – cerca de cinco vezes o valor praticado por projetos de desmatamento evitado

Fazenda da Mombak em Mãe do Rio (PA): Aposta em reflorestamento biodiverso em escala na Amazônia (Raimundo Paccó/Divulgação)

Fazenda da Mombak em Mãe do Rio (PA): Aposta em reflorestamento biodiverso em escala na Amazônia (Raimundo Paccó/Divulgação)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 30 de novembro de 2023 às 08h03.

Última atualização em 11 de dezembro de 2023 às 16h13.

Após captar um fundo de US$ 100 milhões para reflorestamento de pastagens degradadas na Amazônia, a startup Mombak acaba de anunciar seu primeiro contrato, com a venda de créditos de carbono para escuderia McLaren Racing.

Mais do que o contrato com uma marca global, o que chama atenção é o preço: mais de US$ 50 por tonelada de dióxido de carbono equivalente – um indicativo importante para a nascente indústria de reflorestamento em escala no Brasil e que vem atraindo cada vez mais investidores interessados no retorno financeiro da atividade.

O valor é mais de dez vezes o valor que vem sendo praticado por créditos de energias renováveis e cerca de cinco vezes o de projetos de REDD+, ou desmatamento evitado, que envolvem a conservação florestal – e hoje são os mais abundantes no país.

“Fundamos a Mombak com a convicção de que créditos de remoção de carbono e de alta qualidade e integridade seriam valorizados. Essa tese está se comprovando”, aponta Peter Fernandez, CEO e co-fundador da Mombak.

Enquanto a maior parte dos créditos de carbono disponíveis hoje dizem respeito a emissões evitadas – seja substituindo combustíveis fósseis por energias renováveis ou evitando a queda da floresta em locais ameaçados de desmatamento –, projetos de reflorestamento tratam da efetiva remoção de carbono da atmosfera.

É um atributo que vem sendo cada vez mais valorizado pelas grandes empresas que compensam suas emissões, juntamente com a integridade dos projetos – isto é, a capacidade de comprovarem que realmente estão cumprindo o que prometem.

Segundo Fernandez, o preço fechado nesse primeiro contrato está dando o retorno planejado e a expectativa é que sirva de piso para novos acordos. De acordo com ele, há projetos já em fase final com um outro grande cliente global, mas, neste primeiro momento, o foco não é em vender, mas sim prospectar novas áreas para reflorestar.

“A demanda é várias ordens de grandeza maior que a oferta. Na verdade, tendemos a não vender agora para poder vender no futuro. A expectativa é que o preço vá subir”.

Fundada em 2021, a Mombak compra terras com pastagens degradadas ou se associa a proprietários na região Amazônia e faz a restauração da vegetação nativa, respeitando a biodiversidade de espécies locais.

A empresa recebeu aporte de fundos como Kaszek Ventures e Union Square. Mas, mais do que equity, trabalha com um modelo em que levanta recursos em fundos dedicados para projetos específicos.

O primeiro deles, de US$ 100 milhões, contou com aportes de empresas como os canadenses no CPP Investimentos, da firma de private equity Bain Company e  da seguradora francesa Axa, além de ONGs como a Rockerfeller Foundation e a Conservação Internacional.

Os recursos devem permitir o reflorestamento de até 10 mil hectares e a expectativa é que eles sejam alocados até meados do próximo ano, diz Fernandez.

Atualmente, a Mombak está desenvolvendo seu primeiro projeto, numa área própria de 3 mil hectares em Mãe do Rio, a quatro horas de Belém. (Os créditos vendidos para a McLaren vem deste projeto e dizem respeito ao carbono a ser removido entre os anos de 2023 e 2025.)

A Mombak acaba de fechar parcerias com outras duas fazendas na mesma região, num modelo mais asset light, em que se associa com os donos das propriedades e desenvolve os serviços de reflorestamento e venda de créditos de carbono, num modelo de compartilhamento de receita.

Normalmente, as áreas degradadas são ocupadas por pastagens para gado de baixa produtividade. A lógica é que os créditos de carbono consigam dar uma rentabilidade maior para o produtor do que a atividade – e para isso eles precisam ter um preço elevado, de forma a superar a barreira de investimentos necessários para tirá-los do papel.

Americano radicado no Brasil há pouco mais de 10 anos, Fernandez já foi CEO da 99 e head do YouTube na América Latina e fundou a Mombak ao lado de Gabriel Silva, ex-CFO do Nubank.

A ideia foi trazer a lógica do mundo da tecnologia para ser um dos primeiros entrantes num mercado com potencial exponencial.

Segundo estimativas do painel intergovernamental de mudanças climáticas da ONU, para chegar a meta de limitar o aquecimento global em 1,5oC, o mundo precisará retirar 10 bilhões de toneladas de carbono por ano da atmosfera até 2050.

De acordo com Fernandez, hoje o mercado de remoção de carbono é de cerca de 5 milhões de toneladas anuais. A Mombak tem como meta gerar 1 milhão de toneladas de créditos de remoção até 2030.

A Mombak não está sozinha neste mercado no Brasil, mas está adiantada. Nos últimos anos, surgiram empresas como a re.green, que conta com investidores como a Lanx Capital, Armínio Fraga e João Moreira Salles; e a Biomas, formada por Marfrig, Suzano, Vale, Rabobank, Itaú e Santander.

A Votorantim também está avaliando este mercado, com seu braço de ativos ambientais, a Reservas Votorantim.

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