Volume de transações do dólar taiwanês em Taipei atingiu o maior nível desde a crise financeira de 2008 (Bing-Jhen Hong/iStock/Getty Images)
Redatora na Exame
Publicado em 5 de maio de 2025 às 13h25.
Última atualização em 5 de maio de 2025 às 14h05.
O dólar taiwanês teve um salto histórico nesta segunda-feira, 5, com alta intradiária de 5%, a maior em mais de três décadas.
A valorização reflete a movimentação de exportadores que, diante da expectativa de um acordo comercial com os Estados Unidos, estariam correndo para converter suas reservas de dólares para a moeda local.
A moeda taiwanesa estendeu o rali iniciado na sexta-feira, atingindo o valor mais forte em cerca de três anos, 29,59 por dólar, antes de reduzir seus ganhos para 29,96. No acumulado de um mês, a moeda já subiu mais de 10%.
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A diparada é um sinal das placas tectônicas que estão se movendo em meio às negociações comerciais com os Estados Unidos. O país já deixou claro que considera as moedas internacionais muito desvalorizadas, o que acaba prejudicando sua indústria local.
Nesse sentido, o avanço ocorre em meio a rumores de que autoridades taiwanesas estariam permitindo a valorização do câmbio como sinal de boa vontade nas negociações comerciais com Washington.
O governo confirmou no sábado, 3, que conduziu a primeira rodada de conversas com representantes dos Estados Unidos em 1º de maio, sem divulgar detalhes.
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Analistas ouvidos pela Bloomberg apontam que as seguradoras de vida locais também estariam acelerando a proteção de suas posições em dívida americana, o que influencia na volatilidade da moeda.
Com cerca de NT$ 575 bilhões em Treasuries, segundo dados da Comissão de Supervisão Financeira de Taiwan, essas empresas seriam particularmente vulneráveis à valorização do dólar.
O volume de transações do dólar taiwanês em Taipei atingiu o maior nível desde a crise financeira de 2008. O Cathay United Bank chegou a implementar uma fila virtual no aplicativo para dar conta da demanda. Apesar da instabilidade, o banco central se pronunciou oficialmente apenas no final do dia, tentando conter os boatos e pedindo responsabilidade aos participantes do mercado.
“Exportadores estão em pânico, seguradoras locais estão pouco protegidas, e os fluxos de saída ligados à bolsa cessaram. O banco central segue como único comprador, mas sem atuar com força, o que alimenta a especulação de que a valorização do câmbio faz parte das tratativas com os EUA”, disse Ju Wang, chefe de câmbio do BNP Paribas para a China, à agência de notícias.
Desde que Trump assmiu o cargo em janeiro, sua retórica agressiva sobre comércio tem abalado os mercados e enfraquecido o papel tradicional do dólar como ativo de refúgio em tempos de incerteza, levando investidores a buscar alternativas fora dos ativos americanos.
Embora a pressão de venda tenha arrefecido em maio, o DXY, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de outras divisas, acumula queda de 8%. Os operadores no mercado de derivativos estão no nível mais pessimista com o dólar desde setembro.
Segundo Brad Betchel, chefe global de câmbio do Jefferies, o rali da moeda taiwanesa pode ter efeitos em cadeia nos mercados emergentes. “Ou pode indicar algum tipo de acordo cambial entre os EUA e a China, ou entre os EUA e a região, que resultaria em valorização das moedas asiáticas como um todo”, afirmou.