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Método Engenharia quer deixar crise financeira para trás com IPO na B3

Companhia homologou plano de recuperação extrajudicial em 2017, mas agora voltou a enfrentar dificuldades com compromissos

Hotel Unique: como diversas outras obras, cartão-postal erguido pela Método Engenharia (Unique/Divulgação)

Hotel Unique: como diversas outras obras, cartão-postal erguido pela Método Engenharia (Unique/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 26 de outubro de 2020 às 17h29.

Última atualização em 26 de outubro de 2020 às 20h45.

Quem disse que empreiteiras não abrem o capital? A Método Engenharia quer tentar acabar com essa percepção. A companhia vê na bolsa um caminho para garantir o futuro do negócio, que está em dificuldades desde que o setor praticamente ruiu com a Operação Lava-Jato. Além de resolver sua situação financeira, quer ainda se posicionar como consolidadora captando recursos por meio de uma oferta pública inicial (IPO) no Novo Mercado.

Embora tenha conseguido passar incólume pela Lava-Jato, enquanto os gigantes do ramo se viram envolvidos em enormes escândalos de corrupção, a empresa não escapou da consequente redução do mercado de construção que ocorreu desde então. Com uma receita bruta de 1,6 bilhão de reais em 2014, era a 11ª no ranking do setor. Passados seis anos, a receita deve superar 1 bilhão pela primeira vez desde então neste ano. Até setembro, o acumulado do faturamento estava em 979 milhões de reais. Mesmo menor, está hoje melhor no ranking: terminou 2019 como quarta maior em receita.

Fundada há quase 50 anos, a Método está inadimplente em 15,2 milhões de reais em compromissos e tem mais 39 milhões de reais em vencimentos de curto prazo que assume não ter certeza de conseguir honrar. Com isso, o plano de recuperação extrajudicial homologado em 2017 está em risco. Embora com receita crescente nos últimos três anos, a rentabilidade da operação está bem mais apertada. Em 2019, o Ebitda somou 67 milhões de reais e, neste ano, estava em 25 milhões de reais, de janeiro a setembro.

Por isso, a saída encontrada é verificar se os investidores de mercado podem ver na situação uma oportunidade para se associar a um negócio que costumava ter margens gordas e baixa alavancagem — uma vez que as obras eram tocadas com adiantamentos de clientes. O objetivo é conseguir, de uma vez por todas, deixar os problemas para trás e, com seu conhecimento, se posicionar para uma aguardada retomada de investimentos em infraestrutura. No passado, costumava-se dizer que um dos motivos para as companhias do ramo não serem abertas é que os donos não queriam dividir seus lucros. Os tempos são outros.

A dívida bruta da Método, quase igual à líquida, não é absurda em termos absolutos: 148 milhões de reais. A questão é que a dinâmica setorial dos últimos anos não tem auxiliado o negócio a gerar e acumular caixa. Boa parte das companhias desse segmento partiu para explorar o mercado industrial, derrubando as margens. Além disso, as grandes empreiteiras tradicionais do país — que antes só disputavam contratos faraônicos — agora competem por tíquetes bem menores.

No prospecto preliminar da oferta pública, a Método Engenharia afirma ter uma carteira com 30 projetos, no valor de quase 1,4 bilhão de reais. A empresa presta serviços para grandes empresas nos segmentos de óleo e gás, petroquímica, química, mineração e infraestrutura, os quais possuem  perspectiva de crescimento. Desde 1988, é responsável pela manutenção das refinarias da Petrobras.

A Método planeja destacar aos investidores sua diversificação de negócios. Passear por São Paulo é quase como ver um book das realizações da empresa. Entre as obras de infraestrutura de destaque  estão o terminal de sal e fertilizantes do Porto de Santos para a companhia Hidrovias do Brasil e a ampliação do aeroporto de Fortaleza para a Fraport. E entre os projetos urbanos estão os shoppings Cidade São Paulo e Market Place, e cartões-postais como o Sesc Pompeia, o Complexo Ohtake Cultural, os hotéis Hyatt e Unique, entre outros.

A documentação levada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não traz quais são os valores pretendidos para o IPO, que prevê uma oferta primária e parte secundária. Por enquanto, as instituições contratadas para a colocação são a XP Investimentos e a Genial Investimentos.

As companhias de construção querem se preparar para uma nova onda de crescimento no setor. E é possível que algumas disputem recursos ao mesmo tempo. A OEC, Odebrecht Engenharia e Construção, homologou nesta segunda-feira, 26, o plano de recuperação extrajudicial para resolver uma dívida de aproximadamente 3 bilhões de dólares. Os compromissos serão cortados em cerca de 55% em seu valor de face e o saldo vai ser reescalonado, com manutenção do custo.

O grupo Odebrecht também tem planos de buscar sócios para a OEC, seja para a holding dessa atividade, seja para exploração de mercados ou regiões específicas. No passado, logo depois de começar a colocar a governança do grupo em ordem, o conglomerado falava que um IPO poderia também ser o destino da construtora. A companhia que já foi a maior do setor, com uma carteira de pedidos superior a 30 bilhões de dólares, tem hoje obras que totalizam menos de 3 bilhões de dólares.

A tentativa de IPO da Método será importante para ver a extensão das mudanças na indústria de investimentos do Brasil. Até pouco tempo, companhias com dificuldades financeiras não passavam no crivo dos investidores. Mas também não faziam sucesso nem startups, nem negócios com receita anual inferior a 500 milhões de reais.

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