Mark Zuckerberg diz que o futuro é a realidade virtual, mas não consegue estimar quando isso vai virar resultado (Meta/Reprodução)
Graziella Valenti
Publicado em 3 de fevereiro de 2022 às 09h48.
Última atualização em 3 de fevereiro de 2022 às 11h55.
Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, agora Meta, não para de ousar. Depois de mudar o nome da companhia para algo que a maioria das pessoas não entendeu e sequer experimentou, teve um ataque sincerão junto com a divulgação do resultado completo de 2021.
Havia pouco espaço para ser diferente diante da realidade dos números, mas as falas do empreendedor estão derrubando as ações da companhia em mais de 20% só no pré-mercado. A empresa encerrou o dia ontem, em Nova York, avaliada em US$ 899 bilhões. Um tombo desse tamanho pode significar um ajuste de US$ 180 bilhões em um único dia.A Meta registrou a primeira queda de usuários ativos de sua história: 500 mil a menos no último trimestre do ano passado, terminando o ano com 1,929 bilhão.
A livre interpretação das falas do garoto gênio das redes sociais indica que a companhia vive um momento de transição. Zuckerberg afirma que está certo que o metaverso e a aposta em realidade virtual é a direção correta, mas diz que não estão claras ainda suas potencialidades e o prazo disso. Essa resposta ele não tem. Enquanto isso, a divisão da companhia que desenvolve esse potencial meta, a Reality Labs, teve um prejuízo de US$ 10 bilhões no ano passado.
Mais problemas: ele admitiu que o Tik Tok está crescendo rápido demais — aliás, o Facebook sequer existe para crianças e adolescentes — e pode ser uma ameaça e que as receitas de publicidade vão sofrer diante, não apenas da concorrência, mas de novas políticas de privacidade da Apple. A gigante trilionária bloqueou os dados que compartilhava com empresas de redes, como Facebook, Twitter e outras, o que tornou um desafio a publicidade de alta eficiência baseada em algorítimos.
O resultado de 2021 não traz vergonhas para a empresa. Mas o futuro ainda é incerto e, enquanto ele não chega, as contas não param de vir. O metaverso já é uma realidade dentro das companhias. Muitas estão fazendo suas apostas, mas nenhuma investindo tanto quanto Zuckerberg e agora, mais essa: perspectiva de resultados menores no futuro mais imediato.
Não é a primeira vez na história que as empresas estão à frente do seu tempo e que isso custa. Desde que a Internet chegou já se falava da dependência simbiótica entre conteúdo e infraestrutura. Saber como fazer e onde aproveitar é que trouxe as vencedoras até aqui.
A pandemia acelerou e mudou o mundo. Mas está longe de ser claro em que ritmo isso vai se dar daqui para frente. Só que enquanto Zuckerberg chamou atenção para os desafios, a realidade virtual aos poucos acontece.
A Gucci vendeu a versão virtual da sua bolsa Dionysius no jogo Roblox por US$ 4,1 mil, um preço acima do produto físico. O rapper Travis Scott fez um show virtual para jogadores do Fortnite — 27,7 milhões de audiência — e estima-se que tenha faturado US$ 20 milhões com o evento. Pesquisa da Bloomberg Business Intelligence projeta que o mercado de hardware para realidade virtual vai saltar de menos de US$ 4 bilhões, em 2021, para mais de US$ 10 bilhões, em 2025. E a Ark Investments recentemente fez a avassaladora estimativa que a receita potencial do mundo virtual vai sair de US$ 180 bilhões para US$ 400 bilhões, nesse mesmo intervalo.
O que ninguém sabe é onde o retorno disso estará concentrado — menos ainda, em quanto tempo. Algo que o mercado definitivamente não sabe conviver.
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