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Méliuz: "Faria 10 vezes de novo o IPO", diz fundador

Companhia teve receita de R$ 90 milhões no primeiro trimestre e se prepara para novo ciclo de crescimento com aplicativo

Israel Salmen, fundador e presidente da Méliuz: "captei no momento certo, durmo tranquilo" (Méliuz/Divulgação)

Israel Salmen, fundador e presidente da Méliuz: "captei no momento certo, durmo tranquilo" (Méliuz/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 13 de maio de 2022 às 11h03.

“Eu faria 10 vezes de novo o meu IPO.” A fala é do fundador e do presidente da Méliuz, Israel Salmen. A coragem não é para qualquer um. A companhia vale hoje no pregão menos do que a soma das ofertas públicas que já realizou, e que movimentaram R$ 1,7 bilhão. Primeira startup brasileira a se listar na B3, no fim de 2020, a empresa levantou R$ 750 milhões para seu caixa nessas operações e está avaliada agora em R$ 1,4 bilhão pela cotação do mercado. “O IPO mudou a história do Méliuz. Fizemos seis aquisições, entre elas uma companhia que nos traz receita de mais de 40 países e o Bankly, uma joia. Não conseguiríamos ter destravado tanto valor se não fosse a abertura de capital.”

A capacidade de Salmen de fazer essa avaliação vem do que já conseguiu entregar desde então — e esse é o valor destravado ao qual se refere. O empreendedor está mais preocupado com isso, a execução do negócio, do que com o preço de tela da ação nesse momento de crise dos investidores com as startups. A Méliuz teve uma receita líquida de R$ 90 milhões no primeiro trimestre deste ano, 74% de crescimento na comparação anual. Para se ter uma ideia melhor da expansão, em 2020 inteiro, ano da estreia na bolsa, a companhia teve uma receita líquida de R$ 125 milhões.

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Antes do IPO, a empresa havia captado apenas R$ 30 milhões em dez anos. “A gente sabe jogar esse jogo de pouco capital disponível e muita eficiência”, diz ele, ressaltando que o momento pede isso de todas as companhias, não apenas da Méliuz. De janeiro a março, as compras realizadas dentro da plataforma movimentaram R$ 1,6 bilhão (GMV), o que representa um aumento de 66% em relação ao mesmo período de 2021.

No começo deste ano, a Méliuz lançou um aplicativo mais completo para usuário, com funcionalidades transacionais, para além de uma carteira virtual e da plataforma de compras. A arquitetura da companhia está pronta, na visão de Salmen, e as novidades que virão serão ofertas de produtos e ferramentas sobre essa estrutura.

No total, a Méliuz tem 23,6 milhões de contas abertas, que representam uma expansão de 44% ante março de 2021. É dentro desse aquário que o empreendedor diz que vai pescar. Expandir a base é um objetivo permanente, mas o CEO da Méliuz quer, neste momento, colocar mais foco em fazer com que os seus usuários ativem mais produtos e soluções dentro da plataforma.

Essa estratégia de crescimento é, além de mais eficiente, mais econômica, pois é mais barato ativar esse usuário do que trazer um novo. No primeiro trimestre, a companhia já mostrou redução nos gastos. As despesas gerais e administrativas recuaram 28% na comparação com o quarto trimestre, para R$ 109 milhões. Com isso, o Ebitda ficou negativo em R$ 17 milhões, bem menos do que os R$ 30 milhões dos três últimos meses do ano.

Salmen destaca que a Méliuz continua sim sendo um play de crescimento. “Dos R$ 30 milhões do meu gasto com pessoal, R$ 23 milhões são com gente construindo o que acabamos de lançar. Eles não estão trazendo resultado ainda”, ressalta. Portanto, conforme as novidades amadurecerem esse custo será diluído.

“A gente conseguiria gerar caixa hoje, se quisesse. Mas o acionista não quer receber pouco dividendo. Ele está investindo em Méliuz porque acredita que seremos inúmeras vezes maior no futuro e com isso ele vai conseguir ter dividendos muito maiores”, enfatiza Salmen. Ele destaca que o ciclo é semelhante ao que a companhia viveu no pré-IPO. Em 2018, segundo ele, houve grande queima de caixa, depois diminuiu em 2019 e em 2020, o negócio era rentável – daquele tamanho, para aquelas ferramentas. “A Méliuz ainda é pequena. A gente precisa crescer mais, remunerar melhor nossa base de usuários. É questão de tempo. Estamos com a cabeça no lugar.”

Quando estreou na B3, a Méliuz era uma companhia que ajudava os clientes varejistas a venderem mais agregando suas ofertas dentro de uma plataforma que oferecia cashback aos usuários. Agora, a empresa tem soluções para as duas pontas e fortaleceu as ferramentas tanto para o usuário final quanto para os varejistas, com soluções que vão desde conta, cartão de crédito, pix e até parcelamento no modelo crediário — o agora famoso buy now, pay latter. Se de um lado, a pessoa física tem mais incentivos para usar a plataforma, do outro, o varejista também é beneficiado. Não apenas porque o lago fica mais cheio de peixe, mas porque as funcionalidades de pagamento são plugadas no check-out da venda.

Em abril, a companhia colocou no conselho de administração Camilla Giesecke, executiva da fintech suíça Klarna, para dividir conhecimento para essas estratégias. Apesar de ver crescimento à frente, Salmen enfatiza que o plano é ir devagar quando o assunto é crédito. Para ele, é melhor a companhia estar chegando agora nesse momento, do que antes quando a taxa de juros estava baixa, o que poderia demandar ajustes. “O que eu não quero, nunca nessa vida, é entrar num call para me explicar porque eu me perdi no crédito. Estou tocando isso de perto com o time. Quero ser muito assertivo. E para isso eu não posso ter pressa para entregar resultado e preciso ser muito pé no chão.”

Timing nunca foi um problema para Salmen. O follow on foi realizado quando a companhia estava próximo de seu maior valor de mercado. “Eu durmo tranquilo”, diz, ele que viu a empresa fechar março com uma posição em caixa de R$ 480 milhões. Apesar de não ser a preocupação do momento, as ações da Méliuz acumulam ganho superior a 15% desde segunda-feira.

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