Mercado Livre: empresa tem ajustado sua operação logística, oferecendo mais flexibilidade na escolha das opções de entrega como ferramenta para competir com a concorrência (Raquel Brandão/Exame)
Repórter Exame IN
Publicado em 20 de fevereiro de 2025 às 19h13.
Última atualização em 20 de fevereiro de 2025 às 19h26.
Quando o Mercado Livre divulgou seus números do terceiro trimestre, parte dos investidores se assustou com as provisões por causa do crédito. Também havia uma pulga atrás da orelha com a queda nas margens. Mas o quarto trimestre já trouxe números que podem acalmar os mais avessos às pressões de curto prazo -- logo após a divulgação, no pós-mercado de Nova York, a ação saltava 11,40%.
A varejista online é vocal na sua estratégia de crescimento agressiva tanto no e-commerce quanto na operação da fintech. E os números de outubro a dezembro já mostraram melhora de rentabilidade sequencial. A margem operacional, por exemplo, passou de 10,5% no terceiro trimestre para 13,5% no último trimestre de 2024.
SAIBA ANTES: Receba as notícias do INSIGHT no Whatsapp
O indicador também foi 0,60 ponto percentual melhor do que no mesmo intervalo de 2023, puxado por execução eficiente e gestão disciplinada de custos na rede logística, ganhos de eficiência em taxas de coleta e alavancagem operacional em vendas, marketing e desenvolvimento de produtos. Um esforço que anulou o impacto negativo das provisões de perdas na operação de crédito do Mercado Pago.
No quarto trimestre, a companhia registrou receita líquida de US$ 6,1 bilhões, um aumento de 37% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já o lucro líquido de US$ 639 milhões representou um crescimento significativo de 67% na base anual, excluindo custos não recorrentes do mesmo período de 2023. O volume de vendas brutas (GMV) atingiu US$ 14,5 bilhões, crescendo 8% na mesma base comparação.
NA SUA CESTA: Mil lives por dia e entrega mais rápida — o plano de ataque da ShopeeA empresa ultrapassou 100 milhões de compradores únicos anuais no marketplace, enquanto sua fintech, Mercado Pago, alcançou 61 milhões de usuários ativos mensais, um crescimento de 34% ano contra ano.
Além disso, o Mercado Livre gerou US$ 1,3 bilhão de fluxo de caixa livre ajustado ao longo do ano, com um forte desempenho no quarto trimestre, onde registrou US$ 680 milhões.
"Acreditamos que o poder do nosso ecossistema está cada vez mais evidente, com cada componente reforçando o engajamento entre os demais", diz Richard Cathcart, diretor de Relações com Investidores do Mercado Livre.
No Brasil, o GMV cresceu 32% em moeda local, demonstrando a resiliência da empresa diante do avanço de concorrentes asiáticos. Para manter sua liderança, o Mercado Livre investiu em logística, parcerias com grandes marcas e um programa de fidelidade robusto.
A empresa reforçou seu sortimento com a chegada de grandes marcas como Natura, Lancôme e Ralph Lauren ao marketplace. Além disso, 49% das entregas no Brasil foram realizadas no mesmo dia ou no dia seguinte, o que a empresa destaca como uma de suas vantagens competitivas para enfrentar o avanço dos outros players.
Além da rapidez na entrega, o Mercado Livre percebeu que uma parte dos consumidores prefere opções de frete grátis mesmo que isso signifique um prazo maior para recebimento. Para atender a esse perfil de cliente, a empresa tem ajustado sua operação logística, oferecendo mais flexibilidade na escolha das opções de entrega.
"O que temos feito ao longo dos últimos 18 a 24 meses é adicionar uma camada de flexibilidade na nossa logística para que a gente também possa oferecer isso. Então, dentro do nosso loyalty, por exemplo, oferecemos um pre-shipping threshold (valor mínimo de compra) mais baixo se o consumidor está disposto a esperar mais alguns dias para receber o produto", diz Cathcart.
"Sempre enfrentamos concorrência. O mercado muda, mas estamos confiantes na nossa proposta de valor", continua Cathcart. "Nosso foco segue sendo melhorar a experiência do usuário, ampliando a oferta de produtos e entregando cada vez mais rápido".
O Mercado Livre segue crescendo em seus principais mercados internacionais. No México, o GMV aumentou 28% em moeda local, mantendo um ritmo forte e consolidando o país como uma das principais frentes de crescimento da companhia.
Já na Argentina, as vendas no marketplace subiram 18% no quarto trimestre, refletindo uma recuperação gradual do consumo e a desaceleração da inflação no país.
A operação argentina ainda se destacou pelo aumento na oferta de crédito, que voltou a crescer após um período de cautela. "Se a melhora macroeconômica continuar, estamos bem posicionados para expandir tanto no e-commerce quanto nos serviços financeiros", diz Cathcart.
O Mercado Pago segue como uma peça-chave na estratégia da companhia. A carteira de crédito da fintech atingiu US$ 6,6 bilhões, um aumento de 74% ano contra ano, impulsionado principalmente pelos cartões de crédito.
Nesta semana, um relatório do Citi destacou que a carteira de crédito do Mercado Pago no Brasil atingiu R$ 6,98 bilhões em janeiro, crescendo 17,7% em relação ao ano anterior. Além disso, o índice de inadimplência acima de 90 dias caiu 20 pontos-base em relação ao mês anterior, o que reforça que a qualidade da carteira segue sob controle. "O crédito continua sendo um fator essencial para o crescimento do GMV", destacou o relatório.
Apesar do crescimento acelerado do crédito, a qualidade da carteira segue sólida, com níveis de inadimplência estáveis e provisões menores como percentual do portfólio. Esse equilíbrio, aliado à forte margem financeira em todos os produtos, reforça a confiança na expansão sustentável do negócio de crédito.
"A inadimplência até melhorou um pouco neste trimestre. A qualidade da carteira é super saudável e não vimo evidência de alguma piora. Então, estamos confiantes para continuar crescendo", diz o diretor de RI.
O Mercado Pago também viu seus depósitos crescerem mais de 100% ano contra ano, refletindo a maior adoção da conta digital. "Temos a conta digital que mais remunera no Brasil e estamos cada vez mais integrando nossa oferta de crédito ao ecossistema do Mercado Livre", diz Cathcart.