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Mater Dei sai de Belém por menos do que pagou. Mas o mercado não achou tão ruim

Rede vende participação no Porto Dias de volta para a família fundadora, realizando prejuízo de quase R$ 200 milhões; unidade respondia a quase metade do consumo de capital de giro

Empresa tem apetite por ativos que estão sendo colocados à venda, e pode entrar sozinha ou em parceria, diz CEO (MATER DEI/Divulgação)

Empresa tem apetite por ativos que estão sendo colocados à venda, e pode entrar sozinha ou em parceria, diz CEO (MATER DEI/Divulgação)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 31 de maio de 2024 às 15h47.

Última atualização em 31 de maio de 2024 às 15h56.

Numa correção de rota em meio ao momento estressado do setor de saúde, o Mater Dei anunciou hoje a venda da fatia de 70% que tinha no Hospital Porto Dias, em Belém, para a família fundadora – fechando a torneira de um dos ativos que mais vinha queimando caixa no portfólio.

A participação está sendo vendida para a própria família Porto Dias, que vai pagar R$ 410 milhões em dinheiro e devolver os 7% em ações da Mater Dei que tinha recebido na transação. As ações, que vão para a tesouraria, serão canceladas.

Uma das principais aquisições fechadas desde o IPO em 2021, o Mater Dei pagou R$ 800 milhões pelo Porto Dias, mais a participação acionária.

Desde então, recebeu R$ 200 milhões em dividendos e aproveitamentos tributários. Ou seja, no fim das contas está realizando uma perda de R$ 190 milhões na transação.

Apesar disso, o mercado aprovou a transação: as ações do Mater Dei chegaram a bater uma alta de 2,5% no pregão de hoje, e por volta das 15h20, negociavam próximas à estabilidade, refletindo em parte a diminuição das ações disponíveis com o cancelamento de 7% do capital, que vai aumentar a fatia de quem permanece na base acionária.

Outra questão é que o Porto Dias era um dos hospitais que mais estava sofrendo com atrasos no pagamento de planos de saúde, o que vinha pressionando o capital de giro e se tornando uma fonte importante de queima de caixa para toda a companhia.

A empresa vem sinalizou hoje a investidores que, dos R$ 94 milhões de consumo de capital de giro no primeiro trimestre, cerca de R$ 40 milhões vieram apenas do Porto Dias. O prazo dos recebíveis também crsceu para mais de 200 dias, em virtude, sobretudo, de atrasos com a Unimed e planos de saúde ligados ao governo local.

De certa forma, foi uma surpresa para os investidores, que acreditavam numa operação saudável, dado o bom comportamento de receitas da divisão de Belém.

“O ponto é que, se eles estão se desfazendo de uma operação que sozinha, queima quase metade do caixa de giro, as restantes são mais saudáveis do que a gente poderia supor”, afirma um gestor que tem posição no Mater Dei.

Um outro investidor, contudo, pondera que a mudança de rota coloca alguma pressão sobre a estratégia de crescimento orgânico da companhia: “Eles já não vinham crescendo muito. Agora, vendendo ativos, fica mais complicado e joga alguma dúvida sobre a capacidade de deles de operadores, que sempre foi considerada muito positiva.”

Segundo o Bradesco BBI, o EBITDA do Porto Dias era estimado em R$ 120 milhões a R$ 130 milhões na época da aquisição em 2021 e a expectativa era que chegasse a algo entre R$ 140 milhões e R$ 150 milhões em 2023. Os números anualizados dos últimos seis meses contudo, sinalizando que o indicador segue perto dos R$ 120 milhões.

O banco afirma que a transação tem impacto "neutro para negativo": "A venda do maior M&A da companhia se provou negativa. Os resultados mais fracos que o esperado podem ser justificados por um cenário mais desafiador das fontes pagadoras, mas não caem muito bem", ressaltaram em nota. A recomendação dos papéis é 'neutra', a despeito da queda de mais de 40% no ano.

Em entrevista recente ao INSIGHT, o CEO do Mater Dei, José Henrique Salvador, disse que, no preço certo, a rede é compradora de ativos que estão à venda no mercado, num momento em que diversos outros players do setor estão com alavancagem elevada e precisando levantar capital.

Com endividamento abaixo de 2 vezes o EBITDA ao fim do primeiro trimestre, aquisições nos hubs onde já atua – essencialmente Minas Gerais (região metropolitana de BH e Uberlândia), Salvador e Goiânia – podem ser feitas com capital próprio, enquanto movimentos mais “transformacionais”, para entrar em outras praças, podem ser feitos e parceria.

No fato relevante em que comunicou a venda do Porto Dias, o Mater Dei reforçou o posicionamento:

“A operação reforça a disciplina financeira da companhia, através do ajuste de portfólio, em um momento de desafios do setor, diminuindo a exposição a riscos e fortalecendo a posição de caixa com uma melhora no contas a receber, capital de giro e endividamento da companhia. O Mater Dei continua avaliando oportunidades de crescimento orgânico e inorgânico, em linha com a sua estratégia de expansão nacional.”

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