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Marvin: fintech dos recebíveis capta rodada com Canary e ex-CEO da Cielo

A companhia, fundada em março deste ano, permite que empresas usem os recebíveis do cartão de crédito para pagar fornecedores

Bernardo Vale e Henrique Echenique, fundadores da Marvin: a empresa já tem cinco grandes indústrias clientes e projeta transacionar R$ 500 milhões durante o segundo semestre de 2021 (Marvin/Divulgação)

Bernardo Vale e Henrique Echenique, fundadores da Marvin: a empresa já tem cinco grandes indústrias clientes e projeta transacionar R$ 500 milhões durante o segundo semestre de 2021 (Marvin/Divulgação)

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Carolina Ingizza

Publicado em 10 de agosto de 2021 às 05h00.

Última atualização em 10 de agosto de 2021 às 12h32.

Fundada há cerca de seis meses e com apenas dois meses de operação, a fintech Marvin chamou a atenção de investidores de peso com seu negócio de recebíveis. Depois de receber um investimento da Mauá Capital em maio, em que foi avaliada em R$ 65 milhões, a empresa levantou uma nova rodada de investimento liderada pela firma de venture capital Canary (Loft, Buser) e com a participação do investidor-anjo Eduardo Gouveia, ex-presidente da Cielo. O valor do aporte não foi divulgado pelas partes.

A Marvin se destacou entre os investidores por ter fundadores experientes e atuar em um mercado trilionário. Idealizada pelos empreendedores Bernardo Vale (ex-sócio da fintech Monkey Exchange) e Henrique Echenique (ex-diretor da registradora Cerc), a empresa nasceu de olho nas mudanças no mercado de crédito que a circular 3.952, do Banco Central, iria provocar.

Depois de ser adiada três vezes, a medida entrou em vigor no último dia 7 de junho, obrigando que todas as operações realizadas via cartão no país sejam registradas em uma central de recebíveis. A centralização das transações, que só em 2020 movimentaram R$ 2 trilhões, permite a negociação desses pagamentos futuros — considerados uma das mais fortes garantias de crédito aceitas no sistema bancário.

Desbloqueando vendas

A Marvin foi criada para usar os recebíveis de cartão de crédito para facilitar transações entre indústrias e pequenos varejistas. Um pequeno posto de gasolina, por exemplo, recebe dos clientes no cartão, com prazo de 30 dias, mas precisa comprar dos fornecedores à vista. Para poder girar a operação, paga uma taxa para adiantar os recebíveis. “Nossa ideia é entrar no meio da cadeia para garantir que a própria indústria fornecedora consiga dar mais prazo para o cliente”, diz o presidente Bernardo Vale em entrevista ao EXAME IN.

A forma que a Marvin encontrou para garantir a satisfação das duas pontas — varejista e indústria — é a troca de titularidade dos recebíveis nas registradoras. Dessa forma, seguindo o exemplo do empreendedor, um posto poderia dar seus recebíveis de cartão de crédito diretamente como pagamento pela gasolina. Para a indústria fornecedora, o risco de não receber é baixo, uma vez que quem garante o pagamento são as adquirentes.

As engrenagens desse sistema centralizado de registro estavam um pouco emperradas nas primeiras semanas de funcionamento — resultado natural de um movimento de transição tecnológica gigantesco, que o BC reconheceu e prometeu solucionar o quanto antes. Mesmo nesse cenário não ideal, a proposta de valor da Marvin conquistou 22 indústrias clientes. A projeção da empresa é transacionar na sua plataforma pelo menos R$ 500 milhões até o final do ano. Isso se a marca não chegar antes: só no mês passado, foram movimentados R$ 100 milhões entre seus serviços de pagamento e antecipação.

Trilha da experiência

A empresa aproveitou que muitos investidores estavam em busca de oportunidades nesse universo de recebíveis para trazer sócios que pudessem ajudá-la nos seus dois principais desafios daqui para frente: atração de talentos e busca de novos investimentos financeiros. “Estamos transacionando rápido, gerando receita e não poderíamos ter gastado toda a nossa primeira rodada nesse curto espaço de tempo. A motivação desta nova captação foi outra”, diz Vale.

O investidor Eduardo Gouveia, com sua experiência de gestão no universo de pagamentos, traz para empresa muitas conexões com clientes em potencial, além de ajudar os fundadores no trabalho de construção da cultura do negócio — hoje, a fintech emprega 23 pessoas, mas deve terminar o ano com pelo menos o dobro.

“O mercado em que a Marvin atua é maior do que podemos imaginar, mas ainda há um grande trabalho de criação de canais de venda a ser feito. Conhecimento, tecnologia e capital humano a empresa tem de sobra, agora é preciso montar uma estratégia agressiva comercial. Nisso, eu posso ajudar, especialmente abrindo portas”, diz o investidor em entrevista ao EXAME IN.

Do lado do Canary, a Marvin espera se beneficiar da experiência da gestora no mercado de tecnologia, que pode colocá-la na rota do venture capital. Capital não é um problema para o ecossistema brasileiro, que está batendo recordes em 2021, mas chegar até o fundos certos é desafiador e pode ser decisivo para o negócio, especialmente quando concorrentes estão capitalizados — a fintech carioca Blu, por exemplo, captou R$ 300 milhões com a gestora americana Warburg Pincus em julho.

"As habilidades demonstradas por Bernardo e Henrique em sua trajetória bem-sucedida nos atraíram muito. Eles foram o time que mais nos impressionou em termos de conhecimento do mercado de arranjo de pagamentos, e também pela forma como estão atacando essa oportunidade", diz Marcos Toledo, sócio da firma de venture capital Canary.

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