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Marfrig: demanda reprimida na China sustenta expansão do 1tri

Comparação anual é de crescimento de receita e margem, mas há queda relevante frente ao quarto trimestre

Gado: primeiro trimestre com expansão da operação na América do Sul, puxada por retomada de exportações para China (Marfrig/Divulgação)

Gado: primeiro trimestre com expansão da operação na América do Sul, puxada por retomada de exportações para China (Marfrig/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 3 de maio de 2022 às 20h13.

Última atualização em 4 de maio de 2022 às 08h14.

A China fez a festa do balanço da Marfrig desse começo de 2022. Foi um primeiro trimestre recorde para a companhia. Do lado operacional, receita em expansão e margens também, na comparação com o primeiro trimestre de 2021, quando o mundo vivia um forte lockdown pela variante delta da covid-19. Porém, a taxa de juros castigou a última linha, mesmo com a empresa mantendo a alavancagem sob controle.

O lucro líquido de janeiro a março foi de R$ 109 milhões, queda de 61% sobre os R$ 279 milhões de igual período do ano passado. O principal vilão: as despesas financeiras líquidas subiram de R$ 733 milhões para R$ 1,06 bilhão na comparação anual.

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“Tivemos aumento de receita e de margens em todas as divisões”, afirmou Miguel Gularte, presidente da Operação da América do Sul da Marfrig, colocando foco nos pontos positivos do período. A receita líquida consolidada teve alta de 29,6% e somou R$ 22,34 bilhões. Na América do Norte, a expansão foi de 25,4% e na América do Sul (por onde é feita exportação para a China), de mais de 41%.

O Ebitda consolidado, que totalizou R$ 2,7 bilhões, subiu 61% comparado ao primeiro trimestre de 2021: a expansão no lado de cima do Equador foi de 56,4% e do lado debaixo, 95%. Com crescimento maior que a receita, fica evidente o aumento de margem, que passou de 10% para 12,3%, na comparação anual.

A comparação com o 4º tri

Embora a fotografia anual seja ótima, o mercado está de olho no comportamento do ciclo americano, uma vez que a operação da controlada National Beef foi quem escreveu a história de 2021 – quando o fluxo de caixa operacional da companhia ficou acima de R$ 9 bilhões, no acumulado de 12 meses.  E, para tanto, a comparação trimestral é imprescindível.

Em relação ao quarto trimestre de 2021, a receita líquida consolidada caiu 6,7% — com volume praticamente estável — e o Ebitda, 34,3%. Na prática, a expansão de 92% no Ebitda da América do Sul, promovida basicamente pela exportação para a China, não compensou a redução de 40% dessa linha na região da América do Norte, apenas atenuou. A margem no Hemisfério Norte caiu de 22,3% para 15%.

Essa continua sendo a pergunta de milhão no setor: como será, em velocidade e intensidade, a inversão do ciclo americano.

No consolidado, a China foi quem mais sustentou o desempenho, tanto na comparação anual quanto trimestral, depois de 100 dias ausente do mercado. A retomada começou na segunda quinzena de dezembro e seguiu dali em diante, com uma forte demanda reprimida. Gularte diz que não vê, por enquanto, sinais de mudança no cenário de preço da região. Ao contrário: “demanda constante e preço em alta”. O valor da tonelada naquele país estava em US$ 7.500 dólares em abril, comparado a US$ 5.000 do mesmo período no ano anterior.

O executivo não demonstrou preocupação com a situação, em razão do lockdown forçado pela política de covid zero. “Divulgaram a foto de dez dias atrás, da situação dos portos em Xangai, mas esqueceram de atualizar o filme”, afirmou o executivo em conversa com a imprensa. “Hoje não temos nenhum atraso logístico na China. E o consumo não parou, nem as compras.”

Para Brasil, Gularte afirma que vê a demanda estabilizada e que, diante do cenário, a empresa está concentrando maiores esforços em cortes de marca.

Dívida

A Marfrig, que a partir do segundo trimestre vai consolidar o balanço da BRF em seus números, terminou março com dívida líquida de R$ 21,1 bilhões — R$ 800 milhões a menos do que o fim de 2021, a despeito do investimento de R$ 1,8 bilhão em ações da BRF, na oferta pública da dona das marcas Sadia e Perdigão. Isso porque o dinheiro colocado na compra dessas ações — assim como nas aquisições feitas em maio de 2021 — ainda conta como posição de caixa.  A consolidação dos balanços deve modificar as contas, portanto.

A dívida bruta teve uma ligeira alta de 6,6%, mas o caixa aumentou em proporção maior: alta de 33%, para R$ 11,2 bilhões. Esse aumento reflete a contratação de uma linha de crédito de US$ 800 milhões durante o primeiro trimestre, com custo inferior às dívidas contratas pela empresa até então.

A operação permitiu que a companhia terminasse março com a relação entre dívida líquida e Ebitda acumulado em 12 meses melhor do que dezembro e março de 2021. O índice de alavancagem estava em 1,36 vez no término do primeiro trimestre, ante 1,76 um ano antes e 1,51 no fim do ano passado.

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