Magalu: diversificação é chave para continuar crescendo no e-commerce (Magazine Luiza/Divulgação)
Repórter Exame IN
Publicado em 10 de março de 2023 às 08h59.
Última atualização em 10 de março de 2023 às 09h11.
O Magazine Luiza divulgou, na madrugada desta sexta-feira, os dados consolidados do último trimestre e do ano fechado de 2022. Para além da estratégia da companhia e dos números descritos no relatório, um outro assunto deve ser alvo de questionamentos por parte de analistas hoje: um fato relevante, enviado ao mercado em seguida ao balanço, cujo assunto principal é uma denúncia anônima relacionada a “práticas comerciais em desacordo com o Código de Conduta e Ética da companhia” relacionadas a certos distribuidores e fornecedores. Segundo a companhia, as práticas envolveriam operações de bonificação relativas a compras de fornecedores e distribuidores, que representaram, ao longo do último ano, aproximadamente 3,5% do valor total de compra de mercadorias da companhia. O Magalu afirmou que o fato já está sob investigação do Comitê de Auditoria, Riscos e Compliance. Mais informações devem ser divulgadas no call de resultados, a ser realizado às 12h.
Enquanto mais informações sobre o assunto não são divulgadas, foco no desempenho da companhia em 2022. Assim como nos trimestres anteriores, a varejista registrou avanços operacionais em receita, margem, lucro bruto e Ebitda, mas as variações positivas não chegaram à última linha. Mais uma vez, a companhia registrou prejuízo, que foi de R$ 372 milhões no ano — revertendo lucro líquido de R$ 114,2 milhões no período anterior.
O motivo é, como foi ao longo de todo 2022, o resultado financeiro. Os juros altos fizeram a despesa financeira da companhia aumentar 155% na comparação com 2021, totalizando R$ 2,4 bilhões em 2022. O maior impacto está nos juros de empréstimos e financiamentos, que quintuplicaram ao longo do ano, passando de R$ 172 milhões em 2021 para quase R$ 900 milhões em 2022.
Mesmo com o desafio financeiro, boas notícias vieram ao longo do ano para a parte operacional. A companhia conseguiu reduzir os níveis de estoque, encerrando o ano em R$ 7,8 bilhões de reais (uma redução de mais de um bilhão em relação ao ano anterior) e melhorou o giro do estoque em mais de 30 dias ao longo do ano. Os avanços foram conquistados sem que a companhia perdesse margem bruta no acumulado dos doze meses.
Além disso, a varejista conseguiu gerar mais de R$ 800 milhões em caixa ao longo do ano, com destaque para o quarto trimestre — período tradicionalmente aquecido para o varejo, em que o indicador atingiu R$ 2,2 bilhões. O Magalu fechou o ano com mais de R$ 10 bilhões em caixa.
Em relação ao crédito, a carteira da Luizacred atingiu 20,6 bilhões de reais. As despesas de PDD representaram 2,9% da carteira total no último trimestre do ano.
Assim como Fred Trajano já havia adiantado em entrevista ao Exame IN no aniversário de sete anos à frente do Magalu, o balanço traz a operação de e-commerce da companhia em evidência.
"O forte crescimento do e-commerce durante a pandemia antecipou o avanço de alguns anos, e o que vemos agora é um retorno para a curva de crescimento que já vinha acontecendo. A expansão média do nosso e-commerce nos últimos três anos foi de expressivos 44%, refletindo essa dinâmica."
A convicção de um e-commerce maior vem mesmo em um período de desaceleração do e-commerce em relação ao que se viu na pandemia. A penetração do e-commerce no varejo total em 2022 foi de apenas 11%, com uma queda de 4% em vendas segundo a Neotrust — nada disso é uma tendência de longo prazo, defende a administração do Magalu. Só no último trimestre, a empresa ganhou 5,1 pontos percentuais em participação no varejo digital do país.
Para avançar, assim como havia sinalizado em janeiro deste ano, o CEO acredita em diversificação de categorias. “Se você olhar a penetração do digital por categoria, as mais altas estão nas nossas, de bens duráveis, produtos de tecnologia, eletroeletrônicos. Para chegar no próximo patamar, categorias como beleza, moda e produtos de consumo mais imediato terão de crescer. Será ainda mais necessário um modelo multicanal, em comparação com o que ocorreu até agora”, afirmou Trajano, ao EXAME IN. No último trimestre do ano, as vendas de novas categorias representaram 51% das vendas online do Magalu.
Com uma série de aquisições realizadas ao longo dos últimos dois anos, o Magalu mostra, na prática, o efeito da diversificação. Em termos anuais, a receita de Netshoes, Época Cosméticos e Kabum responde por 17% do total faturado pelo grupo, somando R$ 6,5 bilhões . Há um ano, a receita líquida das empresas adquiridas era de R$ 3,5 bilhões (lembrando que a compra da Kabum foi realizada em julho de 2021 e que, portanto, os resultados foram compilados apenas a partir daí).
De olho na próxima fase do varejo digital, o Magazine Luiza aponta a necessidade de “ganhar o jogo da eficiência”, um ponto para o qual as lojas físicas exercem papel fundamental. No último ano, em que a companhia conduziu o Parceiro Magalu — caravana por todo o Brasil de olho em mostrar para pequenos varejistas como poderiam se digitalizar — mais de 170 mil pequenos varejistas entraram para o ecossistema da companhia e usam as lojas como ponto de apoio para as operações.
Além disso, cerca de 80% dos pedidos do marketplace são realizados via Magalu entregas e mais de 61% dos vendedores usam o serviço Agência Magalu. A ideia é ampliar esse índice cada vez mais, com o lançamento recente do serviço de fulfillment da companhia.
"Iniciamos 2023 em ritmo acelerado, com a maior Liquidação Fantástica da história. O Magalu continuará a expandir sua participação de mercado em todos os seus canais de vendas, de forma sustentável. Crescer com rentabilidade continua sendo a prioridade da companhia. Acreditamos que este será mais um ano de colheita de tudo o que foi feito nos últimos meses", afirma a varejista no relatório.