Exame IN

Magalu recupera margens, mas juro alto leva a prejuízo de R$ 99 milhões

Companhia conseguiu se tornar mais rentável no trimestre, mas dívida mais cara pesou para levar a prejuízo

Magalu: mantra para 2022 é recuperar rentabilidade para lidar com cenário de juros altos e despesa financeira salgada (Germano Lüders/Exame)

Magalu: mantra para 2022 é recuperar rentabilidade para lidar com cenário de juros altos e despesa financeira salgada (Germano Lüders/Exame)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 16 de maio de 2022 às 19h38.

Última atualização em 16 de maio de 2022 às 19h57.

O primeiro trimestre do Magazine Luiza mostra que a companhia fez a lição de casa para recuperar margens, depois que o tombo do quartro trimestre assustou os investidores. Porém, o esforço ainda não foi suficiente para deixar o resultado no azul. A companhia teve prejuízo de R$ 98,8 milhões de janeiro a março, uma perda 25% maior que a do último trimestre de 2021. Um ano atrás, o resultado foi lucro. O vilão dessa vez, porém, não foram as margens operacionais, mas sim a taxa de juros alta, que deixou a despesa financeira salgada. 

Inscreva-se no EXAME IN e saiba hoje o que será notícia amanhã. Cadastre-se aqui e receba no e-mail os alertas de notícias e das entrevistas quinzenais do talk show.

A receita líquida da companhia no período foi de R$ 8,7 bilhões, cifra 6,2% maior do que a do primeiro trimestre de 2021 — época em que a variante Delta bagunçou todo o varejo, mas que as vendas foram impulsionadas pelo auxílio emergencial do governo. Numa referência mais recente, o faturamento ficou 6,8% menor do que a dos últimos três meses de 2021. Ainda assim, a comparação não é perfeita, por se tratar de um período aquecido de compras com o Natal e Black Friday, os dois maiores eventos do ano para o consumidor. 

As vendas totais — o indicador chamado GMV que tanto o mercado gosta — somaram R$ 14,1 bilhões, um avanço total de 13,2%. A maior parte do crescimento veio do ambiente on-line. Sozinho, foi responsável por R$ 10 bilhões desse total, um crescimento de 16% na comparação ano a ano (50% de alta no marketplace e 3% nas vendas próprias digitais). As lojas físicas também contribuíram de forma positiva, com os demais R$ 4 bilhões, aumento de 6% na comparação anual — lembrando que no início de 2021 as pessoas ainda estavam com mais restrições para sair do que em 2022.

Além de vender mais, o Magalu conseguiu readequar a própria estratégia de preços, deixando as promoções de lado para ganhar rentabilidade: a margem bruta fechou o período em 27,8%, aumento de 2,7 pontos percentuais na comparação anual.

Diante de investidores cada vez mais cautelosos, a companhia chegou a isso após adotar uma série de medidas, como repassar a inflação de custo dos produtos comercializados e o aumento da taxa de juros no financiamento ao cliente.

Além disso, o Magalu ajustou níveis de estoque – reduzindo o saldo em mais de R$ 1 bilhão – e readequou despesas variáveis no trimestre. Com essas ações, o estoque, que chegou a R$ 9,1 bilhões em dezembro, está mais próximo dos patamares de setembro (cerca de R$ 8 bilhões).

Com margem bruta recuperada, ficou mais fácil avançar também no Ebitda, que somou R$ 434,2 milhões, bastante próximo ao patamar de um ano atrás (+1,7%). A margem Ebitda fechou o período em 5%, ligeiramente abaixo do registrado no primeiro trimestre de 2021, mas praticamente o dobro do que foi no quarto trimestre do ano passado. De olho no futuro, Roberto Bellissimo, CFO do Magalu, explica que o aumento de margens continuará a ser foco da companhia, principalmente para compensar os juros mais altos.

O executivo pondera que, de 2017 a 2019, o patamar da margem Ebitda era de 8% e que permitia à companhia crescer com sustentabilidade e rentabilidade. "Se formos considerar os patamares de juros, estamos mais próximos de 2015 do que desse período, também. Não podemos dar guidance, mas posso dizer que tudo vai depender dos juros futuros”, afirma, ao EXAME IN.

Dívida: Foco em minimizar efeitos de alta dos juros

No trimestre, o Magalu sofreu com o aumento do CDI na dívida. O resultado financeiro saiu de um patamar de 2,1% da receita líquida para 4,8% na comparação anual. Trazendo as cifras, passou de R$ 170 milhões para R$ 422 milhões em um ano. Os números já contabilizam o efeito da antecipação de recebíveis, que sofrem um desconto maior em período de dinheiro mais caro.

Para minimizar o efeito desses números, a companhia adotou algumas medidas ao longo dos três primeiros meses de 2022, como aumentar os juros de parcelamentos e diminuir a quantidade de parcelas disponíveis. 

Nas lojas físicas, os juros variam de 0,99% a 2,49% ao mês e as promoções foram reduzidas para o máximo de 10 vezes sem juros (ante 20, o número anterior). No e-commerce, em que era possível parcelar em até 30 vezes, agora, o máximo é de 24 vezes sem juros. Além disso, a varejista subiu o valor de parcela mínima sem juros. Antes, um cliente conseguia parcelar algo de R$ 300 em até dez vezes e hoje isso está em torno de cinco a seis. “Isso gera um efeito positivo na margem bruta na redução da despesa financeira com recebíveis, já que o desconto tende a ser menor”, diz Bellissimo. 

Olhando para a parte de crédito, no trimestre, o volume de transações processadas pelo Magalu foi de R$ 20,8 bilhões, crescimento de 88,9% na comparação anual. O faturamento de cartão de crédito cresceu 49,8%, atingindo R$ 12,3 bilhões no período.

Na última semana, a companhia lançou a  Fintech Magalu, braço financeiro da varejista. A empresa apresentou dois produtos financeiros: um cartão de crédito para empresas e uma linha de empréstimo pessoal para pessoa física que pode ser contratada direto pelo aplicativo da Magalu. 

Caravana Magalu e a digitalização do varejo

O crédito é um passo para estar mais perto dos vendedores do marketplace. O outro será uma caravana a ser realizada pelo Brasil, com foco em conhecer empreendedores que podem estar dentro do ecossistema Magalu. Nela, a alta liderança da companhia — tendo Luiza Trajano como madrinha — vai visitar diferentes municípios para defender a vantagem de vender dentro do ecossistema Magalu. Um dos atrativos é a taxa inicial de 5,8% para vendas de pequenos comerciantes.

“Hoje, acreditamos que é possível construir crescimento de vendas e rentabilidade em cima das estruturas econômicas que temos. Por isso, vamos continuar apostando no marketplace e em outras oportunidades digitais”, diz Eduardo Galanternick, vice-presidente de Negócios do Magazine Luiza. A companhia tinha 142 mil sellers plugados na plataforma no fim de 2021 e esse total já está agora em 180 mil. 

Um dos destaques do marketplace é que a plataforma tem, em dois anos, um GMV três vezes maior. Hoje, são R$ 3,7 bilhões em vendas (aumento de 50% na comparação com o mesmo período do ano passado). “Foram quatro anos para chegar a 80 mil sellers e apenas 12 meses para incorporar 100 mil deles. Isso dá um pouco a dimensão da velocidade alcançada na operação desse canal”, diz o documento.

As lojas físicas, dentro dessa estratégia, além de venderem, funcionam como pequenos pontos para recrutar vendedores para o marketplace da companhia e pontos de acesso logístico. Hoje, 14 mil pessoas usam a Agência Magalu e a companhia começa a operar, neste mês, a operação de fulfillment usando as lojas físicas como ponto central — sem construir centros de distribuição. 

“Existe uma oportunidade de produtos de tíquete maior e a peça que faltava era o fulfillment. Não onera a nossa estrutura, mas exige apenas uma adaptação de sistemas para fazer essas entregas, que vão gerar mais receita para a empresa”, diz Galanternick.

Já para os consumidores, a companhia também lançou recentemente uma ferramenta de social commerce, de olho em criar mais recorrência de usuários dentro do aplicativo. Com ela, é possível fazer compras em grupo e obter descontos.

Acompanhe tudo sobre:AçõesBalançosMagazine Luiza

Mais de Exame IN

Mais Porto, menos Seguro: Diversificação leva companhia a novo patamar na bolsa

Na Natura &Co, leilão garantido e uma semana decisiva para o futuro da Avon

UBS vai contra o consenso e dá "venda" em Embraer; ações lideram queda do Ibovespa

O "excesso de contexto" que enfraquece a esquerda