Companhia dona de marcas como Adria e Piraquê está, pouco a pouco, melhorando rentabilidade (M. Dias Branco/Divulgação)
Karina Souza
Publicado em 12 de agosto de 2022 às 21h44.
Última atualização em 12 de agosto de 2022 às 22h02.
Os dias difíceis da M. Dias Branco parecem ficar cada vez mais para trás. A empresa, que em 2021 teve momentos complicados para crescer com o combo de pandemia, dificuldade de repassar preços e aumento de commodities, vem pouco a pouco reconstruindo sua trajetória neste ano. O primeiro trimestre foi marcado por um lucro 150% maior, que ainda não se equiparava aos patamares pré-pandemia, mas, nos três meses encerrados em junho, a companhia conseguiu colocar o pé no acelerador de vez. A última linha do balanço ficou em R$ 233,5 milhões, aumento de 64,1% em relação ao mesmo período do ano passado e consideravelmente maior do que os resultados de 2019 e 2020 (R$ 152,4 milhões e R$ 100,6 milhões, respectivamente). O lucro líquido ficou, também, consideravelmente acima da média das análises dos bancos de investimento: o BTG estimava R$ 161 milhões; o Itaú BBA, R$ 206 milhões, e o JP Morgan, R$ 146 milhões.
O resultado foi impulsionado pelo ganho de receita no período: chegou ao recorde de R$ 2,5 bilhões, crescimento de 36% ante o ano anterior. Foi sustentado por alguns fatores como repasse de custos e redução do tamanho da embalagem dos produtos – o que traz ganhos de preço médio no real/kg. O ponto 'negativo' é que, com essa estratégia, a companhia perdeu volume de vendas na comparação anual em 7%. No detalhe, a redução em Biscoitos foi de 4,6% e, em Massas, de 13,5%. O market share, consequentemente, diminuiu também, em 2 pontos percentuais e em 0,3 p.p., respectivamente.
"Em biscoitos, a explicação envolve dois fatores. O primeiro é que, embora todas as concorrentes tenham aumentado preços, o incremento foi menor do que o praticado pela M. Dias Branco. E a outra é o próprio tempo de transição de embalagens com menor peso líquido, um processo que também começamos depois. No momento da transição se perde um pouco de volume, mas acreditamos que terá uma recuperação rápida”, diz Fábio Cefaly, diretor de relações com investidores da M. Dias Branco, ao EXAME IN.
Há, ainda, outro fator que contribui para o resultado final em receita: o foco em produtos de maior valor agregado. Nesse caso, dá para citar a Piraquê. A marca responde por 10% da receita e cresceu mais do que a M. Dias Branco no período, graças aos investimentos em expansão e em marketing. Uma situação similar acontece com a Latinex. É pequena, mas já cresceu 195% desde que foi adquirida, por estar em mais pontos de venda e em redes como Carrefour, Atacadão e BIG, que não estava antes.
No caminho para levar os ganhos até à última linha do balanço, a M. Dias Branco também melhorou a gestão dos custos e despesas. Em relação à produção, a companhia tem uma capacidade de estocar até quatro meses de trigo, o que permitiu produzir com um custo mais barato dessa matéria-prima, por exemplo, em meio ao aumento de preços do período. Um gráfico é apresentado no relatório, mostrando que, enquanto o preço de mercado do Trigo fechou o período em US$ 450/tonelada, o preço médio de aquisição no estoque foi de US$ 353/tonelada. No óleo de palma, a diferença é ainda maior: de US$ 1.572/tonelada no mercado para US$ 1.377/tonelada no estoque.
“Em relação ao futuro, dá para perceber uma tendência de queda no trigo, por exemplo, mas eu tenho estoque, o que significa que se acontecer agora, vai demorar um pouquinho para pegar o trigo mais barato. Por enquanto, aumentamos estoque para aproveitar os preços mais baixos que encontramos e garantir volume para a demanda, que está em bons níveis”, diz o executivo.
Em relação às despesas gerais e administrativas, o trabalho contínuo de melhorar a produtividade fez com que elas deixassem de representar 20,7% da receita no segundo trimestre do ano passado para 19,8% neste ano.
O efeito combinado dos ganhos e da gestão resultaram em ganhos de margem e de resultado operacional, no fim das contas. A margem bruta subiu 6,5 pontos percentuais, para 34,3%, e o Ebitda chegou a R$ 357,1 milhões, ante os R$ 167,2 milhões registrados no mesmo período do ano passado. A margem Ebitda, por sua vez, chegou a 14,3%, ante 8,5%.
Por ter um perfil bastante conservador de endividamento, o aumento de obrigações financeiras a pagar não minou os ganhos. Houve incremento de 429,4% no período na comparação anual, para uma despesa financeira de R$ 27 milhões. É um resultado que tem como pano de fundo principalmente o aumento dos juros no período.
Com um histórico de aquisições, a empresa anunciou no trimestre a da Jasmine Alimentos, cujo valor não foi divulgado. O acordo ainda deve passar pelo aval final do Cade (que já emitiu parecer favorável à combinação dos negócios), previsto para o fim da próxima semana. Questionado a respeito de novas compras daqui para frente, Cefaly diz que “está trabalhando bastante” e que a companhia mantém uma rotina de prospecção centrada em três fatores: negócios benéficos para o core da companhia, projetos que reforcem a internacionalização ou que tragam presença em novas categorias. “A nossa rotina de procura está preservada”, diz o executivo.
No segundo trimestre. a alavancagem da empresa fechou em 1,3 vez, acima dos patamares históricos registrados – que ficam abaixo de uma vez – por dois motivos principais: distribuição extraordinária de JCP de R$ 588 milhões no primeiro trimestre (que consumiu caixa) e de outro gasto, de R$ 70 milhões, em função do aumento de estoques. “Não temos preocupação nenhuma com isso, porque reconhecemos que o montante investido em estoque rapidamente vai virar caixa. Aumentamos as compras justamente para passar pelo terceiro trimestre, então esse resultado vai aparecer em curto prazo”, afirma Cefaly.
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