M. Dias Branco: dona da Adria e da Piraquê aposta em produtos premium para continuar crescendo (M. Dias Branco/Divulgação)
Repórter Exame IN
Publicado em 20 de março de 2023 às 07h00.
A M. Dias Branco chegou a uma marca histórica de receita em 2022, aumentou Ebitda em patamares superiores ao ganho de receita e, mesmo depois de ir às compras, fechou o ano com um lucro líquido apenas 4,6% menor do que o do ano anterior. Mesmo com todos os avanços, o que os porta-vozes da empresa deixam claro em entrevista ao EXAME IN é que há muito mais por vir, com efeitos claros a partir deste ano. Em 2023, a companhia projeta crescer acima da inflação.
Antes de falar de futuro, é necessário contextualizar o passado recente. Em 2022, a companhia, dona de marcas como Piraquê e Adria, teve um lucro líquido de R$ 481,8 milhões, queda de 4,6% em relação a 2021, puxada principalmente pelo aumento da despesa financeira (uma história contada à exaustão sobre empresas brasileiras no último ano). Do lado operacional, a M. Dias Branco chegou a uma marca histórica de R$ 10 bilhões em receita, um avanço de 29,6% em comparação a 2021. Mais do que isso, ganhou também rentabilidade: o Ebitda cresceu 31,7% ante o ano anterior, fechando 2022 em R$ 900 milhões.
O aumento da receita ao longo do último ano veio mais de preço do que de volume — a quantidade de vendas ficou apenas 1% maior na comparação anual. Os produtos ficaram mais caros principalmente para compensar os aumentos do preço do trigo e do óleo de palma ao longo do ano, influenciados principalmente pela guerra na Ucrânia. “Neste ano, como não vemos mais nenhum evento extraordinário como este, acreditamos que também vai ficar mais fácil expandir volume”, afirma Gustavo Lopes Theodozio, CFO da M. Dias Branco, ao EXAME IN.
Um outro ponto em que a companhia investe em 2023 para engrossar o top line, ganhando rentabilidade, é a melhora de mix, estratégia por trás das aquisições realizadas pela companhia ao longo do ano passado. E que trouxe efeitos no balanço: os produtos premium responderam por 3,4% do faturamento, ante 2,2% em 2021, impulsionados por Latinex e Piraquê.
Para este ano, a ideia é que o percentual fique ainda maior neste ano, com a consolidação da Jasmine e com o foco em lançamentos de alto valor agregado também nas marcas Vitarella e Adria.
“O trabalho com as aquisições não chegou nem no nível 2/10, vamos assim dizer. Pense que compramos a Jasmine em novembro e estamos começando a colocar todos os produtos nos nossos 28 centros de distribuição do Brasil. Além disso, olhando só para essa marca, ela tinha 3 mil pontos de venda antes de ser comprada, a M. Dias Branco tem 100 mil. Podemos não colocá-la em todos, é claro, mas se o número for para 20 mil, já será um avanço importante”, diz o executivo.
A ideia é seguir, em certa medida, o que foi feito com a Piraquê. A marca de biscoitos foi a líder em crescimento no país em 2022 , em uma estratégia que veio principalmente a partir de diversificação geográfica, aumentando a presença no Norte e no Nordeste. A receita da marca foi 36% maior do que a registrada em 2021, com preço médio 29% superior à média do mercado. Hoje, é a vice-líder dentro do portfólio da M. Dias Branco.
Com um mix mais premium sendo impulsionado, a empresa tem fôlego para lidar com o aumento das despesas operacionais que esse esforço gera. Em 2022, as despesas com vendas (as maiores) cresceram 25% e fecharam o ano em R$ 1,7 bilhão. O crescimento da companhia no período diluiu esse gasto adicional, fazendo com que as despesas ocupassem uma porção da receita bastante semelhante à de 2021: 22,7%, redução de 0,3 ponto percentual.
“A gente tem usado distribuidores para chegar no consumidor de forma mais rápida. Tem que contratar caminhão e criar novos CDs. Tivemos um grande ganho de eficiência ao trocar alguns operadores logísticos ao longo de 2022. A rescisão com os anteriores gerou uma despesa de quase R$ 20 milhões, mas começamos 2023 já com uma frota renovada e um custo bem menor”, diz o CFO.
Como resultado das aquisições realizadas até aqui, a companhia encerrou 2022 com um caixa de R$ 0,6 bilhão e endividamento bruto de R$ 2,2 bilhões, resultado em uma alavancagem de 1,8 vez, ante 0,2 vez no mesmo período do ano anterior. O aumento da dívida aconteceu principalmente pela distribuição extraordinária de JSCP de R$ 560,9 milhões, pelas aquisições de Jasmine e Las Acacias (que somaram R$ 449 milhões) e pelos investimentos em Capex, de R$ 279,7 milhões.
Para 2023, segundo Theodozio, a geração de caixa da companhia vai permitir a redução dos níveis de endividamento. E, enquanto os juros estiverem no patamar atual, a companhia vê com muita cautela novas aquisições.
“Não tem mágica. Fizemos três aquisições, uma inclusive fora do Brasil, vamos trabalhar durante o ano para integrá-las à nossa estrutura e olhar mais para dentro ao longo do ano. Agora, não posso deixar de dizer que nosso plano estratégico prevê a entrada em novas categorias e também em outros mercados fora do Brasil. Estamos em contato com bancos quase todo dia, mas no pipeline atual não há nada que nos leve a uma aquisição no curto ou médio prazo, a não ser que surja uma excelente oportunidade”, afirma.
O foco maior “dentro de casa” e as oportunidades a serem exploradas deixam a companhia confiante para enfrentar 2023. Ainda segundo o executivo, há possibilidade de que o crescimento operacional se mantenha até à última linha do balanço, mesmo num ambiente de juros ainda altos.