Las Acacias: aquisição é primeiro passo para M. Dias Branco experimentar presença fora do Brasil (Las Acacias/Divulgação)
Karina Souza
Publicado em 31 de outubro de 2022 às 18h12.
Última atualização em 31 de outubro de 2022 às 18h41.
A M. Dias Branco segue a todo vapor nas compras. Depois de adquirir a empresa brasileira Jasmine (por valor não revelado pela companhia), a dona de marcas como Piraquê e Adria anuncia nesta segunda-feira, 31, a aquisição de 100% da Darcel S/A, que tem como principal empresa a Las Acacias, uma das três principais empresas do Uruguai no mercado de massas. A aquisição foi feita por meio da Latinex, empresa controlada pelo grupo brasileiro. O foco, com a transação — além de fincar os pés em território estrangeiro — é trazer uma oportunidade de diversificação de receita em moeda estrangeira. Hoje, 60% do custo da M. Dias Branco está em dólar (principalmente por causa de commodities) e, a receita, praticamente inteira em reais. Partir para outros países, portanto, traz alguma proteção cambial, num olhar além dos fatores puramente operacionais. Hoje, para dar uma visão geral sobre a presença internacional, a M. Dias Branco já exporta seus produtos para mais de 40 países — com um portfólio pequeno e bastante específico para cada região. No Uruguai, as maiores marcas eram Piraquê e Nikitos.
O valor da compra, mais uma vez, não foi revelado. A M. Dias Branco afirma que a empresa adquirida fatura R$ 120 milhões por ano e tem uma margem Ebitda de 14%. Em relação ao pagamento, a afirmação oficial é de que pagou “múltiplos em linha com os de mercado”, sendo parte à vista e parte a ser pago em 2024. Os recursos, vale destacar, não vieram do caixa da empresa. Gustavo Lopes Theodozio, vice-presidente de Controladoria, Investimentos e RI da M. Dias Branco, explica ao EXAME IN que o dinheiro para a compra veio a partir de uma linha de empréstimos com bancos brasileiros, numa dívida em reais.
Essa linha de endividamento foi contraída durante o terceiro trimestre e deve aparecer nas demonstrações financeiras a serem divulgadas no dia 11 de novembro. A companhia encerrou o segundo trimestre com caixa de R$ 0,7 bilhão e endividamento bruto de R$ 1,7 bilhão, com uma alavancagem, portanto, de 1,3 vez.
O processo de compra não teve nenhum advisor, diferentemente do processo da Jasmine. A oportunidade foi identificada a partir dos contatos que a companhia mantém periodicamente e de um esforço conduzido desde dezembro do ano passado com executivos da M. Dias Branco mapearem o mercado do Cone Sul. “Fizemos um investimento para entender esses mercados, em janeiro falamos com alguns potenciais vendedores e fechamos agora em novembro. Foi um processo conduzido basicamente com as equipes de exportação, em que avaliamos market share e qualidade dos produtos e, depois, entramos em contato com as empresas. Um processo 100% in house”, afirma Theodozio.
Um dos fatores que chamou a atenção da companhia em relação a Las Acacias tem a ver com a solidez da empresa uruguaia. Fundada há setenta anos — uma idade similar à da própria M. Dias Branco — a empresa, que até então era familiar e estava sob o comando da segunda geração, tinha resultados consistentes de faturamento e margem, bem como a falta de um sucessor da terceira geração para comandar os negócios. Unindo estes fatores com o apetite da companhia brasileira por expansão, as conversas começaram e desembocaram na transação anunciada hoje.
A transação guarda um processo curioso em relação ao que se está acostumado a ver em solo brasileiro. Por aqui, há o ‘rito’ comum de anúncio de compra e de submissão ao Cade, processo que pode levar até um mês para ser concluído. Neste caso, a empresa brasileira já anuncia a compra e a tomada do efetivo controle — uma vez que já passou pelo equivalente ao Cade no Uruguai. Tudo isso para dizer que: é ‘já’ o momento em que a M. Dias Branco assume efetivamente a gestão da Las Acacias e os resultados da empresa uruguaia já devem aparecer nas demonstrações financeiras a serem divulgadas em novembro.
Os atuais controladores, com o acordo, ficarão no negócio por um período de até dois anos e depois serão sucedidos por um mix de executivos brasileiros da M. Dias Branco com profissionais que já atuam localmente. A empresa brasileira já tem uma equipe comercial no Uruguai há três anos, uma ‘força’ que deve se juntar à da Jasmine no país para fazer parte da Las Acacias. Por fim, algum executivo da área financeira da empresa brasileira deve se juntar à equipe local.
Hoje, a Las Acacias tem um amplo portfólio de massas secas, composto por cortes longos e curtos com ovos, sêmola de trigo duro, integrais e instantâneos, produzidos em planta própria instalada em Montevidéu, onde também fica o centro de distribuição. A região, aliás, é próxima à do próprio centro de distribuição da própria M. Dias Branco, em Bento Gonçalves.
A ideia, a partir da aquisição, é conseguir repassar à Las Acacias alguma escala na compra de insumos para produção. Fábio Cefaly, diretor de RI e Novos Negócios da M. Dias Branco, e Theodozio, explicam que o Uruguai, hoje, há apenas um único dono de moinhos.
“Se você tem uma empresa de massas, é obrigado a comprar somente daquele fornecedor. Agora, temos a oportunidade tanto de trazer mais escala para a empresa adquirida quanto de sermos mais competitivos em Montevidéu. Se tivermos custos melhores, podemos eventualmente importar farinha, uma vez que, no Mercosul, as vantagens tributárias podem impulsionar a nossa competitividade”, afirmam.
De todo modo, a ideia da M. Dias Branco não é a de seguir um caminho similar ao que foi feito com a Piraquê e com a Jasmine, por exemplo. Leia-se: não vai dobrar o faturamento da nova empresa dentro do grupo. O foco, com a compra, é o de ‘testar mercado’, dar o primeiro passo rumo à expansão internacional da empresa — e, é claro, aproveitar a capacidade de comprar trigo em melhores condições, olhando para a eficiência operacional, do que a empresa uruguaia conseguia fazer antes.
Questionados a respeito de futuras aquisições ainda em 2022, os executivos afirmam que estão permanentemente olhando oportunidades, não só na América Latina. Por enquanto, ainda não há nada que possa ser divulgado. O que a empresa reforça é que as compras seguem o racional de três pilares: saudabilidade e nutrição, indulgência e praticidade. “Eles se somam à expansão internacional e ao valor agregado. Esse é nosso mundo de M&A”, diz Theodozio. Nos últimos 12 meses, a companhia fez três aquisições: a da Latinex, da Jasmine e, agora, da Las Acacias.
Importante entender que o racional das aquisições também está conectado com a estratégia de crescimento da M. Dias Branco, que também se baseia em outros dois pilares: crescimento no Brasil e entrada em novas categorias. A empresa uruguaia traz principalmente o último ponto, com a oportunidade de a M. Dias Branco atuar em uma linha de produtos que não comercializava antes: a de molho para macarrão. Antes, a empresa brasileira tinha no portfólio apenas a Frontera, que vende molhos para comida Tex-Mex. “É uma aquisição com um portfólio bastante ‘premium’ do lado de massas também, como lasanha e o Mac n’ Cheese americano, por exemplo”, diz o executivo.
Isso não quer dizer que a empresa não contribua, ainda que de forma tímida, para o Brasil. Os produtos da Las Acacias são comprados principalmente no sul do país – tendo a rede de supermercados Záffari como o principal exemplo comprador.
Falando em futuro no Brasil, as expectativas dos executivos para o lado de cá também são positivas. Um dia depois da definição da presidência no Brasil, eles explicam que a empresa já tinha projetado cenários para ambos os casos de vitória e que não teve de mudar nenhum plano para o futuro.
“Nos dois casos, havia a promessa de manutenção dos auxílios, que é o que interfere no poder positivo e aquisição de alimentos. Estamos já trabalhando no orçamento do ano que vem e não tivemos de fazer nenhuma mudança nesse sentido. Estamos preparados”, afirmam.
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