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Light: banco paga cupom de dívida por engano - e pede dinheiro de volta

Erro no banco custodiante, o Itaú, fez com que pagamento de cupom de debêntures de R$ 600 milhões fosse realizado

Light: pagamento de cupom "errado" gera confusão no mercado (Leandro Fonseca/Exame)

Light: pagamento de cupom "errado" gera confusão no mercado (Leandro Fonseca/Exame)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 15 de fevereiro de 2024 às 18h37.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2024 às 13h03.

Devo, não nego, pago sem querer. A Light deixou investidores coçando a cabeça nesta quinta-feira pós-carnaval. Em recuperação judicial, ou seja, desobrigada de pagar vencimentos ou qualquer serviço de dívida, a companhia viu o cupom de uma emissão de R$ 600 milhões, realizada em setembro de 2020, ser pago nesta semana. A emissão oferece remuneração de IPCA + 5,08%. O pagamento foi de R$ 36 milhões.

Depois de muita confusão, ficou claro que o erro partiu do banco custodiante dos títulos, o Itaú. Na noite desta quinta-feira, a instituição financeira chegou a mandar comunicados para os clientes afirmando que reaveria o dinheiro depositado mais cedo. Mas, as chances de conseguir fazê-lo são pequenas — clientes sacam e movimentam o dinheiro assim que cai nas contas.

Procurado, o banco afirmou em nota que "está realizando a regularização dos créditos feitos indevidamente na conta dos debenturistas da empresa Light, de modo que não haja qualquer prejuízo para a companhia ou seus investidores.”

Em nota enviada no sábado (17), a Light afirma: “Desde que entrou em recuperação judicial, em maio de 2023, a Light informou aos bancos custodiantes sobre a suspensão dos pagamentos de juros e amortizações de todas as suas dívidas. A Light não autorizou o pagamento de cupom das debêntures da 20ª emissão da Light SESA no dia 15 de fevereiro. Esse pagamento foi efetuado indevidamente pelo Banco Itaú. Assim que a Light identificou a irregularidade, notificou formalmente o Itaú solicitando o imediato estorno. O Banco Itaú ressarciu a Companhia no mesmo dia”.

Em recuperação judicial

A Light tem uma dívida total de R$ 11 bilhões. A maior parte — o motivo principal da RJ — está na distribuidora de energia, que tem uma dívida de R$ 10 bilhões. Até o fim deste ano, a distribuidora teria uma saída de caixa de R$ 6 bilhões em pagamentos de dívidas financeiras.

Mais do que a reestruturação financeira em si, o ponto complexo dessa conta está nas perdas que a empresa tem nas chamadas "áreas com restrição operacional". Hoje, a companhia não recebe por mais da metade da energia distribuída no mercado de baixa tensão (e só 40% disso é coberto por tarifa).

A companhia enfrenta um ambiente complexo de negociação com os credores. A principal discussão, hoje, envolve o preço de conversão da dívida em ações, como mostrou o INSIGHT.

Em julho do ano passado, diante do plano de recuperação judicial rechaçado pelos credores, a Light ofereceu em dezembro uma proposta de conversão de 40% dos débitos de cada credor em ações. Para quem aderisse, o restante seria pago num prazo de oito anos e com remuneração equivalente à variação do IPCA mais 4% ao ano. A proposta veio em paralelo à intenção de Nelson Tanure - principal acionista da companhia elétrica - de injetar R$ 1 bilhão na companhia.

De lá para cá, poucos avanços. De acordo com fontes próximas aos debenturistas e aos bondholders, ainda não há novas propostas na mesa.

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