Pecuária: atividade é responsável por mais da metade da receita da divisão (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)
Karina Souza
Publicado em 18 de setembro de 2022 às 11h37.
Última atualização em 14 de outubro de 2022 às 14h37.
Pensar em empresas que cresceram com o agronegócio nos últimos anos deve trazer, de bate-pronto, duas lembranças: startups e grandes nomes consolidados nesse setor. O que fica menos evidente, entretanto, é o aumento dos ganhos de uma indústria que colabora no dia a dia da pecuária para que os resultados continuem em alta: a farmacêutica. No Brasil, a MSD tem uma história e tanto para contar. A divisão de saúde animal do conglomerado de origem norte-americana dobrou o faturamento nos últimos quatro anos, chegando a R$ 1,6 bilhão em 2022. “Hoje, somos líderes em vacinas no Brasil em todos os segmentos que atuamos, de ruminantes, suínos e tilápia. Só não chegamos ao primeiro lugar ainda em avicultura”, diz Delair Angelo Bolis, presidente da MSD Saúde Animal no Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia, ao EXAME IN.
Durante toda a entrevista, o executivo fala animado a respeito do dia a dia de novidades para 2022. A principal é um medicamento aplicado no dorso do boi para fazer o controle de carrapatos, vermes e moscas. O produto em questão foi apresentado na Expointer deste ano e, mais do que ser uma novidade deste ano, é uma em décadas. O último produto parecido com esse e usado pelo setor foi desenvolvido há quarenta anos. Outro produto inovador lançado pela companhia, há cerca de três anos, foi uma ferramenta para vacinar tilápias. “Em menos de dois anos com uma parceria com uma empresa local, nós construímos uma máquina automatizada que vacina 5 mil tilápias por hora, ante 2,5 mil antes, em um processo totalmente manual”, diz Bolis.
Hoje, a divisão lança anualmente de sete a dez produtos. A maior parte da receita vem dos destinados à pecuária, responsáveis por gerar US$ 3,2 bilhões em receita no último ano, um crescimento de 18% na comparação com 2020. Os itens para pets respondem pelos demais US$ 2,2 bilhões, com crescimento de 29% na comparação anual.
De olho no futuro, a empresa criou uma área de estratégia e inovação em 2019, que teve como uma das primeiras iniciativas a certificação de clientes em bem-estar animal. Agora, o próximo passou foi o de criar uma área de inteligência de dados, a MSD Saúde Animal Intelligence. Que, como o próprio nome já diz, se dedica a obter informações de animais por meio de dados coletados em dispositivos eletrônicos.
São produtos que podem ser usados tanto para pecuaristas quanto para donos de pets. Pensando no maior mercado em receita para a companhia, menos de 20% das propriedades rurais têm alto acesso à tecnologia, segundo estimativas da MSD, o que abre espaço para apresentar os benefícios de produtos que podem melhorar o bem-estar animal – e retroalimentam o ecossistema da companhia com o selo criado há poucos anos.
Questionado a respeito dos valores para esses produtos, Bolis dá um exemplo: “Se eu te falar que um bezerro, quando nasce, vale R$ 1,7 mil e o rastreador custa R$ 10, concorda comigo que é barato?”, afirma. Os dados trazem insights relevantes aos produtores e podem trazer efeitos práticos, como a redução no tempo de recuperação de enfermidades dos animais.
Hoje, a linha de inteligência animal já é responsável por 12% do faturamento global – está embutida nos ganhos com pets e com ruminantes – e, no Brasil, ainda representa menos de 10% da receita. “Queremos chegar a R$ 100 mil nessa linha de produtos inovadores. Sim, estamos trazendo mais produtos, como linhas de robôs que podem ser instalados em aviários e monitorar o ambiente do frango, consumo de ração, água, peso e gerar dados”, diz Bolis.
A companhia também investiu em uma nova área, um datalab, que basicamente vai ajudar os clientes da empresa a analisarem os dados que vêm dos animais para gerar cada vez mais insights para o produtor e para o veterinário. O foco, no fim do dia, não é armazenar os dados na MSD, mas repassá-los aos clientes.
De olho nas compras, o executivo não entrega em quais empresas a companhia está de olho ou se há algum negócio em vias de ser concluído, mas se limita a afirmar que startups, especialmente agritechs, continuam na mira da MSD. “Tem muita tecnologia vindo. Estamos de olho para aproveitarmos o melhor dela, tanto fora do Brasil quanto por aqui", diz.
Os avanços são possíveis – e vêm em um espaço curto de tempo – graças ao baita orçamento de P&D que a empresa tem. Tradicionalmente, o conglomerado investe cerca de 20% de sua receita em pesquisa em desenvolvimento. De acordo com as informações do relatório anual, em 2021, esse patamar foi até um pouco maior. O faturamento bruto do grupo foi de US$ 48 bilhões no ano passado e, desse total, US$ 12 bilhões foram para P&D. Na divisão de saúde animal, que ainda é um “peixe pequeno”, com US$ 5,5 bilhões de faturamento anual, os investimentos em P&D não são discriminados separadamente, mas a empresa afirma que os custos com pesquisa dessa divisão, licenciamento e despesas gerais e administrativas somaram US$ 3 bilhões no último ano.
Além de aplicações dentro de casa, a divisão também passou por uma forte agenda de aquisições desde 2017, em âmbito global. De empresas de dispositivos para identificação e rastreabilidade de pets, peixes e empresas de análises de dados até às de vacinas, foram oito, ao todo. Em relação ao Brasil, a Vallée, especializada em vacinas e medicamentos para animais, foi comprada há cinco anos por R$ 1,2 bilhão.
O Brasil é o segundo maior mercado para a empresa, ficando atrás somente dos Estados Unidos. Paraguai, Uruguai e Bolívia, juntos, fazem cerca de US$ 22 milhões por ano. Aqui, a divisão tem três fábricas, uma recém-construída, com um investimento de US$ 10 milhões, localizada em Joinville. As demais estão em Montes Claros e em Cruzeiro.
Em relação ao crescimento vertiginioso nos últimos quatro anos, Bolis destaca, sem revelar valores, que a estratégia de concentrar vendas em locais mais próximos dos produtores – se aproximando tanto de revendedores quanto de farmácias – colaborou para os resultados da empresa hoje. No mercado de ruminantes, 20% da receita vem de distribuidores e 60% vem a partir da farmácia veterinária. Os demais vêm de atacado ou de venda direta às fazendas. No segmento de pets, tendo em vista que o Brasil tem 97 mil pontos de venda onde se pode comprar um produto de saúde animal, segundo a empresa, 80% das compras são feitas no canal de distribuição que chega até à clínica veterinária e outros 20% estão em grandes pet shops, como Cobasi e Petlove.
“Acreditamos em dois pontos principais para seguirmos avançando: multiplicar conhecimento e democratizar a tecnologia. O agro é 27% do nosso PIB. É um privilégio e uma responsabilidade atuar dentro desse mercado. Quando colocamos novos produtos disponíveis, buscamos democratizá-los ao máximo em custo para melhorar a saúde e o bem-estar animal, além da produtividade da proteína. É nisso que vamos continuar trabalhando”, diz Bolis.
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