Cursos universitários: Ânima pode entrar para grupo das 4 maiores com Laureate (Thinkstock/Thinkstock)
Graziella Valenti
Publicado em 22 de outubro de 2020 às 17h12.
A Ânima já está se preparando para a vida pós-aquisição da Laureate no Brasil, dona das bandeiras Anhembi-Morumbi, entre outras. A companhia tem planos de se capitalizar por meio de uma emissão de ações, pública ou privada, para melhorar sua estrutura de capital depois que absorver o negócio, conforme o EXAME IN antecipou ontem.
Nesta quinta-feira, 21, a empresa convocou uma assembleia para aprovar o aumento do limite de seu capital autorizado, de 1,6 bilhão de reais para 4 bilhões de reais. O que isso significa? Que a partir do aval dos acionistas, o conselho de administração consegue quase que em um estalar de dedos iniciar uma oferta pública de ações de até 2,4 bilhões de reais. A assembleia foi marcada para 23 de novembro.
Contudo, não há planos de uma colocação desse porte — a operação deve ser menor. É praxe que ao fazer a expansão do limite autorizado, as empresas deixem uma folga substancial, para ter flexibilidade e agilidade e ficar um tempo sem necessitar do aval dos acionistas.
O tamanho final também dependerá se a empresa escolher um aumento de capital privado ou uma oferta pública. A Ânima é uma empresa de capital pulverizado. O maior acionista é Daniel Castanho, com cerca de 11,5%. A base de investidores inclui grandes gestoras fundamentalistas brasileiras como Dynamo e Atmos, cada qual com uma posição próxima de 6%.
A capitalização só ocorrerá se a transação estiver assinada. O fechamento do negócio está paralisado porque a Ser Educação, que tem um contrato de preferência com a Laureate, obteve uma liminar na Justiça emperrando a conclusão, pois tem planos de iniciar uma arbitragem. A companhia de Janguiê Diniz ficou insatisfeita com o desfecho, pelo fato de a Laureate ter escolhido a oferta da Ânima. Alega que os ritos contratados não foram cumpridos e discorda do entendimento de que sua oferta não era a melhor.
A Ânima avaliou os ativos da Laureate em cerca de 4,7 bilhões de reais, o que inclui uma dívida de 623 milhões de reais e 200 milhões de reais que só se confirmarão a depender de uma expansão dos assentos do curso de medicina. A proposta é para pagamento todo em dinheiro. A escolha da Laureate, de acordo com pessoas envolvidas com a transação, tomou como base o maior valor da oferta, o fato de ser toda em dinheiro e a perspectiva de maior celeridade de aprovação do negócio nos órgãos da concorrência — na comparação com a da Ser e de outra rival, a Yduqs.
Devido à oferta pública de 1,1 bilhão de reais realizada pela Ânima em janeiro, a empresa não possui alavancagem atualmente. A companhia terminou junho com uma dívida líquida de 7,1 milhões de reais, pois tem um saldo de caixa de 793,3 milhões de reais. O pagamento da Laureate prevê em parte uso do caixa e a emissão de debêntures. A companhia vai divulgar o balanço do terceiro trimestre no próximo dia 9.
Imediatamente após a compra, um passo significativo para a empresa, a alavancagem deve alcançar o equivalente 5,5 vezes o Ebitda de doze meses das companhias combinadas. Por isso, a Ânima já tem os movimentos para lidar com essa realidade planejados.
Parte dos compromissos deve ser imediatamente reduzida, pois para facilitar a aprovação frente ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a companhia chega com a venda da FMU já contratada, para o fundo Farallon, de Daniel Goldberg. O valor da transação não foi divulgado, mas é estimado entre 500 milhões de reais e 700 milhões de reais.
O plano da Ânima, conforme fontes próximas à operação, é promover a emissão de debêntures, para as quais já possui carta de compromisso contratada com grandes bancos, e de ações entre a assinatura do negócio e seu fechamento. Para a companhia, trata-se de um movimento e tanto, capaz de colocá-la entre as quatro maiores do setor de educação universitária. Atualmente, tem 119 mil alunos em sua base, aos quais seriam somados os 267 mil da Laureate.