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KPTL busca R$ 500 mi para venture capital e prova que 2021 é o ano das startups

Após fusão, KPTL tem lista de novidades: de novos fundos e investimentos até reforço de equipe com quatro novas lideranças

Startups: se bolsa vive o boom do IPO, empreendedores experimentam boom do capital de risco (CSA Images/Getty Images)

Startups: se bolsa vive o boom do IPO, empreendedores experimentam boom do capital de risco (CSA Images/Getty Images)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 21 de janeiro de 2021 às 14h54.

Última atualização em 21 de janeiro de 2021 às 15h02.

Quando Florian Bartunek, presidente da conceituada gestora Constellation, afirmou ao EXAME IN nos primeiros dias de janeiro que 2021 será o ano do venture capital e de aceleração das startups no Brasil não é porque ele tem bola de cristal. Mas sim porque é um espectador privilegiado do fluxo do dinheiro.

O ano acaba de começar e a gestora de investimento de risco KPTL (lê-se Capital, em inglês) já colocou na rua a captação de novos fundos. A casa, que hoje tem sob seus cuidados R$ 1 bilhão, aplicados em cerca de 50 empresas, vê espaço para terminar o ano com R$ 1,5 bilhão sob gestão e um pouco mais de 80 companhias investidas. Fazendo as contas é uma expansão de 50% em volume e de mais de 60% na quantidade de investidas do portfólio. Para isso, também reforçou o time.

“Inovação é nosso negócio. É assim que eu quero que a KPTL seja identificada. Nosso negócio não é a tecnologia que digitaliza processos. São inovações de fato. Procuramos sempre por um ativo único e que possa nos colocar em uma posição privilegiada de monopolista de algo, pelo menos por algum tempo”, conta Renato Ramalho, presidente da KPTL, em entrevista ao EXAME IN. A gestora é fruto da combinação entre A5 Partners e Inseed Investimentos, realizada em 2019.

O executivo guarda experiência de quem acreditava em inovação há mais de 15 anos. “Era outro Brasil", lembra ele, que fez parte da história da criação de nomes como iBest, Lokau e Shoptime, entre outros. São tantas novidades e frentes, que precisa separar por tema para organizar as ideias.

A Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) indentificou R$ 14,6 bilhões em investimentos na modalidade do capital de risco em 2020 — 35% a mais do que os R$ 10,8 bilhões de 2019. E isso em um ano em que, na maior parte dele, o risco era algo para lá de difícil de medir. A única certeza é que era preciso inovar. Sabe quantas empresas cabem em R$ 3,8 bilhões a mais? Se o tíquete for de R$ 5 milhões, são 760 empreendedores.

Agtechs

Os novos fundos são para investir em agrotechs ou agtechs, saúde e inovação para serviços de governo, o tal do GovTech. “A gente alimenta o mundo. De cinco pessoas no planeta, pelo menos uma come Brasil todo santo dia. Se tiver um Google do agronegócio, será nosso, brasileiro”, comenta ele, sobre as agtechs. “E eu espero estar nele.”

Neste momento, são nove investidas. A mais recente incluída, logo na largada deste ano, é a Ecotrace, uma startup especializada em rastreabilidade com sistema baseado na tecnologia blockchain, que recebeu um cheque de R$ 3 milhões. Mas a lista de empresas do ramo se espalha por diversas verticais, do rastreamento, à tecnologia para gado de confinamento e até a plataforma para custódia de certificado de recebíveis do agronegócio (CRA), a Mark 2 Market (M2M), recentemente aprovada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). São R$ 260 bilhões em títulos registrados na M2M, cerca de 50% do volume do país.

Na carteira da casa, já há ativos nessas aéreas, mas a ideia é ampliar o investimento. O objetivo, segundo Ramalho, é aplicar entre 15 a 20 novas empresas desse segmento ao longo dos próximos três anos, com o novo fundo.

Health techs

O fundo para o mercado de saúde, das health techs (porque em inglês tudo parece mais moderno) foi estruturado ainda em dezembro de 2020, em parceria com um vetereno da “geração de negócios”, Luiz Claudio Garcia, da holding de investimentos Finvest. Ex-Pactual (antes de ser BTG), Garcia, de 69 anos, já participou da fundação da Rio Bravo e da RB Capital. Em sua holding, há diversas empresas da modalidade fintech. Saúde é outra frente que o empresário se apaixonou.

Na carteira do novo fundo da KPTL, podem caber até 20 novos negócios, e cinco já estão confirmados. Entre as já investidas dessa área está uma que ganhou grande notoriedade na pandemia, a Magnamed, fabricante de respiradores, da qual detém 40% do capital. Mas há outras também, como Carenet, NeuroUp e TMED.

Reforço

Com um time grande para uma venture capital, com 28 profissionais espalhados em diversas regiões do Brasil, a KPTL foi em busca de mais lideranças. Acaba de trazer Mariana Caetano para ser uma das líderes em agtechs. Mariana possui 20 anos de experiência em setores e empresas ligadas ao agronegócio e atuou na construção e desenvolvimento de uma grande operação de café, a Guima Café, do Grupo BMG, em Minas Gerais.

Para reforçar a área de GovTech, a gestora chamou Adriano Pitoli, que foi chefe do Núcleo de São Paulo da Secretária da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação do Ministério da Economia entre 2019 e 2020. Pitoli, que assume como líder desse braço de investimento, conquistou seu espaço no mercado como sócio diretor de análise setorial regional e inteligência de mercado da Tendências Consultoria, casa na qual ficou por dez anos.

Também para GovTech, a KPTL convidou Paulo Uebel, que foi secretário especial de desburocratização, gestão e governo digital do Ministério da Economia, em 2019 e 2020, além de ter acumulado no currículo diversas experiências como executivo de empresas privadas e até gestoras de venture capital. Ele vai atuar como conselheiro especialista do fundo dedicado ao tema.

“Com todas as carências do país e as ineficiências do estado podemos viver um pouco desse laboratório. Podemos ensinar o mundo a ter tecnologias para o cidadão. Urna eletrônica e imposto de renda são exemplos disso”, destaca Ramalho.

Por fim, a área de vendas também vai ser incrementada. Quem chega é Danilo Zelinski, que passou os últimos dez anos na BlackRock, acompanhando grandes investidores europeus que queriam transformar seu portfólio, em busca de rendimento em ativos alternativos e tradicionais. Antes disso, passou por outras grandes casas do mercado financeiro internacional.

O futuro logo ali

Na próxima fronteira da gestora, ainda para este ano, está o plano de começar a atuar no mercado de capital semente, um estágio anterior ao que atualmente investe. “A ideia é estar mais próximo do aquário para pescar boas oportunidades. Não vou fazer nunca empresa pré-operacional, mas quero chegar uma etapa antes”.

Atualmente, o tíquete mínimo de investimento é entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões. Na fase anterior, os aportes são menores, variando entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão de reais. Mas, para Ramalho, esse movimento vai permitir uma vantagem competitiva tanto para encontrar boas oportunidades, como de retorno financeiro médio para os ativos que se desenvolverem bem.

E, para 2022, Ramalho quer entrar mais no segmento de IOT, a sigla para o mercado de internet das coisas. “É um mercado de trilhões. Mas eu não consigo crescer nisso também neste ano. E é um segmento que ainda está em estágio inicial e vai avançar muito nos próximos anos.” Ou seja, dá para esperar.

Boom

Ramalho explica que o Brasil vive um momento excepcional para o venture capital, com os três principais ingredientes: demanda por tecnologia, liquidez, com a busca por diversificação de alocação de investimentos devido ao juros baixos, e empreendedorismo ativo. Para o presidente da KPTL, se a taxa de juros for para 5% a 7% ao ano, não haverá problema. “Não faz nada para o venture capital. Agora, seria uma bomba pensar em taxas de juros de 15% ao ano.”

No futuro vislumbrado por Ramalho, haverá muito mais dinheiro ainda para o venture capital e para investimento em inovação. “Já estamos vivendo essa atividade toda sem termos ainda conseguido atrair de verdade os grandes institucionais. Os fundos de pensão não sabem como investir em capital de risco e eles vão precisar fazer isso. Tem um bolsão com R$ 1 trilhão de poupança de longo que nós ainda nem arranhamos.”

“Eu não tenho dúvida que no Índice Bovespa do futuro, daqui cinco anos, vai ter muito mais empresa de tecnologia. Eu não sei se Petrobras e Vale estarão lá, isso sim. Mas tecnologia, eu sei que estará.”

O giro do dinheiro, os ciclos de investimento, serão cada vez mais curtos, na opinião do presidente da KPTL. Antes, no Brasil, era preciso um prazo de 8 a 12 anos para amadurecer uma aposta. Agora,na opinião de Ramalho,  isso acontecerá de maneira muito mais acelerada.

Mas, o executivo vem engrossar o coro  de outros especialistas em mercado de capitais e venture capital: o Brasil precisa conviver melhor com erros empresariais. Todos, de investidores ao próprio empreendedor. Por isso, ele acha muito saudável a chegada do venture capital à B3, que neste ano teve a abertura de capital das primeiras startups — Méliuz e Enjoei. “Faz parte do processo de amadurecimento do mercado financeiro e de tecnologia. Os investidores, os empreendedores e os credores brasileiros não se permitem errar. A gente precisa queimar a mão um pouco. Aqui, dar errado é virar bandido, quase. Nos Estados Unidos, é currículo de empreendedor.”

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