André Sá e Marcelo Toledo, fundadores da Klivo: criada no final de 2019, a empresa recebeu um aporte de US$ 2,5 mi liderado pelo Canary no começo do ano passado (Klivo/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 11 de junho de 2021 às 10h59.
Última atualização em 16 de junho de 2021 às 17h20.
A saúde no Brasil nunca esteve tão digital. Com a pandemia, a medicina brasileira abraçou os aplicativos e as teleconsultas para seguir atendendo a população. Uma das empresas beneficiadas por essa mudança de comportamento foi a startup Klivo. Fundada no final de 2019, a empresa começou suas operações especializada em um público que demanda monitoramentos periódicos: os diabéticos.
Uma das comorbidades da covid-19, a diabetes é uma das doenças crônicas mais comuns no Brasil: cerca de 12,3 milhões de pessoas, segundo o IBGE, receberam o diagnóstico da doença em 2019. Com ajustes na dieta e uso de medicamentos ou injeções de insulina, um paciente com diabetes vive uma vida tranquila. Mas a chave do sucesso é manter um bom controle da doença.
Para ajudar nesse monitoramento, a Klivo desenvolveu um método que combina tecnologia com atendimento personalizado de pacientes. Em um aplicativo próprio, a empresa oferece periodicamente uma série de conteúdos sobre a doença e dicas de alimentação. A ideia é que os usuários mantenham a saúde em foco todos os dias, não só nos momentos de crise. Mas quando algum dos pacientes não está bem, a startup disponibiliza um atendimento remoto com uma equipe própria de profissionais de saúde.
Com cerca de um ano e meio de operação, a Klivo conquistou uma base de 14.000 pacientes. Quem paga a conta pelo serviço não são pessoas físicas, mas sim grandes empresas de saúde, como Prevent Senior e Unimed, que veem vantagem em investir em acompanhamento para economizar com gastos médicos. Hoje, a empresa cobra em média R$ 60 por mês por pessoa atendida.
O negócio, fundado no final de 2019, foi idealizado pelos sócios André Sá (ex-sócio do BTG Pactual) e Marcelo Toledo (ex-diretor de engenharia do Nubank), ambos sem experiência prévia no mercado de saúde, mas apaixonados pelo tema. Para impulsionar os primeiros anos de operação, eles captaram US$ 2,5 milhões em janeiro de 2020 em uma rodada com a participação do Canary e de alguns investidores-anjo, entre eles Bruno Nardon, ex-presidente da Rappi no Brasil.
A dupla de empreendedores se inspirou no modelo da startup americana Livongo, que também ajuda no monitoramento de pacientes com doenças crônicas, para criar a Klivo. Fundada em 2014, a empresa abriu capital em Nasdaq em 2019, levantando US$ 355 milhões na oferta, é avaliada em cerca de US$ 12 bilhões hoje.
Assim como a referência estrangeira, a Klivo não fica restrita ao diabetes. Depois de perceber que seu método ajudava os pacientes no controle da doença no médio prazo, a empresa se sentiu confiante para expandir seu modelo para pacientes com hipertensão, obesidade e colesterol alto.
“A covid-19 trouxe mais consciência para a saúde para todos. Vemos que os pacientes crônicos estão mais preocupados em se manter saudáveis e evitar eventos agudos”, diz Sá. A oportunidade é enorme: estima-se que no Brasil pelo menos 52% dos adultos sejam afetados por alguma doença crônica.
Para continuar a crescer, a Klivo planeja aumentar a penetração de seus serviços dentro dos clientes atuais. "Uma grande rede gerencia mais de 30.000 pacientes crônicos, mas primeiro nos repassa poucos para avaliar o valor do nosso serviço", diz Sá. A expectativa da startup é que, com os bons resultados dos primeiros grupos, suas 12 companhias clientes comecem a repassar mais pacientes para seu programa.
O grande desafio dos sócios será expandir para novas empresas que ainda não aceitaram experimentar seus serviços. Para contornar o problema, a startup aposta suas fichas em um estudo com os pacientes monitorados para provar que o acompanhamento da startup realmente gera benefícios na saúde.
Quem assessora a empresa é a médica endocrinologista Camila Maciel de Oliveira, que acabou de concluir uma pesquisa sobre monitoramento de populações na escola de medicina de Harvard. "Nos pacientes diabéticos, vemos uma queda importante na hemoglobina glicada. Só precisamos usar uma estatística mais sofisticada para refinar os resultados dos testes", diz a médica.
Para ela, os benefícios do monitoramento da Klivo são claros para o sistema de saúde, sua dúvida é saber o quanto a solução melhora de fato a vida do paciente. Os feedbacks positivos dos usuários nesse primeiro um ano e meio de operação dão pistas sobre a resposta.
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