Exame IN

Klabin: acionistas aprovam de goleada compra do nome Klabin dos Klabin

Novela em torno da marca só termina formalmente na quinta, mas boletim de voto à distância e BNDES já garantem aprovação de acordo

Fábrica da Klabin: votos à distância foram 100% a favor de condições para fim dos royalties (Germano Lüders/Exame)

Fábrica da Klabin: votos à distância foram 100% a favor de condições para fim dos royalties (Germano Lüders/Exame)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 24 de novembro de 2020 às 18h56.

Última atualização em 24 de novembro de 2020 às 20h04.

A Klabin vai aprovar o acordo com os controladores para compra de seu próprio nome com louvor, depois de uma longa e polêmica novela em torno do assunto. A assembleia que votará o tema acontece só na quinta-feira, dia 26, mas a empresa já recebeu os votos à distância encaminhados ao escriturador das ações (o banco Itaú). Deu goleada: 10 x 0 para o sim.

A companhia divulgou há pouco ter em mãos votos de investidores detentores de 970 milhões de ações, que representam aproximadamente 34% do capital que pode votar no encontro — ordinárias e preferenciais apenas dos minoritários. Todos os votos — todinhos, mesmo — foram favoráveis ao negócio.  O controlador está impedido de decidir sobre o tema.

Quando somado os votos do BNDES aos já recebidos, é possível afirmar com tranquilidade que a Klabin superou essa questão em sua história, deixando para trás esse incômodo em sua governança corporativa.

Na prática, a companhia alugava sua marca dos controladores, pois eles eram os proprietários e recebiam royalties pelo seu uso do sobrenome — equivalente a 1,37% da receita dos produtos mais vendidos. Esse contrato, que data de 1995, era considerado um dos mais esdrúxulos do mercado brasileiro. O crescimento do negócio estava gerando um aumento dos desembolsos e, consequentemente, da insatisfação dos investidores. O tema estava no radar até mesmo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A empresa vai pagar a compra da marca com a emissão de 70 milhões de ações ordinárias. Ao preço de hoje do mercado, equivale a 330 milhões de reais. Em termos absolutos, quem tem boa memória pode até achar que isso é a mesma coisa que estava na mesa em fevereiro de 2019, quando foi feita a primeira tentativa de acordo  — aquela paralisada pela discordância do BNDES com as condições e pela falta de estudos para balizar a decisão.

Só que na quantidade de ações, houve uma redução de 30%, pois o acordo original previa o pagamento com 100 milhões de ações. Apesar disso, para o bolso dos controladores, está longe de ter sido um mal negócio. No tempo em que o acordo ficou congelado, eles receberam pouco mais de 100 milhões de reais em royalties enquanto o contrato esteve vigente.

O resultado dos boletins à distância traz uma informação interessante: o esforço dos investidores de participar da decisão e, com isso, dar legitimidade ao acordo. No mercado, a percepção é que a fotografia final ficará ainda mais bonita para a empresa: incluindo o BNDES, é esperado que a aprovação gire entre 65% e 70% do capital votante dessa assembleia. Se as expectativas forem confirmadas, será, de longe, a assembleia da Klabin com maior participação dos investidores de mercado.

Um acionista da companhia fez uma ressalva: "Esse sim não é para a empresa, pura e simplesmente. Esse sim é para a melhoria da governança. Representa também um sinal de quanto o mercado quer avanços nessa frente."

A operação é, sem dúvida, um marco para a empresa. As negociações começaram no fim de 2017 e transcorreram durante todo o ano seguinte, até o acordo em fevereiro de 2019. Mas, após a polêmica com o BNDES, que é o maior acionista minoritário, tudo ficou suspenso, enquanto uma nova formação de conselho de administração da empresa trabalhava. Um grupo com seis conselheiros considerados independentes montou um grupo para produzir material comparativo que desse suporte — ou não — ao valor negociado pela administração da Klabin com os acionistas controladores.

No fim de tudo, já com um novo acordo aprovado, houve uma negociação direta entre os controladores e o BNDES que reduziu o valor de pagamento pela marca e colocou dentro de termos que o banco de fomento considerava mais adequado.

Próximo grande ato esperado para a empresa é sua migração para o Novo Mercado. Contudo, não há nada nos planos de curtíssimo prazo. Esse é o desejo dos investidores. A Klabin tem a questão mapeada e já se comprometeu a, quando fizer a adesão, converter cada ação preferencial em uma ordinária, sem desconto.

Para o curto prazo, o que está no radar é a tão esperada venda da participação do BNDES, de 7,5% do capital total, em ordinárias e preferenciais, o que equivale a aproximadamente 2 bilhões de reais. O banco estatal está em busca de instituições para conceder o mandato para a operação e gostaria de ir para rua com a garantia firme de alguns compradores, para evitar um desconto muito grande nos papéis.

Em termos de liquidez relativa, essa transação é maior que a venda de 8 bilhões de reais em ações da Vale. No caso da Klabin, a posição equivale a aproximadamente 14 dias de pregão, em volume financeiro, enquanto que o block trade da Vale correspondia a 3 pregões da mineradora.

Acompanhe tudo sobre:BNDESCVMGovernançaKlabinVale

Mais de Exame IN

Fim da guerra da cerveja? Pelas vendas de setembro, a estratégia da Petrópolis está mudando

“Equilíbrio fiscal não existe, mas estamos longe de uma crise”, diz Felipe Salto

Mais Porto, menos Seguro: Diversificação leva companhia a novo patamar na bolsa

Na Natura &Co, leilão garantido e uma semana decisiva para o futuro da Avon