Nicolas Szekasy, Nicolas Berman e Hernan Kazah, sócios da Kaszek Ventures: em dez anos, companhia havia captado US$ 1 bilhão (Kaszek Ventures/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 24 de maio de 2021 às 12h32.
Última atualização em 24 de maio de 2021 às 12h33.
Há dez anos atrás, quando Hernan Kazah e Nicolas Szekasy deixaram o Mercado Livre para fundar uma gestora de venture capital para investir em startups na América Latina, eles não imaginavam que o mercado de inovação na região estaria no patamar atual. “Pensávamos que haveria um unicórnio ou outro, mas não empresas do porte do Nubank, avaliadas em US$ 20 bilhões”, diz Kazah em entrevista exclusiva ao EXAME IN, no Brasil. Prestes a completar o décimo aniversário em junho, a Kaszek Ventures conquista uma marca importante: a companhia acaba de captar US$ 1 bilhão para investir em startups latino-americanas por meio de dois novos fundos de US$ 475 milhões e US$ 525 milhões.
O maior fundo, de US$ 525 milhões, é o Opportunity II, exclusivo para investimentos em empresas mais maduras que já estão no portfólio da Kaszek — o plano é fazer aportes em cerca de 10 a 15 companhias. Já o fundo de US$ 475 milhões, batizado de Kaszek Ventures V, é um veículo para investir em aproximadamente 30 startups iniciantes (seed, series A ou B) e é o maior do tipo já levantado na América Latina.
Sem âncoras, os fundos receberam capital de fundações internacionais, universidades, investidores de tecnologia e outros empreendedores. “Acreditamos que a Kaszek se estabeleceu solidamente como a principal marca de capital de risco da América Latina, atraindo as empresas mais promissoras e os empreendedores mais talentosos”, diz, em nota, Kevin Slemp, diretor da Sequoia, que é investidora na Kaszek desde 2011.
Desde sua fundação até então, a Kaszek tinha captado US$ 1 bilhão de dólares. A última captação da empresa havia sido em 2019, quando levantou US$ 600 milhões. Segundo Kazah, o objetivo da firma era voltar ao mercado só em 2022, mas a alta demanda durante de investimentos durante a pandemia fez os sócios adiantarem os planos. "Quando vimos que estávamos chegando ao final da formação do portfólio inicial do fundo IV, decidimos levantar dois novos fundos de US$ 400 milhões, mas acabamos tendo uma demanda muito maior, de bilhões de dólares", diz o sócio.
Além do fato de ser formada por ex-fundadores e executivos do Mercado Livre, a Kaszek ficou famosa no mercado por ter sido uma das primeiras investidoras do Nubank, quando David Vélez, presidente da companhia, ainda estava em busca de sócios fundadores. “Kaszek investiu no Nubank quando era apenas um PowerPoint e provou ser uma parceira que agrega muito valor desde os primeiros dias até hoje”, diz Velez. De 2011 para cá, a firma de venture capital se consolidou como uma das investidoras mais ativas da região e acumula em seu portfólio, além do banco digital, os unicórnios MadeiraMadeira, QuintoAndar, Gympass, Loggi, Creditas, PedidosYa, Kavak e Bitso. No total, a firma fez mais de 90 investimentos e hoje tem cerca de 70 startups ativas no seu portfólio.
Com os novos fundos, Szekasy, Kazah e os sócios Nicolas Berman, Santiago Fossatti, Andy Young e Mariana Donangelo dizem que vão continuar com a mesma estratégia de investimento dos últimos 10 anos. "Continuamos pensando que estamos no começo. O mercado está mais maduro, com mais penetração no mundo tecnológico, mas ainda é bastante pequeno quando comparamos com China e Estados Unidos", diz Kazah. A empresa diz que 80% das suas decisões de aportes são com base na qualidade do time de fundadores das startups — que precisam atuar em mercados grandes e que usem tecnologia para construir suas soluções.
Em termos de setores, as principais apostas continuam em finanças, educação, saúde e e-commerce. “Tudo hoje é fintech, mesmo os negócios de venda de carro acabam oferecendo crédito. A diferença é que no começo havia muitos projetos voltados ao consumidor final. Agora, vemos surgir as primeiras soluções para pequenos negócios e estamos começando a explorar a área de infraestrutura. Acredito que vamos ver muita coisa nessa frente”, afirma o cofundador.
Segundo apurou o EXAME IN, o primeiro fundo da Kaszek, de US$ 95 milhões, tem quase 19 vezes de retorno em dólares. O último, de 2019, que ainda está investindo, está com retorno de mais de três vezes. A captação de US$ 1 bilhão é reflexo desse trabalho da empresa na última década — de acordo com levantamento da Associação Latino-Americana de Private Equity e Venture Capital (Lavca), o total levantado pela Kaszek é maior que todas as captações de fundos da América Latina em 2020, que somaram US$ 779 milhões.
Além disso, a captação demonstra a força que o setor de tecnologia da região tem para atrair capital estrangeiro mesmo em meio a uma crise sanitária e econômica. Os dados do último ano davam pistas nesse sentido. Só em 2020, as empresas da região receberam mais de US$ 4 bilhões em aportes, com destaque para as rodadas de Creditas, dLocal, Kavak, Loft, MadeiraMadeira e Vtex, que foram avaliadas em mais de US$ 1 bilhão e se tornaram unicórnios.
“Em dez anos, vimos uma atividade inacreditável. Mas tudo que vimos até agora não vai ser nada comparado ao que virá. Há dez anos, as maiores companhias da região eram as tradicionais. Hoje, as de tecnologia estão começando a despontar. Em três anos, 100% das maiores vão ser tech e todos os estudantes recém-formados vão querer trabalhar nelas. Acreditamos que com a tecnologia podemos começar a resolver parte dos problemas da região”, afirma Kazah. Para o investidor, o desafio da Kaszek é continuar construindo uma firma de investimento que seja parceira dos empreendedores para que daqui a 50 anos, quando ele e Szekasy estiverem aposentados, o negócio rode sozinho. "Estamos trazendo pessoas que tenham paixão pelo que estão fazendo, acreditem na tecnologia e entendam que o líder é realmente o empreendedor", afirma.
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