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João Cox: alto escalão tem o dever de cortar próprio salário na crise

Além de redução para quem usou MP 936, conselheiro defende que empresas revejam metas para pagamento de bônus

João Cox: Companhias devem ajustar metas para bônus a partir de abril e maio para manter alinhamento (Divulgação/Divulgação)

João Cox: Companhias devem ajustar metas para bônus a partir de abril e maio para manter alinhamento (Divulgação/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 28 de maio de 2020 às 10h02.

Última atualização em 28 de maio de 2020 às 10h52.

Executivos e conselheiros de administração de companhias que adotaram redução de salários e jornadas para funcionários, como permite a MP 936, têm o dever moral de também cortar seus próprios pagamentos, durante a crise da pandemia do novo coronavírus. A opinião é de João Cox, que atua em conselhos de empresas tão diversas quanto Embraer, Petrobras, Braskem, Linx e Vivara, e participou ontem de uma transmissão ao vivo da série Exame Talks.

Na avaliação de Cox, que é conselheiro há 27 anos,  é importante que as empresas atualizem os pacotes de remuneração de seus executivos, especialmente a parcela variável – os bônus por desempenho.  Isso independentemente da adoção do corte para funcionários. “De forma geral, o que estou vendo é que as companhias vão fazer um pagamento pró-rata até abril ou maio, de acordo com as métricas antigas, e a partir de então estão atualizando os programas”. É importante, segundo ele, que os executivos possam se manter alinhados aos objetivos do negócio. “As metas não podem ficar inatingíveis.”

Contudo, ele disse não ter vivido situações de alteração no plano de opções de ações das empresas, até o momento. “São ferramentas desenvolvidas para o longo prazo. O que o executivo não conseguir ganhar nesse ano, porque as ações caíram na bolsa, será naturalmente compensado no ano que vem. O preço de aquisição desse 2020 vai refletir essa baixa e permitir a compra de papéis mais baratos.”

A pandemia modificou a rotina dos conselhos de administração e está demandando muito mais trabalho e encontros, contou ele. Essa crise também reforçou a importância da diversidade de conhecimento dentro dos colegiados.

“Tradicionalmente, membros de conselhos têm idade mais avançada e ficou evidente a falta de conhecimento tecnológico. Somos de uma geração que usa a tecnologia, mas não nasceu com ela. É muito diferente”, comentou, ao abordar que muitas companhias tiveram de acelerar planos digitais. “É como diz um amigo meu: entramos em uma cápsula do tempo e chegamos no futuro.” Nesse sentido, acredita que os conselhos no Brasil ainda precisam avançar muito na complementariedade das competências.

Em meio à crise, quando o caixa é rei, Cox acredita que os conselhos não devem ter uma receita única. É preciso, na opinião dele, avaliar as decisões sobre dividendos e recompras de ações conforme a realidade de cada negócio. Contudo, ele defendeu de forma enfática que empresas que recebam auxílio do governo fiquem proibidas de pagar recursos aos acionistas. Também acredita que caiba uma medida de governo no sentido de coibir dividendos para setores essenciais e de infraestrutura, como concessões, a exemplo do que o Banco Central fez com as instituições financeiras.

Confira aqui a íntegra da conversa, que teve a participação de Renato Mimica, diretor do Exame Research.

 

 

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