Touro de Wall Street: JBS seria elegível a S&P 500 seis meses após a listagem (Arte/Exame)
Publicado em 18 de março de 2025 às 12h49.
Última atualização em 18 de março de 2025 às 17h26.
A longamente aguardada listagem da JBS nos Estados Unidos ficou mais próxima, com a notícia de que a controladora J&F entrou em acordo com o BNDESPar sobre a operação.
As ações da multinacional de alimentos reagiram com euforia e subiram quadse 18% no pregão de hoje na B3, se aproximando da máxima histórica – e denotando o potencial de valorização visto pelo mercado no processo.
Mas o quanto uma mudança na listagem principal, do Brasil para os Estados Unidos, pode destravar de valor para a companhia? Obviamente, ninguém crava um número, mas a resposta é: muito. E a alta de hoje pode ser só o começo.
A resposta está no gap de valuation entre a JBS e pares internacionais, como a própria Pilgrim’s Pride, operação de carne de frango da companhia listada na bolsa americana, e principalmente a Tyson Foods.
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Nas contas do Itaú BBA, a JBS negocia hoje a 5,2 vezes, considerando o valor de empresa sobre o EBITDA, contra 6 vezes da Pilgrim’s Pride e um múltiplo de 8 vezes da Tyson. Cada re-rating equivalente a 0,5 vez esse múltiplo destravaria 22% de valor em equity.
Ou seja: se alcançar o patamar da Pilgrim’s, há um potencial de alta de 35% em cima dos resultados atuais. Caso chegue ao patamar da Tyson, ação pode mais que dobrar de valor, nos cálculos do banco.
O Safra vai numa direção parecida. Avaliando os múltiplos das concorrentes, o banco vê um potencial de valorização de 98% caso a JBS chegue ao valuation médio de 7,1 vezes da Tyson, Smithfield e Pilgrim’s Pride.
“Além disso, uma redução de múltiplos nos parece muito improvável na nossa opinião, o que limita ainda mais o cenário de baixa”, pondera a equipe liderada por Ricardo Boiati.
O BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) também prevê uma valorização expressiva com o sucesso da dupla listagem.
“A JBS negocia com um gap histórico em relação a Tyson Foods, apesar de ser maior e mais diversificada”, escreve o analista Thiago Duarte.
A negociação das ações nos Estados Unidos ajudaria a fechar esse intervalo, reduzindo riscos de governança atrelados ao Brasil e também ampliando a base de investidores. Apenas o potencial de investidores passivos, que seguem índices, já teria o potencial de trazer um fluxo relevante de recursos para a companhia.
Pelo seu porte, a JBS já nasceria na bolsa americana dentro do Russell 1000, das mil maiores empresas da Bolsa e em seis meses seria elegível para entrar no S&P 500.
Mas acredita que um re-rating em etapas, que será tão mais expressivo e longevo dependendo do caminho da multinacional brasileira em direção a alimentos preparados.
“Não acreditamos que a listagem, sozinha, vai impulsionar um re-rating massivo. A Tyson negociava a múltiplos próximos da JBS até 2014, quando comprou a Hillshire Brands, aumentando significativamente sua exposição a alimentos preparados, de maior margem”, diz o banco. “Isso impulsionou a rentabilidade e levou a uma expansão de múltiplos.”
Com uma desalavancagem bem mais rápida que o esperado pelo mercado, a companhia já começou a olhar mais ativamente para M&As.
E o apetite deve crescer com o acesso ao mercado americano, onde é possível ter uma estrutura de ações com super-voto, que permite a JBS captar com emissão de ações sem diluir os Batista.
O acordo da J&F com o BNDES coloca a JBS mais próxima do que nunca da dupla listagem. Segundo fontes próximas à companhia, a expectativa é fazer a listagem na Nyse – e consequente negociação no Brasil por meio de BDRs – até setembro deste ano.
O braço de participações do banco de fomento era visto como um dos empecilhos potenciais para a transação – e chegou a se opor à primeira tentativa da companhia em 2016.
Agora, fechou um acordo com a holding dos Batista, que está garantindo uma remuneração mínima de até R$ 500 milhões caso as ações da JBS não tenham uma valorização mínima estipulada entre as partes (e confidencial) até dezembro de 2026.
Em troca, o BNDESPar vai se abster de votar, deixando os minoritários tomarem a decisão – e como mostra o price action de hoje, o free float é favorável ao processo.
“Além de pavimentar o caminho para a Bolsa, o acordo remove um risco que pairava sobre as ações da JBS se que o BNDES vendesse suas ações antes da listagem, trazendo um overhang importante para o papel”, ponderou o BTG.
Ainda há alguns riscos para a operação, como a Securities and Exchange Comission (SEC) não aprová-la.
Riscos ambientais e de governança foram um ruído importante nos últimos anos, mas eles vêm diminuindo. “Com a mudança de governo, a agenda ESG não é mais a mesma”, pondera uma fonte que acompanha de perto a companhia.
De toda forma, os papéis da JBS seguem como top pick para os principais analistas de sellside, a despeito da dupla listagem, que ainda é considerada uma opcionalidade.
Com bom momento das operações, o BTG vê preço-alvo de R$ 48 por ação para os próximos 12 meses, enquanto o Safra tem projeção de R$ 52 – potencial de alta de 26,4% e 37% já sobre a forte valorização de hoje.
A companhia divulga seus resultados fechados de 2024 no próximo dia 25.