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JBS: com recompra bilionária de ações, Batista retomam controle absoluto

Companhia investiu R$ 10,6 bilhões em suas próprias ações em 2021 e já lançou novo pacote

Carne: preços no mercado americano levaram empresa à resultados recordes (Getty Images/Getty Images)

Carne: preços no mercado americano levaram empresa à resultados recordes (Getty Images/Getty Images)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 22 de março de 2022 às 15h27.

Última atualização em 22 de março de 2022 às 16h19.

A JBS anunciou um novo programa de recompra de ações, junto com o mega balanço de 2021. Mais uma vez, no limite permitido pelas regras: 10% do capital em circulação ou 116 milhões de papéis. Esses programas, além de deixarem o investidor satisfeito, estão permitindo que pouco a pouco a família Batista caminhe para recompor o controle majoritário na empresa.

Há cerca de dois anos, os Batista tinham pouco mais de 41% do capital. Atualmente, esse percentual está em 45,5%. E, se a recompra lançada ontem à noite for plenamente executada e as ações canceladas (junto com o saldo atual em tesouraria), a família vai quase encostar em 51% do capital total. De volta ao controle absoluto.

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Na prática, a própria JBS está se tornando uma compradora natural para o desinvestimento do BNDES da empresa. A fatia do banco de fomento, que já foi de maior que 22%, está agora abaixo de 19,5%. Considerando que a última venda de papéis foi em 16 dezembro, por meio de um block trade que movimentou R$ 2,7 bilhões, o banco já está livre para voltar a se desfazer dos papéis.

No ano passado, a empresa investiu R$ 10,6 bilhões em recompras e pagou R$ 7,4 bilhões em dividendos.

A movimentação da JBS é uma típica situação de como o empresário brasileiro sabe fazer de um limão, uma limonada. Avaliada em R$ 85,5 bilhões na B3, a companhia é negociada atualmente a cerca de 3,5 vezes o Ebitda estimado para 2022.

O múltiplo é cerca de metade do indicador da Pilgrim’s Pride Corporation (PPC), sua controlada nos Estados Unidos. Não espanta, portanto, que a JBS tenha desistido da oferta que faria para fechar o capital da empresa americana, depois que os acionistas minoritários seguiram pedindo um preço maior do que o ofertado pela controladora brasileira.

É como se os Batista, portanto, seguissem ampliando o investimento no seu próprio negócio, mas com um desconto de 50%. Essa é mais ou menos a troca ao deixar de comprar papéis da PPC e adquirir mais da companhia aqui no Brasil.

No mercado, a JBS sofre um desconto de governança relevante desde 2017. De alguma maneira, esse deságio acaba tornando mais fácil, lógica e racional as recompras de ações. O novo programa divulgado ontem foi comentado como uma boa nova, nos relatórios de analistas que acompanham a empresa.

Durante a teleconferência realizada hoje, dia 22, a companhia falou sobre retomar os esforços para uma reestruturação que culminaria com a listagem do negócio nos Estados Unidos. Esse trabalho, contudo, não é simples justamente porque o passado da empresa pesa sobre o escrutínio da qual é alvo na Terra do Tio Sam, a despeito de toda evolução e esforço para melhoria em suas estruturas de governança — e isso vai de controles internos sobre as contas até programas de sustentabilidade. Atualmente, dos nove membros do conselho de administração, por exemplo, sete são independentes.

A expectativa para uma listagem na Nyse, portanto, é que dificilmente conseguiria ser concluída ainda dentro de 2022. Para os acionistas, uma boa notícia. Enquanto o cenário americano de preço elevado da carne perdurar (e tem durado), significa dividendos parrudos e recompras que ajudam a sustentar o preço das ações.

O cenário americano levou a JBS para um novo patamar de faturamento. Foram R$ 350 bilhões em 2021, deixando a empresa atrás apenas da Petrobras, entre as não financeiras, mas à frente até mesmo da Vale. Em valor de mercado, a empresa está na 15ª posição na B3, rivalizando o posto com a Telefônica Vivo. Excluídos os bancos, a companhia sobe para a 10º lugar nesse ranking.

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