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Itaú: venda de 5% do capital paga, e ainda sobra, todo investimento na XP

Em menos de dois anos, realização de 10% da posição pode pagar todo investimento do Itaú Unibanco na XP feito em 2018

Itaú: se mercado fosse apenas soma de partes, XP representaria 30% do valor do banco na bolsa (Sergio Moraes/Reuters)

Itaú: se mercado fosse apenas soma de partes, XP representaria 30% do valor do banco na bolsa (Sergio Moraes/Reuters)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 3 de novembro de 2020 às 21h56.

Última atualização em 3 de novembro de 2020 às 22h29.

O Itaú Unibanco está pensando no que fazer com sua participação na XP Investimentos. Não é para menos. Desconsiderada toda e qualquer discussão sobre conflito de interesses, brigas e estratégia, se o banco vender agora uma fatia de 5% da empresa — como anunciou estar avaliando fazer — pode pagar e ainda lucrar todo o investimento que fez há pouco mais de dois anos atrás. A XP Inc, listada na Nasdaq, vale agora 24,14 bilhões de dólares ou quase 138 bilhões de reais. O Itaú Unibanco inteiro, com 46,5% da XP dentro, está avaliado em 223 bilhões na B3.

Essa participação diminuta equivale hoje a 1,2 bilhão de dólares, ou cerca de 6,8 bilhões de reais. Quando comprou 49,9% da companhia fundada por Guilherme Benchimol — leia-se, metade da XP —, o Itaú desembolsou um total de 6,3 bilhões de reais. Pagou 5,7 bilhões de reais para acionistas da empresa e aportou 600 milhões de reais em dinheiro novo.

Mas nem nos melhores prognósticos do banco o retorno viria dessa forma. O movimento, a depender do dia e do câmbio, pode até gerar lucro. Atentem: 5% de hoje pagam 50% de ontem e ainda sobra um troco.  Hoje, 3 de novembro de 2020, esse troco seria de quase 500 milhões de reais

O investimento do Itaú na XP foi anunciado em maio de 2017, mas levou tempo sob análise do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e do Banco Central (BC), que foi quem efetivamente acabou impondo restrições à transação. O negócio mesmo acabou efetivado só em agosto de 2018.

Com o movimento anunciado nesta terça-feira, dia 3 — um estudo, ainda não uma decisão -— a Itaúsa, da família Setúbal, e a holding IUPar, onde os Moreira Salles têm 33,5%, assumiriam o “controle” da fatia de 41% da XP (pós-venda parcial), um ativo de nada menos do que 10 bilhões de dólares ou o equivalente a mais de 57 bilhões de reais em valores atuais.

Recapitulando: no fim da tarde, o Itaú anunciou que estuda colocar as ações que tem na XP dentro de uma holding e distribuir essa casca com a participação no negócio de Benchimol dentro, exclusivamente, aos seus acionistas. Considerando que Itaúsa e IUPar somam 46% do capital total da Itáu, eles devem replicar isso na holding que terá a aposta na XP Investimentos. O banco, por sua vez, sai de campo e deixa de ser o acionista dessa empreitada.

O movimento do Itaú, ao mesmo tempo, permite que  o grupo mantenha intacta sua fatia na empresa — exceto a possível realização de 5% — e que os seus acionistas capturem melhor o valor da XP Investimentos. Atualmente, o investimento é refletido de forma inadequada no valor da instituição na bolsa — é unânime a constatação. Se a teoria de soma de partes fosse perfeita, seria como dizer que a XP representa atualmente quase 30% do valor do Itaú Unibanco na B3..

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