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Itaú terá fundo ESG de R$ 1 bi e vai triplicar categoria no Brasil

Primeira carteira ESG dedicada terá versão fundo e previdência e outros produtos temáticos estão no forno

Investimento ESG: categoria representa apenas 0,12% de toda indústria de fundos no Brasil (Thithawat_s/Getty Images)

Investimento ESG: categoria representa apenas 0,12% de toda indústria de fundos no Brasil (Thithawat_s/Getty Images)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 21 de agosto de 2020 às 14h51.

Última atualização em 21 de agosto de 2020 às 15h24.

Quando o Itaú, o maior banco privado do país, chega nas coisas não é para brincar. Os valores são todos de impressionar. A casa prepara agora um portfólio de produtos de investimentos que se guiará por fatores ambientais, sociais e de governança — a sigla cada vez mais conhecida ESG — aplicados de forma restritiva. Ou seja, o dinheiro só poderá ser investido em empresas que tiverem aderência completa a uma análise guiada por tais critérios. O primeiro será um fundo ESG com capacidade de 1 bilhão de reais. Essa carteira estará disponível em duas versões, como fundo de ações e como previdência privada.

É o primeiro produto com plano bilionário da indústria de investimentos no Brasil dedicado à temática ESG a ser lançado. O objetivo é que seja bastante acessível para todos os tipos de bolso que o banco atende e o tíquete de entrada deve variar entre 100 reais e 1.000 reais. A expectativa é que a alocação seja distribuída entre 20 e 30 papéis.

O volume pretendido para a carteira do Itaú é quase o dobro do que soma o patrimônio de todos os fundos dessa categoria já existentes hoje no país. Dados da Anbima apontam que os portfólios de ações ESG totalizavam 543 milhões de reais em patrimônio ao fim de junho — apenas 0,12% do patrimônio de todos os fundos de ações existentes no Brasil, que somam 465 bilhões de reais. Embora seja a menor categoria de todas, é a que mais cresceu no último ano: 26% ante 16% do total. Sozinho, o novo fundo fará esse segmento triplicar de tamanho.

É crescente o número de gestoras que integram de forma mais abrangente os fatores ESG a toda a análise de investimentos, como foi o caso recente da JGP Investimentos, tradicional casa fundamentalista original do Rio de Janeiro. Assim como a pandemia acelerou a digitalização do comércio, não resta dúvida que trouxe grande força para a percepção de valor às questões ESG. Mas, em geral, os planos de largada para os novos produtos não chegam à casa do bilhão em solo nacional. A Europa é o mercado mais desenvolvido nessa temática e, nos Estados Unidos, o assunto ganhou tração apenas no ano passado.

Na Europa, enquanto a indústria de fundos sofreu resgates que totalizam 165 bilhões de dólares no primeiro trimestre, os fundos com a temática ambiental, social e de governança captaram mais de 33 bilhões de dólares. Para ter uma ideia, é mais do que os 20 bilhões de dólares captados pelas carteiras temáticas nos Estados Unidos durante todo o ano passado. Os dados constam de um documento organizado pela própria Itaú Asset Management. Trata-se de um mercado em expansão praticamente nos quatro cantos do mundo. De acordo com pesquisa realizada pela MorningStar, a indústria global de fundos ESG alcançou, pela primeira vez, 1 trilhão de dólares, no fim de junho.

O 1 que vale por 700

Mas, não bastasse o tamanho comparativo do Itaú no Brasil, esse 1 bilhão de reais terá peso de 760 bilhões de reais, que é o total sob gestão nas carteiras de toda a Itaú Asset Management — o que inclui também os fundos de crédito, ou seja, aqueles que compram dívida e participam da cadeia de financiamento das empresas. Os fatores ESG são considerados na análise de risco de crédito pela casa desde 2014.

O presidente da Itaú Asset Management, Rubens Henriques, destacou em entrevista ao EXAME In que todas as vezes que a casa faz uma análise ou toma uma decisão, toda a gestora é impactada por esse movimento. “Cada vez que nos engajamos com alguma companhia, isso tem o peso de todo nosso patrimônio”, enfatiza. Dos 760 bilhões de reais investidos, apenas 125 bilhões são em fundos ou produtos passivos.

Henriques explicou que a Itaú Asset já considera fatores ESG de uma forma transversal em todas as carteiras. A gestora foi a primeira no Brasil a adotar os Princípios de Investimento Responsável (PRI), ainda em 2008. A questão da excelência social, por exemplo, passou a ser incluída na avaliação quatro anos antes disso.

No caso do novo fundo, não haverá um benchmark, segundo o executivo. Na prática, significa que não precisará ficar preso a metas ligadas ao Índice Bovespa ou outros indicadores. Também é possível que sejam organizados produtos temáticos, por exemplo, dedicados à energia renovável, ou de impacto positivo, ou até com foco em saúde e habitação. “No longo prazo, não vou ser eu, gestor, que terei de dizer que sou ESG. A empresa é que vai ter de prestar satisfações de por qual razão não é.” No mercado brasileiro, de acordo com Henriques, ainda é um desafio fazer produtos grandes. É um fluxo que, aqui no Brasil, ainda não aconteceu na mesma proporção que no mercado internacional.

Um dos desafios dessa indústria de produtos é que não há nenhuma padronização. Mas a lógica não é diversa de como cada gestora já faz sua própria seleção de investimentos de forma geral — cada qual tem uma sistemática particular de avaliação. No caso do Itaú, a equipe aplica uma metodologia que consegue atribuir um valor às questões analisadas nas empresas.

Embora Henriques se dedique a explicar e diferenciar a estratégia da Itaú Asset, reforça que é positivo para todos a ampliação dessa categoria e que é importante para o mercado ter uma quantidade maior de produtos com esse perfil. "Não vejo como competição. É bom para todos."

 

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