iFood: Das entregas de restaurantes e mercado a vale refeição e banco (Foto: Divulgação/iFood) (iFood/Divulgação)
Editora do EXAME IN
Publicado em 7 de abril de 2024 às 12h46.
Última atualização em 8 de abril de 2024 às 11h06.
Cambridge, Massachusetts* – Num mercado em que players internacionais nadam de braçada, o iFood é um dos casos mais notórios de empresas de tecnologia construídos no Brasil e para o Brasil.
Fundada há 10 anos, a plataforma saiu de 10 para 6 mil funcionários e hoje processa quase 90 milhões de pedidos por mês. E, nesse caminho, já foi várias empresas.
“O iFood é uma coisa que se reinventa completamente a cada seis meses”, afirmou o CEO e fundador Fabricio Bloisi a uma plateia entusiasmada no Science Center de Harvard, onde aconteceu a Brazil Conference.
“Do que mais me orgulho não é da ideia [de negócio]. A ideia foi boa, mas se não tivéssemos mudado inúmeras vezes, empresa tinha diminuído, e não crescido como cresceu.”
O segredo por trás do crescimento está no que Bloisi chama de “ambidestria”. De um lado uma disciplina forte de execução, com medição e acompanhamento obsessivo dos resultados – Ambev style, como ele mesmo fez questão de frisar, dando os créditos a Jorge Paulo Lemann, que sentava na primeira fileira da palestra.
De outro, uma obsessão por inovação.
“Somos uma empresa de startups. Temos 20, 30, pequenas startups de cinco, dez pessoas dentro do iFood, correndo, testando um monte de coisa, com tudo dando errado, e tudo bem. Porque o objetivo é aprender, andar rápido, descobrir o que tem de novo. Testar de novo. Ajustar, ajustar, ajustar o mais rápido possível”.
E continua. “Mas mesmo sendo loucamente inovador, é preciso ter disciplina. Juntar todo mundo, colocar as metas, lembrar, dizer quem está indo bem, quem está indo mal, ajustar a empresa, tirar algumas pessoas, investir mais em outras”, disse numa conversa mediada pelo publicitário Nizan Guanaes, com quem compartilha não só a personalidade energética e o sotaque, mas a data e o local de nascimento.
(Ambos são soteropolitanos de 9 de maio, separados por pouco mais de duas décadas.)
Nascido para conectar restaurantes com os consumidores, foi apenas há cinco anos que o iFood começou a ter uma rede de entregadores próprios – em grande parte para suprir a parte logística que muitos estabelecimentos não conseguiam fazer.
Hoje, são 350 mil entregadores na plataforma. Ainda assim, essa é a menor fatia do negócio: 60% dos pedidos ainda chegam nas casas dos consumidores via motoboys dos próprios restaurantes. A plataforma também trabalha com entregas de mercado.
“O iFood são hoje três grandes negócios, e a gente está criando mais cinco ou seis que estão sendo desenvolvidos neste momento”, contou, andando de um lado para o outro no palco, no maneirismo característico de quem não consegue ficar parado.
Bloisi dá dois spoilers: a companhia está avançando também para vale-refeição e como banco dos restaurantes, entrando em empréstimos e capital de giro.
E dois conselhos aos estudantes, empreendedores e empresários presentes.
O primeiro é sobre velocidade das mudanças tecnológicas:
“Muita gente tem se questionado: o mundo está andando rápido demais? Esqueçam essas perguntas: o mundo vai andar mais rápido. Tudo vai mudar. E se o iFood não tiver pronto para reconstruir como o nosso negócio inteiro funciona em 2, 3, 4 anos, a gente vai perder espaço e outra empresa vai passar por cima da gente”.
O segundo é consequência do primeiro: o Brasil precisa abraçar a agenda da tecnologia e não fugindo dela.
“O país vai ser mais eficiente, vai ter mais recursos, vai distribuir eles melhor se a gente for um país eficiente que sabe surfar o próximo ciclo tecnológico.”
Ou, em outras palavras, ditas quase como um grito de guerra: “Joguem fora a síndrome de vira-lata”.
*A repórter viajou a convite da Brazil Conference