Fernando Goldsztein: tratamento inovador individualizado ainda precisa de doações para seguir avançando (Fernando Goldsztein/Exame)
Diretor de redação da Exame
Publicado em 22 de maio de 2025 às 14h01.
Última atualização em 22 de maio de 2025 às 17h12.
São dois pacientes que podem mudar o mundo. Ao menos, o mundo das 30 mil crianças que todos os anos recebem diagnóstico de meduloblastoma, um câncer cerebral fatal para 35% dos pacientes.
Este mês o The Medulloblastoma Initiative (MBI) recebeu a notícia que começaram os primeiros testes clínicos com dois pacientes. A expectativa é que até 18 crianças sejam selecionadas para um tratamento revolucionário que pode curar a doença dentro de um prazo esperado de até 18 meses.
O MBI é uma iniciativa do empresário gaúcho Fernando Goldsztein, conselheiro da incorporadora Cyrela.
Ele criou o projeto após receber a notícia que seu filho, então com 9 anos, foi diagnosticado com o meduloblastoma em 2015. Em 2019, o tumor voltou, derrubando a chance de cura para a casa dos 5%.
É para esse perfil de pacientes, os com reincidência do tumor, que Goldsztein e o MBI direcionaram seus esforços.
“A imensa maioria das iniciativas pela cura de doenças é feita como tributo a pessoas que morreram. O MBI foi criado para salvar meu filho e milhares de outras crianças", diz o empresário. "Por não ser um tributo, temos um senso de urgência diferente. Um ano ou dois fazem muita diferença”.
Entre a criação do MBI e o início dos testes com os primeiros pacientes se passaram pouco mais de 4 anos, menos da metade do tempo usual para este tipo de pesquisa científica.
O tratamento inovador do MBI é uma imunoterapia, que visa fortalecer o sistema imunológico da criança para atacar especificamente o DNA do tumor. É personalizado para cada criança, partindo da coleta de dados do tumor e dos linfócitos.
Além de ampliar as chances de cura, o novo tratamento reduz os efeitos colaterais. Quando Goldsztein começou a pesquisar o meduloblastoma, descobriu que os protocolos de tratamento eram dos anos 1980. Mesmo as crianças curadas ficavam com problemas de crescimento e cognitivos.
O MBI mobiliza empresas e doadores privados de todo o mundo para encontrar a cura da doença. A parte clínica é coordenada pelo médico Roger Packer, do Children's National Hospital, de Washington. Ele é responsável por liderar um consórcio com 14 laboratórios nos Estados Unidos, Canadá e Europa que trocam informações para acelerar os avanços.
É uma mudança relevante num setor em que laboratórios frequentemente duplicam esforços enquanto protegem seus dados, retardando descobertas que poderiam salvar vidas. "No MBI, cada um tem uma peça do quebra-cabeça, com informações divididas. Este modelo de pesquisas é diferente do usual, e pode servir como um novo protocolo para a possível cura de outras doenças", diz Goldsztein.
Neste contexto, o começo dos testes do MBI pode ser um marco. “Estamos no limiar de uma nova era do tratamento do câncer cerebral infantil”, projeta o Dr. Roger Packer. “Em cinco anos, acredito que teremos terapias inovadoras e personalizadas que podem transformar um diagnóstico altamente devastador em uma condição mais tratável, com melhores taxas de sobrevivência e qualidade de vida.”
As duas crianças que já começaram seu tratamento, e mais milhares de crianças diagnosticadas com a mesma doença do Frederico, aguardam ansiosamente por esta nova era.
***Para doar para o The Medulloblastoma Initiative, acesse o site https://mbinitiative.org/pt/