O balanço do primeiro trimestre do Bradesco serviu de termômetro do impacto que o coronavírus pode ter sobre o setor financeiro e, portanto, sobre a economia. O banco teve a pior rentabilidade de seus últimos 20 anos, segundo série histórica da Bloomberg.
O motivo? A expectativa de perdas com inadimplência.
A despesa com a chamada provisão para devedores duvidosos (PDD) alcançou 6,7 bilhões de reais no primeiro trimestre. O salto foi de 68,5% na comparação com o número do quarto trimestre, ou um adicional de 2,7 bilhões de reais. O percentual do que o banco espera perder no trimestre em relação a todos os créditos concedidos subiu de 2,6% para 4,1%.
O incremento na inadimplência esperada é a principal explicação para o lucro da instituição ter caído cerca de 40% tanto na comparação anual quanto em relação ao trimestre anterior, para 3,75 bilhões de reais no intervalo de janeiro a março.
Com isso, o retorno sobre patrimônio, denominado pela sigla em inglês ROAE e um dos indicadores mais usados quando o assunto é banco, teve forte queda: de 21,2% para 11,7%. De forma simplista, indica quanto do capital empregado pelo banco se transformou mesmo em lucro.
Quem achou ruim, precisa saber que pode piorar. O Bradesco já sabe e já avisou. Isso tudo foi o que deu para perceber com os primeiros 15 dias da crise no Brasil, pois o balanço do primeiro trimestre inclui apenas duas semanas de aumento das preocupações com a pandemia.
O presidente da instituição, Octavio de Lazari, acredita que o pico da crise do coronavírus será pior do que foram as de 2008 e de 2016. “Essa crise não afeta setores específicos, mas a todos.”
O comportamento do crédito e da tal da PDD reinaram como temas absolutos da teleconferência que o banco promoveu para falar do balanço, conduzida pelo executivo.
“A nossa experiência com crise aponta que, descontado esse momento inicial de busca de liquidez pelas companhias, a demanda por crédito vai cair e a inadimplência vai aumentar. Essa é só nossa melhor fotografia. Mas é bastante possível que novos ajustes sejam necessários nos próximos trimestres”, afirmou ele. O tamanho deles vai depender basicamente da ciência: se tem remédio e vacina para dar mais confiança à população e conter os estragos na economia.